The crumpled  beer cans

Campeão de reciclagem

Brasil é o país que mais recicla latas de alumínio. Vários fatores contribuem para a marca

Um dos grandes cases de sucesso da indústria nacional é o alto índice de reciclagem de latas de alumínio para bebidas. Os dados mais recentes que existem sobre o tema, divulgados em dezembro de 2018 pela Associação Brasileira do Alumínio (ABAL) e Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alumínio (Abralatas), apontam que, em 2017, foram reaproveitados 97,3% das latas produzidas no País. Ou seja, das 303.900 t de latas de alumínio para bebidas colocadas no mercado naquele ano, impressionantes 295.800 t foram recolhidas e recicladas.

Em 2016, esse número foi ainda maior: 97,7%. A pequena oscilação em 2017 não reduz o feito da nossa indústria, que lidera o ranking há mais de duas décadas — desde 2004, o índice se mantém acima dos 90%. Para se ter ideia, a média mundial de reaproveitamento do item é de 69%, segundo levantamento realizado pela Resource Recycling Systems (RRS), contra 43% para as garrafas PET e 46% para as garrafas de vidro.

Por que reciclamos tantas latas?
Alguns acreditam que o Brasil alcançou índices altos por questões sociais: como há muitas pessoas em situação de vulnerabilidade econômica, atuar como catador é uma maneira de gerar renda.

Thaís Moraes, gerente de Comunicação e Relacionamento com as Comunidades da Ball Embalagens para Bebidas América do Sul, empresa fabricante de latas, vai direto ao ponto. “Muitas pessoas têm uma visão incorreta de que a miséria sustenta a indústria da reciclagem de latas no Brasil. Não somos o país mais pobre da América do Sul — pelo contrário, temos o maior Produto Interno Bruto (PIB) da região —, mas somos o país que mais recicla latinhas. No restante do mundo, encontramos países menos desenvolvidos que não são bem-sucedidos na reciclagem e outros bastante ricos, como os Estados Unidos e Japão, por exemplo, que possuem índices menores que o nosso.”

Jorge Bannitz, CEO da Ardagh Group Metal Beverage Brazil, outra produtora de latas com atuação no País, complementa a ideia. “Se a questão social fosse o principal motivo desse alto índice de reciclagem, o Brasil deveria ser também campeão de reciclagem de outros materiais, o que não acontece. Foi feito um grande investimento de trabalho, recursos financeiros e infraestrutura para alcançarmos os recordes de reciclagem e para a atividade ainda se tornar uma importante fonte de renda para muitas famílias.”

O novo presidente-executivo da Abralatas, Cátilo Cândido, destaca que o índice de reciclagem da lata de alumínio é elevado no Brasil por uma série de fatores. Listamos alguns a seguir, citados por ele e por outras fontes desta reportagem:
• Campanhas de conscientização desenvolvidas pelas indústrias;
• Valor do alumínio superior ao de outros materiais e vantajoso aos catadores;
• O fato de o alumínio ser 100% reaproveitável, mantendo suas características originais;
• Economia de energia — consome apenas 5% da energia elétrica necessária para a produção de alumínio primário;
• Menor emissão de gás carbônico na atmosfera: 95% menos do que a produção de alumínio primário;
• Não utiliza bauxita, recurso natural que é a base do alumínio.

Desde 1989
26 de outubro de 1989. Foi nesse dia que a Latasa, hoje braço do Grupo Recicla BR, inaugurou a primeira fábrica de latas de alumínio do Brasil, em Pouso Alegre (MG). O objetivo era criar uma embalagem que substituísse as latas de aço, com vantagens para o fabricante de bebidas e consumidor — o que acabou acontecendo.

“Há trinta anos, os fabricantes difundiram o conceito de reaproveitamento da embalagem, criando um sistema de logística reversa quando a expressão mal existia”, lembra Cátilo Cândido, da Abralatas.

Eunice Lima, diretora de Comunicação e Relações Governamentais da Novelis, empresa fornecedora de laminados para a produção de latas, explica que nos quase trinta anos da embalagem no Brasil, houve a estruturação do reaproveitamento como negócio, com remuneração vantajosa para todos os elos da cadeia; logística reversa organizada; investimento em capacidade de reciclagem e centros próprios de triagem; e o estabelecimento de indústrias que absorvem todo o material coletado. “Em 2016, apenas a atividade de coleta das latas foi responsável por injetar R$ 947 milhões na economia nacional, o que vem atraindo para a atividade pessoas e grupos de segmentos diversos, como condomínios e restaurantes”, afirma a diretora. Em 2017, segundo Thais, da Ball, o valor foi ainda maior, de R$ 1.161 milhões — crescimento de 22%.

A Novelis é um exemplo de indústria que absorve a reciclagem. “No ano passado, globalmente, alcançamos a média de 57% de insumos de alumínio reciclados”, celebra Eunice. “Também reduzimos nossas emissões de gases de efeito estufa em 25%, diminuímos 28% o nosso consumo de água e 24% o de energia.”

O reaproveitamento da lata fez tanto sucesso que serviu de modelo para a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), em vigor desde 2010, e estimulou o reuso de outras embalagens e materiais. Sobre isso, Thaís, da Ball, tem dados interessantes: “O preço pago no Brasil por 1 t de alumínio prensada e limpa é, em média, R$ 4.750. Pelo alto valor de sua sucata, a coleta do metal termina por subsidiar a de outros materiais. Na prática, o valor na sucata de alumínio é 26 vezes maior que o na de vidro e 3 vezes maior que o pago na de PET”, afirma.

