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Presidente do Conselho Diretor da ABAL reforça compromisso com a sustentabilidade

Segundo Otávio Carvalheira, a Associação tem boas práticas empresariais como meta e mira questões que atrapalham o desenvolvimento do setor

Otávio Augusto Rezende Carvalheira, presidente da Alcoa Brasil, foi eleito o novo presidente do Conselho Diretor da Associação Brasileira do Alumínio (ABAL) para o biênio 2020/2021.

O executivo assume o posto em um momento importante: a Associação completa 50 anos de existência neste ano, e o setor do alumínio tem desafios significativos para ser cada vez mais competitivo, inovador, sustentável e integrado.

Em entrevista ao portal Revista Alumínio, Carvalheira apontou as perspectivas de crescimento e comentou temas importantes: a possível revogação da Lei Kandir, o alto custo energético no País e a importação de produtos acabados e semiacabados da China.

Com foco na sustentabilidade, uma das metas do presidente do Conselho Diretor é que as empresas associadas sejam reconhecidas por boas práticas empresariais. Outro desejo é destacar o valor que o setor gera para a sociedade brasileira. Acompanhe a entrevista:

Revista Alumínio – Qual é o peso de assumir a presidência do Conselho Diretor de uma entidade tão relevante e no aniversário de 50 anos? E qual é o balanço que o senhor faz da atuação da Associação?
Otávio Carvalheira – É uma honra imensa ter essa oportunidade e o privilégio de ocupar uma cadeira por onde passaram ícones da indústria brasileira, e que sempre foi uma referência. Ao mesmo tempo, uma responsabilidade de fazer jus à confiança que me foi passada.

A ABAL goza de uma reputação forte em todos os ambientes onde transitamos. O fato de ela representar toda a cadeia do alumínio traz uma força que dificilmente é vista em outras associações. A entidade construiu um legado muito poderoso e isso tem sido reconhecido.

Por exemplo, fomos convidados recentemente para participar do Conselho Setorial de Mineração. Há ainda trabalhos voltados para a normatização de produtos, para educação e treinamento de profissionais. E, ao longo desses 50 anos, a ABAL prezou pela qualidade da informação disponibilizada para a sociedade. Mas a Associação vai além das fronteiras do Brasil e também representa a indústria brasileira do alumínio no International Aluminium Institute (IAI), que é um importante fórum do setor. É uma atuação e um histórico positivo que esperamos multiplicar por muitas décadas.

Quais são os principais objetivos da entidade nos próximos dois anos?
As ações da ABAL vêm sendo conduzidas de forma alinhada com a Rota Estratégica da Cadeia Brasileira do Alumínio 2030, documento elaborado pela ABAL e lançado em 2018, com apoio de diversos setores do País. Para este ano, alguns temas vão ganhar uma relevância ainda maior, como a sustentabilidade. Toda a nossa indústria busca a sustentabilidade ambiental, social e de seus negócios, visando a ter responsabilidade e impacto positivo onde atua. Daremos enfoque especial aos produtos de alumínio, divulgando o seu ciclo de vida dentro da visão de uma economia circular. Também precisamos promover educação e mostrar que o alumínio é parte da solução em termos de tecnologia e inovação.
Além disso, acompanharemos a regulamentação do mercado e disseminaremos o que a indústria faz em todas as etapas da cadeia, desde a mineração até a reciclagem, onde o Brasil é um exemplo.
Isso tudo sempre alinhado com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). Outro ponto fundamental é a articulação de atores – sociedade, poder público e tomadores de decisão – com foco no abastecimento de alumínio para indústria e na defesa comercial.

Notamos certo otimismo para 2020 em mercados consumidores do alumínio e a própria Confederação Nacional da Indústria (CNI) afirmou que o setor deve ser um dos alicerces de um crescimento maior do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. Qual é o balanço econômico que o senhor faz de 2019 e as perspectivas para 2020? 

