O Dia Mundial do Meio Ambiente – comemorado em 5 de junho – foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) com o objetivo de chamar a atenção para os problemas ambientais e para a importância da preservação dos recursos naturais.
A data também remete a outro marco importante para a sustentabilidade. Há exatos 30 anos, ocorria a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Rio-92), no Rio de Janeiro, que resultou na Agenda 21, com foco no planejamento global para o desenvolvimento sustentável.
Diante da relevância dessas questões, o portal Revista Alumínio mostra como a evolução do sistema de reciclagem do alumínio no país trouxe benefícios ambientais, sociais e econômicos para a sociedade.
Reciclagem de latas
As latas para bebida feitas com alumínio começaram a ser produzidas no Brasil no final de 1989 – com apenas um terço do peso das embalagens de aço, até então fabricadas com 51 gramas.
A partir daí, o mercado não parou de crescer. Em 1990, já eram 400 milhões de unidades, que saltaram para 8 bilhões em 1999. O volume chegou a 10 bilhões em 2005, 17 bilhões em 2010 e 24 bilhões em 2014.
Há 15 anos, a média histórica de reciclagem está acima de 95%. No ano passado, do total de 33,4 bilhões de latas de alumínio para bebidas comercializadas no mercado interno, 98,7% foram reaproveitadas. Trata-se do maior índice já registrado no país desde que começou a ser calculado em 1990. A marca posiciona o país entre os líderes mundiais no setor.
Basicamente, a reciclagem envolve dois macroprocessos:
Linha fria: é composta por uma série de equipamentos que tem como função limpar o UBC (Used Beverage Can), ou seja, as embalagens usadas, removendo outros metais pesados e ferrosos, orgânicos e impurezas.
Linha quente: composta por fornos Sidewell, que tem como função fazer a fusão do metal.

Ganhos econômicos
As latas respondem por 60% das cervejas consumidas no Brasil, resultado da evolução da embalagem e sua conveniência. Além de segura, gela a bebida mais rápido, é fácil de transportar e tem ótimo valor agregado.
Atualmente, as embalagens de alumínio contam com várias opções de tamanho da embalagem e diferentes soluções de impressão, como a tinta termocrômica, que muda de cor de acordo com a temperatura do líquido, anéis coloridos e tampas full open, que tem abertura total.
Com o aprimoramento das tecnologias envolvidas no processo de fabricação das chapas, também houve uma grande redução da espessura das latas e do volume de alumínio necessário para a produção da embalagem.
Para o futuro, apesar de o consumo de cerveja em lata já ter atingido um patamar significativo, a expectativa é crescer por meio de refrigerantes, água, água de coco e outras bebidas alcoólicas.
“Considerando que a sociedade busca escolhas cada vez mais conscientes, e cobra esse comportamento das marcas, temos muita confiança de que o alumínio reciclado será a opção número 1 de todos os segmentos em não muito tempo”, afirma Eunice Lima, presidente do Conselho Diretor da Recicla Latas e diretora de Comunicação e Relações Governamentais da Novelis, maior recicladora de latas de alumínio para bebidas do mundo — em 2021, a empresa recuperou 21 bilhões de unidades no Brasil de um total de 33,4 bilhões de latinhas comercializadas no mercado interno.
Ganhos ambientais e sociais
O processo de reciclagem utiliza apenas 5% da energia elétrica e libera somente 5% das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) em comparação com a produção do metal primário, segundo o International Aluminium Institute (IAI). Entre 2005 e 2020, a atividade evitou a emissão de 19 milhões de t de CO2 na atmosfera. No Brasil, mais da metade do alumínio utilizado é fruto de reciclagem.
A evolução do negócio também beneficiou a sociedade, ao transformar a vida de milhares de famílias brasileiras, que encontraram na coleta das latas um trabalho que gera renda e é fundamental para o meio ambiente.
Para diretora da Novelis, parte fundamental do sucesso de reciclagem de latas no Brasil, se deve ao envolvimento de todos os elos da cadeia produtiva.
“De quem coleta a lata até o próximo consumidor, passando pela Novelis, pelas produtoras da embalagem e pelas fabricantes de bebidas, todos saem ganhando e, o mais importante, geram impacto positivo real para a sociedade como um todo. Além disso, a boa distribuição de centros de coleta no país também é um ponto importante, porque facilita o processo inicial da reciclagem e beneficia o país de ponta a ponta”, alega.
Investimentos
Nos últimos 10 anos, a Novelis investiu R$ 2,6 bilhões para ampliar a capacidade de produção de laminados e reciclagem. Em 2021, a companhia finalizou a aplicação de R$ 750 milhões que elevaram a capacidade de reciclagem para 490 mil toneladas por ano. Em março, anunciou um novo pacote de mais de R$ 450 milhões.
“A planta de Pindamonhangaba já constitui o maior complexo de laminação e reciclagem de alumínio da América Latina. Com as obras, seremos capazes de aumentar a nossa atuação no mercado e nos consolidarmos como maior operação 100% Novelis em todo o mundo”, conta a diretora.