Ações sociais: Novelis investe na capacitação dos profissionais das cooperativas

Ações das empresas
A Ball desenvolve programas com base em dois preceitos: melhorar a qualidade de vida e o nível educacional dos catadores; e aumentar o conhecimento dos consumidores sobre separação de resíduos, consumo consciente e reciclagem.

O Projeto Recicla Sonhos, por exemplo, oferece acompanhamento e formação nos processos de gestão das cooperativas de reciclagem, a fim de melhorar a produtividade, a remuneração e a segurança no trabalho, ampliando o acesso à educação para os cooperados e envolvendo também os funcionários da Ball por meio de ações de voluntariado. No ano passado, o projeto piloto alcançou seis cooperativas, localizadas no Recife, Manaus, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Brasília e também Argentina.

Há ainda o Desafio da Reciclagem, em forma de competição entre as unidades da companhia pelo mundo, e que explica para as comunidades vizinhas às operações o potencial da reciclagem da lata. Já o movimento Vá de Lata foi criado pela Ball para conscientizar a população sobre as vantagens das latinhas de alumínio em relação a outras embalagens, por meio de ações de patrocínio, publicidade e comunicação digital.

A Novelis, por sua vez, investe em ações como a Gestão Solidária e Crescimento Consciente, realizada em parceria com a ONG Reciclázaro, que atua em cooperativas de reciclagem, com projetos de gestão e qualificação de cooperados. “Desde o início, em 2013, cerca de R$ 800 mil já foram investidos”, revela Eunice. “Além disso, a empresa desenvolve projetos sociais alinhados com o programa global de responsabilidade social, incentivando a educação e a reciclagem”, continua a diretora, citando os Cantos de Leitura criados dentro de cooperativas e o patrocínio ao Pimp Nossa Cooperativa, que revitaliza, por meio de pinturas e murais, centros de coletas.

Tributação Verde
Segundo a Abralatas, o setor público colaborou instituindo a PNRS, mas não estabelece tratamento diferenciado entre os que poluem o meio ambiente e os que contribuem para a sua preservação, distinção que seu presidente defende. “Só assim haverá estímulo para o aumento da reciclagem e para que o mercado passe a preferir produtos e embalagens mais sustentáveis ecologicamente”, justifica Cátilo.

No fim de 2018, foi lançada a Frente Parlamentar pela Criação de Estímulos Econômicos para a Preservação do Meio Ambiente. Presidido pelo deputado federal Arnaldo Jardim (PPS-SP), o grupo multipartidário discutirá com diversos setores propostas de incentivos econômicos para a proteção do meio ambiente no sentido de privilegiar a economia circular. A iniciativa, motivada por uma ação da Abralatas com parceiros públicos e privados, tem o apoio da ABAL.

ABAL e Abralatas concordam que o momento atual, em que se discutem reformas estruturais indispensáveis para o Brasil, é oportuno para buscar formas de utilizar a política tributária brasileira com a finalidade de conduzir o País rumo a uma economia de baixo carbono.

Perspectivas em alta
Milton Rego, presidente-executivo da ABAL, lembra que, mesmo diante das adversidades, incluindo a crise econômica, o setor não deixa de investir. “As duas maiores empresas do segmento, a Novelis e o Grupo ReciclaBR, nossas associadas, anunciaram planos importantes para 2019. O Grupo ReciclaBR vai inaugurar novos centros de coleta no País e uma planta de fundição em Minas Gerais. Já a Novelis investirá R$ 650 milhões na fábrica em Pindamonhangaba (SP). Movimentos assim garantem a liderança mundial do Brasil no índice de reciclagem de latas”, comemora.

Eunice, da Novelis, complementa que o aporte na planta de Pinda ampliará a capacidade de produção de chapas em 100 mil t/ano e de reciclagem em 60 mil t/ano. “A expansão da principal unidade da Novelis na América Latina beneficiará, principalmente, os setores de latas de bebidas e especialidades.” Tal aposta não é por acaso: o item se tornou o principal produto feito com alumínio da Novelis.

Brasil é o 3º maior produtor mundial de latinhas de alumínio: cerca de 50% de toda cerveja produzida no País já é envasada em latas

O Brasil é, hoje, o 3º maior produtor mundial de latinhas de alumínio – atrás apenas da China e dos Estados Unidos. Cerca de 50% de toda cerveja produzida no País já é envasada em latas — há quinze anos, a embalagem correspondia a 30% do mercado. Listem-se de igual modo refrigerantes (o item de alumínio tem quase 10% do mercado) e novos produtos, como vinho, sucos, energéticos e chás. “O mercado de cerveja possui ainda muito potencial de crescimento, em função da queda das embalagens retornáveis e a crescente busca dos consumidores por conveniência e preocupação com um consumo ético e sustentável”, aponta, otimista, Bannitz, da Ardagh. Cátilo Cândido, da Abralatas, lembra que, “hoje, existe um novo consumidor que nasceu em um momento onde a tecnologia e a sustentabilidade são essenciais. Esse consumidor tem tudo para optar por produtos ecologicamente melhores. O resultado é o aumento da participação da lata de alumínio no mercado de bebidas”. Se também houver estímulo do poder público, reconhecendo a importância da economia circular, a tendência é só crescer.

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