Em 2019 o balanço foi positivo. As estatísticas ainda estão sendo fechadas, mas deve gerar um crescimento do segmento do alumínio acima de 5%, comparado ao ano anterior. É sempre bom lembrar que estamos voltando aos patamares de 2014, antes da crise.

Para 2020, a perspectiva também é positiva, porque a indústria de uma forma geral se beneficia do aumento de demanda, que vem a partir de uma estabilidade econômica, de inflação sob controle, e das taxas de juros historicamente baixas. Esse ambiente macroeconômico nos parece bastante promissor. Temos sempre uma cautela, uma vez que estamos expostos a situações imprevisíveis. Mas a previsão de crescimento do PIB é de 2% e, geralmente, o crescimento da demanda do alumínio é o múltiplo disso. É uma visão cautelosamente otimista e que merece uma preparação dos atores para atender ao aumento da demanda. 

O setor de mineração de bauxita enfrenta alguns desafios, como a discussão da revogação da Lei Kandir. Qual é o posicionamento da ABAL em relação ao tema?
A questão da Lei Kandir afeta não só o segmento de mineração, mas a indústria como um todo. É um tema bastante abrangente que temos acompanhado por meio da Associação, mostrando o impacto negativo que isso poderia trazer. Nenhum País no mundo, com os recursos existentes no Brasil, discute essa situação. Cobrar ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços] de uma exportação é tentar exportar o imposto, e o cliente global não vai pagar.

A carga tributária adicional seria absorvida pelo produtor, o que é absolutamente impossível de acontecer hoje. Isso pode inviabilizar as operações e, obviamente, o mercado de metal primário está exportando menos. Uma análise inicial feita pela ABAL mostra que o impacto para a nossa indústria seria da ordem de meio bilhão de dólares. Este assunto está dentro da nossa pauta de prioridades para 2020.

É possível mensurar o peso da possível inviabilização da indústria do alumínio, principalmente da mineração de bauxita no Brasil, para a economia local?
Isso varia de empresa para empresa. Eu posso dizer que em algumas das localidades onde as associadas operam, mais de 80% da economia gira em torno da atividade. É um impacto gigantesco. Estados como o Pará têm na cadeia do alumínio, e parte dessa cadeia é voltada para a exportação, uma das principais fontes de geração de empregos e impostos. O mesmo acontece no Maranhão e em São Paulo, que tem uma indústria bastante desenvolvida, menos exportadora que a do Norte.

O setor do alumínio muitas vezes opera em locais sem infraestrutura, com alto custo logístico e energético, além da carga tributária. Como a ABAL tem se posicionado perante as autoridades e a sociedade para discutir essas questões e tornar a indústria de alumínio cada vez mais competitiva para o mercado global?
Parte da indústria que está concentrada no Norte e Nordeste do País tem operações que investiram em infraestrutura portuária, por exemplo. A indústria, hoje, é uma das principais transportadoras de minério no sistema de cabotagem. É um mercado extremamente protegido e que traz um impacto significativo no custo para o produtor. No Sul e Sudeste, existe a dependência do transporte rodoviário. Esse é outro fator que prejudica bastante. Também precisamos trazer matéria-prima do Norte ou importada, passando pelos portos, que não estão no melhor da sua condição. Esses fatores, quando somados, trazem para o industrial produtor uma carga adicional de custo que diminui a competitividade. Aliado a isso, a questão tributária continua a ser um calo no desenvolvimento da indústria do País. A ABAL também deve colocar como prioridade neste ano o acompanhamento de todos esses debates da Reforma Tributária e tirar esses entraves dos investimentos no Brasil. Além disso, apoiamos o combate à sonegação e defendemos uma equidade nas condições de competição entre os vários atores do mercado.

Na abertura do último Congresso Internacional do Alumínio, realizado em 2018, o então Ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, reconheceu que o custo energético no Brasil é muito alto, porém, o assunto deveria ser discutido com o governo seguinte. A ABAL tem debatido esse tema em âmbito governamental?

