De acordo com a Associação Brasileira do Alumínio (ABAL), a balança comercial do setor no primeiro semestre de 2021 registrou superávit de US$ 623 milhões (valor FOB, sigla em inglês para designar o frete em que a responsabilidade pelo transporte da mercadoria é do cliente). O resultado positivo se deve, principalmente, às exportações de alumina e hidróxido de alumínio, que cresceram 4,6% em relação ao mesmo período do ano passado.
Segundo o levantamento, as importações de alumínio e seus produtos atingiram 548.400 t, aumento de 62% em relação ao mesmo período de 2020. O volume total é composto por:
- 900 t de alumínio primário/ligas/vergalhão;
- 100 t de sucata;
- 400 t de produtos semimanufaturados e manufaturados.
A China mantém a liderança como país de origem, representando 61%.
Já as exportações totalizaram 185.100 t, com acréscimo de 8,9% no primeiro semestre de 2021. Esse montante inclui:
- 300 t de alumínio primário/ligas;
- 100 t de sucata;
- 700 t de semimanufaturados e manufaturados.
A Argentina continua sendo o principal destino, com 40% de participação, seguida pelos Estados Unidos (17%).
“Ainda é cedo para afirmar se esses números apontam para uma tendência, considerando a volatilidade dos preços e a incerteza sobre como os fatores externos poderão impactar o mercado”, avalia Janaina Donas, presidente-executiva da ABAL.
A dirigente lembra que o alumínio brasileiro está inserido no fluxo internacional de comércio e desfruta de uma série de vantagens competitivas que podem ser mais bem aproveitadas. Além disso, a redução do chamado “Custo Brasil”, se concretizada, pode favorecer a indústria nacional.
“O superávit do setor é seguramente uma boa notícia. Ele foi possível em razão do câmbio favorável e da demanda externa em crescimento. Obviamente, há interesse das empresas em exportar produtos com maior valor agregado, o que provavelmente será possível se essas condições de mercado se mantiverem em 2022”, comenta Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil e sócio-fundador da BMJ consultores.
Desafios e oportunidades
Na avaliação de Barral, as empresas ainda devem enfrentar desafios importantes no cenário internacional. A discussão das taxas de carbono sobre produtos importados na Europa e nos Estados Unidos sempre coloca o setor do alumínio como um dos principais alvos.
Há ainda outras questões, como o golpe militar que ocorreu no dia 5 de setembro na Guiné-Conacri, na África Ocidental.
“O país africano é segundo produtor de bauxita do mundo e o principal fornecedor do mineral para a China, maior produtor de alumina e alumínio primário do mundo. Além disso, as pressões para o cumprimento das metas de neutralidade de carbono e implementação de medidas de controle de emissões sobre a produção chinesa podem representar uma mudança no cenário de longo prazo, com maior equilíbrio após anos de saturação”, explica Janaina, da ABAL.
Sobre a Guiné, Barral lembra que o novo governo já assegurou a continuidade do abastecimento, “o que deve manter a estabilidade no mercado”, avalia.
O consultor lembra que as empresas da indústria brasileira de alumínio também sofrem com a perda de competitividade crônica, a qual está relacionada a um sistema tributário inviável, logística deficiente, insegurança jurídica e falta de incentivos às exportações.
Nesse sentido, a presidente-executiva da ABAL reforça que a entidade atua em uma série de discussões para promover o aperfeiçoamento dos gargalos relacionados aos custos com transporte de cargas, de energia, de melhoria regulatória e tributária.
“Na outra ponta, trabalhamos para assegurar um ambiente de competição internacional justo, com a aplicação de mecanismos legítimos de defesa comercial, sempre que observamos a ocorrência de distorções no mercado”, afirma Janaina.
Em contrapartida, há oportunidades por conta da demanda crescente nos mercados emergentes e na aplicação do metal em novos produtos. Existe ainda o diferencial competitivo do metal brasileiro: estudo da ABAL com a Fundação Espaço ECO mostrou que o total de emissões da cadeia produtiva no país, considerando desde a mineração até a reciclagem, é de 4,2 t de CO2eq /t AL (equivalente de dióxido de carbono por t de alumínio). O resultado é inferior ao da média mundial, de 9,7 t de CO2eq/t AL.
Barramentos e vergalhões
Em meio a esse cenário complexo, as empresas brasileiras buscam se equilibrar para seguir com os negócios externos. A Termomecanica, por exemplo, exporta 12% do volume de produção de barramentos de alumínio para fins elétricos para os mercados do Chile, Argentina e Estados Unidos, países nos quais possui subsidiárias.
Segundo Luiz Henrique Caveagna, diretor-geral da empresa, a pandemia da Covid- 19 forçou uma queda momentânea no volume de produção, principalmente nos quatro primeiros meses a partir de março de 2020. No entanto, ele veio reagindo de forma crescente a partir de julho do ano passado, recuperando seu nível normal ao final do ano.
“Hoje, operamos já bem acima da média observada no ano anterior”, comemora o executivo.
A empresa também iniciou a fabricação de vergalhão de alumínio com planos de exportar de 10% a 15% do volume produzido, em adição aos produtos já mencionados.
“Diferente dos barramentos, que atendem uma especificação técnica local, o vergalhão é um produto que tem especificação técnica internacional e padronizada. Assim, podemos atingir mercados tradicionais mais distantes, como o europeu, africano e países específicos em outros continentes. Entretanto, mantemos a preferência ao atendimento de demanda local”, pondera Caveagna.
Laminados
Já a Novelis tem exportado alumínio para toda a América do Sul, principalmente Argentina, Chile, Paraguai, Uruguai, Colômbia e Bolívia. Eventualmente, desembarca mercadoria no Panamá, Costa Rica e Venezuela.
“Atendemos o mercado de chapas para latas de bebidas e outros segmentos industriais, como o de embalagens (alimentos, cosméticos, farmacêuticos), construção civil, transportes, bens de consumo e distribuição”, conta Daniele Diaz, coordenadora de Vendas de Exportação.
A finalização da expansão da fábrica de Pindamonhangaba (SP), em agosto, também contribuiu para a estratégia de atender os demais países da América do Sul, já que houve ampliação da capacidade de produção e reciclagem.
Segundo a coordenadora, como a pandemia da Covid-19 impôs uma série de dificuldades na logística internacional, muitos clientes passaram a regionalizar suas compras, buscando alternativas no próprio continente.
“Empresas sul-americanas que costumavam importar da Ásia ou de regiões mais distantes, por exemplo, passaram a considerar o Brasil como alternativa para centralizar suas compras. O que é uma vantagem não só para a Novelis, mas para todo o país”, considera.
Na visão da profissional, as empresas brasileiras ainda enfrentam muitos desafios para colocar seus produtos no mercado internacional, conforme citado pelo Welber Barral. Infraestrutura dos portos, custos logísticos e excesso de burocracia do sistema do comércio exterior estão entre eles.