Recicla Latas
Em julho de 2021, a Associação Brasileira do Alumínio (ABAL) e a Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alumínio (Abralatas) criaram a Recicla Latas – entidade responsável por gerir o Programa de Aperfeiçoamento do Sistema de Logística Reversa de Lata de Alumínio para Bebidas, em cumprimento do Termo de Compromisso firmado entre a indústria e o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e à Política Nacional de Resíduos Sólidos.
A entidade lançou um website oficial, além de perfis nas redes sociais, onde tem promovido campanhas sobre reciclagem e coleta seletiva. O objetivo é orientar a população sobre os impactos de cada compra, uso e descarte de produtos de alumínio, além de enaltecer ações ambientalmente corretas.
Na visão de Renato Paquet, secretário-executivo da Recicla Latas, o índice histórico de reciclagem de latas de alumínio está associado também à capacidade do setor em aumentar a capilaridade ao mesmo tempo em que expande a sua atuação pelo país.
“Hoje são 36 centros de coleta em 18 estados brasileiros, que fazem a coleta e reciclam a embalagem. Além disso, tem a expansão dos fabricantes de latas, com 28 áreas produtivas pelo país. Essa descentralização possibilita a eficiência logística, com maior valor sendo repassado para quem recolhe a embalagem. Hoje são mais de 900 mil catadores”, explica.
Reciclagem industrial
Além das latinhas, é possível reciclar a sucata de alumínio oriunda de processos industriais, como faz há muito tempo a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA).
Em 2010, com a aquisição da Metalex, em Araçariguama (SP), a empresa iniciou uma nova estratégia ao vender o serviço de transformação da sucata em tarugos.
Hoje, a prioridade é reciclar a sucata resultante de processos produtivos, gerada na própria empresa e oriunda de terceiros, bem como a sucata pós-consumo.
Além da Metalex, as unidades de Itapissuma (PE) e Alumínio (SP) também realizam esse processo.
Em 2021, a Metalex reciclou 61,2% de uma produção de 73,6 mil toneladas de tarugos. Já na fábrica de Alumínio (SP), foram reaproveitados 20,4% de 444 mil toneladas. E em Itapissuma (PE), 45,2% de 77,8 mil toneladas de resíduos.
Neste ano, com a aquisição da Alux do Brasil, fornecedora de ligas secundárias de alumínio, em Nova Odessa (SP), a companhia vai ampliar a capacidade de reciclagem de sucata pós-consumo.
A empresa tem projeto para reciclar embalagens flexíveis e cartonadas por meio de um processo químico único e inovador. Dessa forma, o alumínio será usado e reutilizado para fabricar produtos que abastecem a sociedade.
Investimentos
Como parte da estratégia ESG (Enviromental, Social and Governance), a CBA estabeleceu os seguintes objetivos relacionados à circularidade do alumínio até 2030:
- Ampliar para 80% o volume de reciclagem de alumínio com sucata industrial e de obsolescência na Metalex;
- Ampliar para 50% o volume de reciclagem de alumínio com sucata industrial e de obsolescência na produção de tarugos na fábrica de Alumínio (SP);
- Ampliar a captação de sucata e reciclagem externa;
- Reciclar 40 mil toneladas por ano de embalagens cartonadas e flexíveis.

Na Metalex, está aprovada a construção de uma nova linha de separação de sucata. A operação vai permitir receber sucata com contaminantes e tratá-la para que fique pronta para a produção de tarugos com maior conteúdo reciclado. A estação terá capacidade de processar 100 mil toneladas por ano e deve custar R$ 100 milhões. O projeto entrará em funcionamento em 2023.
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