A ABAL tem levado esse assunto para o Governo Federal. Em 2008, o País produziu mais de 1,5 milhão de tonelada de alumínio primário. Agora, esse número está próximo da metade. Foi uma queda substancial, principalmente pela questão do custo de energia.

O atual ministro, Bento Albuquerque, está consciente disso, mas essa questão ainda não foi endereçada para que possa viabilizar a retomada de produção. O Brasil precisa conduzir uma reforma do setor elétrico, buscando mais coerência e competitividade no sistema, eventualmente reduzindo custos e gerando mais atividade industrial.  No que diz respeito ao gás natural, o novo marco regulatório brasileiro foi, sem dúvida, um avanço, no direcionamento para reduzir o custo do gás. Mas é necessário materializar na real redução do custo do gás para produção e avanços na infraestrutura. Para a cadeia de alumínio, o impacto será muito positivo tanto para a alumina, quanto eventualmente para a produção de energia elétrica, que permita uma retomada da produção de alumínio primário. O País tem tudo, mas falta energia competitiva. Parte da missão da ABAL é mostrar e repetir essa narrativa para os tomadores de opinião.

 

O Brasil tem sofrido com a importação de produtos acabados e semiacabados, oriundos principalmente da China. Como tornar a indústria brasileira neste setor mais competitiva?

A indústria de acabados e semiacabados de alumínio tem condições de ser competitiva globalmente se endereçarmos as questões de infraestrutura e tributária. A nossa capacidade de produzir produtos de qualidade, de forma sustentável em um mercado crescente é gigante. Temos dentre os associados da ABAL indústrias de ponta.

Mas, ao mesmo tempo, enfrentamos a questão da defesa comercial contra essas importações chinesas, que acabam distorcendo o mercado. Esse tema se dá no âmbito global, em muitas industrias e ainda não achamos o equilíbrio. O Brasil termina sendo alvo dessa guerra comercial que acontece entre as grandes economias globais. E os produtos semimanufaturados vão para mercados que não têm proteções ou que não estão em guerra comercial.  A ABAL tem um papel a cumprir, em explicitar essa vulnerabilidade para que o segmento continue a ser competitivo.

O alumínio brasileiro tem baixa pegada de carbono. Empresas que mineram e industrializam o material no Brasil são detentoras da certificação internacional ASI (Aluminium Stewardship Initiative). O setor também é um dos maiores recicladores de latas do mundo. Como divulgar melhor esses atributos e usá-los a favor do setor?
Cada vez mais os temas sustentabilidade, responsabilidade ambiental e social são priorizados por nossos associados. Temos muito orgulho do trabalho que tem sido feito e dos resultados, como a baixa pegada de carbono, a certificação ASI e os índices de reciclagem.
Dentro da ABAL nós temos um comitê específico de Comunicação e Marketing, que envolve os melhores especialistas das empresas associadas. Esses profissionais estão dedicados em desenvolver uma comunicação assertiva e robusta, essencial para a disseminação das boas práticas e diferenciais da nossa cadeia do alumínio. Esse também é um dos papéis da ABAL: criar diversos canais ativos e que integram todos os stakeholders e interessados no metal. A ABAL completa 50 anos e isso traz uma oportunidade única de mostrar para a sociedade o que essa indústria construiu em meio século.

Qual é o seu recado final para o setor do alumínio e, especialmente, para os associados da ABAL? 

Gostaria de enfatizar esse ano marcante de 2020, com o cinquentenário da ABAL: às vezes não nos damos conta do tamanho da obra em que estamos envolvidos. Os associados da ABAL têm o privilégio de gozar, hoje, dessa reputação e a responsabilidade de fortalecê-la ainda mais. Desejamos que os membros da entidade sejam reconhecidos por terem as práticas empresariais sustentáveis e também alinhadas com os anseios da sociedade. É o novo desafio da nossa indústria: que as empresas necessitadas de ajuda possam encontrar na ABAL esse suporte. Queremos compartilhar as boas práticas de sustentabilidade do nosso setor, pois assim teremos reconhecimento e respeito como uma indústria que agrega valor para a sociedade brasileira.

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