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Como os mercados consumidores de alumínio foram impactados pela pandemia

Indústria de cabos elétricos é a única que não observa perda ou redução de mercado

A demanda global por alumínio deve cair 9% em 2020, como consequência da pandemia do novo coronavírus. Se o Brasil apresentar uma recuperação da economia no formato de ‘U’ — quando há uma queda e uma demora para se reerguer — poderá registrar um crescimento de 1,4% na demanda em 2022. As projeções são da consultoria CRU International e podem sofrer alterações com os desdobramentos dos fatos.

Enquanto isso, os mercados consumidores sentem os efeitos da crise e impactam a cadeia produtiva do alumínio. De todos os setores ouvidos, apenas o de energia não registra prejuízos.

Embalagens
A Novelis, uma das principais produtoras de alumínio laminado do País, que atende as indústrias automotiva, aeroespacial e de embalagens, já ajustou o volume de produção às novas demandas de mercado, sendo cedo cedo para falar dos impactos. No entanto, Guilherme Superbia, gerente de Excelência Comercial e Marketing da empresa, explica que, de forma geral, as cadeias consideradas essenciais têm mostrado demanda mais resiliente até o momento.

“Sabemos que alguns segmentos sofrerão mais efeitos negativos, porém estamos comprometidos em suprir os mercados atendidos, abastecer o segmento essencial de embalagens para alimentos, medicamentos e produtos de higiene, além de preservar o futuro dos funcionários e da comunidade”, afirma.

Principal consumidor de alumínio no Brasil, o setor de embalagens têm sido primordial durante a crise sanitária, na produção de blisters para comprimidos, tubos para pomadas, tampas de iogurte e de água, latas para bebidas e até embalagens para os congelados e alimentos entregues ao consumidor por meio dos serviços de delivery.

Transportes
A Hydro, empresa que oferece soluções de alumínio para vários segmentos de mercado no Brasil, constata os recuos.

“O mercado automotivo é o mais afetado, provocando longas paradas dos fabricantes de automóveis e caminhões, e consequente redução em toda cadeia produtiva. Apesar de estar sinalizando uma recuperação mais rápida, o segmento da construção civil também apresenta incertezas sobre a demanda de novos edifícios e casas”, relata Sergio Vendrasco, vice-presidente da área de Negócios e Soluções em Extrudados.

De fato, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) divulgou o pior resultado desde 1957 – a produção de auto veículos despencou 99% em abril, em relação ao mês anterior. Foram produzidos 1.847 veículos, entre automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus. A comercialização e a exportação de veículos novos também foram afetadas com quedas de 66% e 76%, respectivamente.

“Que vamos ter recessão, não tenho dúvidas. O tamanho da recessão vai depender de quão hábeis podemos ser na gestão e coordenação das medidas. Defendemos as medidas de saúde pública, mas também estamos olhando como nós enquanto sociedade, iniciativa privada e poder público, podemos fazer para achatar a curva da recessão”, comenta Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea.

Em uma transmissão ao vivo pela internet com empresários do setor, Alarico Assumpção Júnior, presidente da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), afirmou que hoje faltam liquidez e previsibilidade.

“Essas duas vertentes têm machucado muito o setor. Estamos preparados nas empresas para salvar e preservar vidas. Mas para voltar ao patamar que estávamos, vai demorar.”

No mesmo debate, Hilgo Gonçalves, presidente da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi) afirmou que se depender do Sistema Financeiro Nacional, o setor vai sair da crise.

“Temos um sistema sólido, no qual o regulador, o Banco Central, injetou recursos suficientes para ter liquidez”, garantiu. Ele acrescentou que mais de 60% das instituições associadas à Acrefi atendem o mercado de veículos. “Em todas, sem exceção, nota-se um apetite, uma segurança e uma tranquilidade na retomada”.

Construção civil
O setor da construção civil, que previa uma retomada para 2020, teve as projeções de crescimento frustradas pela pandemia. Em maio, o Índice de Confiança da Construção (ICST) divulgado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) até mostrou ligeira melhora, mas ainda acumula queda de 26,2 pontos em relação a janeiro.

Para Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção da FGV IBRE, não é possível afirmar que o pior momento da crise já passou.

“Os impactos negativos sobre o setor da construção continuam bastante intensos, atingindo os negócios em andamento em todos os segmentos. Em maio, 51% das empresas indicaram diminuição da atividade e 63% afirmaram que o ambiente de negócios está fraco.”

Apesar disso, um levantamento realizado pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) mostra que a maioria das obras está em andamento no País, com exceção de algumas regiões no Norte e Nordeste. A atividade depende da decisão de cada estado e de acordos com os sindicatos de trabalhadores. No geral, as empresas têm adotado rígidos protocolos de segurança.

José Carlos Martins, presidente da CBIC, disse que o setor tem vivido “crise em cima de crise” e que o crédito virou um problema para a recuperação.

“Em 2008, o contribuinte pagou a conta. Agora houve uma inversão, os bancos não sofreram e têm que socorrer o contribuinte. O Brasil é o único país do mundo que não está adotando essa medida. O crédito é muito importante para nós nessa hora”, alega.

Apesar das dificuldades, o executivo aponta para um cenário de oportunidades.

“Não tem como o Brasil sair dessa situação sem a construção civil como locomotiva. Nós precisamos tomar a frente, sem arrogância nenhuma, pautar o novo momento de crescimento. Precisamos ter um desenvolvido regionalizado e diversificado”, defende.

Quem concorda com a necessidade de unir esforços para ajudar o governo a apostar na construção civil é Alberto Cordeiro, presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Esquadrias de Alumínio (Afeal). Segundo ele, essa cadeia produtiva faturou R$ 5 bilhões em 2019 e consumiu 89 mil t de alumínio.

“O cenário pré-coronavírus era de retomada e crescimento de 4,6%. Agora, com a crise, entendemos que isso não vai se concretizar”, disse.

A Afeal realizou uma pesquisa junto às associados para entender como as empresas estão encarando esse momento. Veja os resultados:

  • Empresas que aderiram à redução de jornada de trabalho e salarial, além da prorrogação do pagamento de tributos (81%);
  • Empresas com dificuldades relacionadas a insumos e fluxo de caixa (35%);
  • Empresas que estão operando normalmente (75%);
  • Empresas que pretendem investir em modernização e aumento de capacidade ainda em 2020 (42%).

No mercado imobiliário, especificamente, não há novos lançamentos, mas a liberação de crédito ocorre de maneira diferente daquela voltada ao contribuinte.

“Os bancos têm olhado caso a caso os contratos para continuar a liberação que depende do percentual de vendas. Estamos conversando para flexibilizar essa exigência durante a pandemia. Mas continuamos com os empréstimos para médio e alto padrão”, explica Luiz França, presidente da  Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc). Ele informou que o mercado de baixa renda está operando bem.

Setor de energia
A indústria de cabos de energia é uma exceção entre os consumidores de alumínio e ainda não sentiu os efeitos causados pela pandemia.

“Não temos observado nenhuma redução de consumo, cancelamento de contratos ou postergação de entregas durante esse período”, afirma Maurício Gouvea, diretor-executivo da Alubar.

Segundo Gouvea, os fornecedores e clientes estão reagindo bem: o setor de linhas de transmissão de energia mantém seus contratos, entregas e obras em andamento; e o setor de distribuição tem demandado e se preparado para o atendimento que está por vir.

O diretor-executivo da Alubar explica que existe, sim, uma preocupação com o futuro e com os investimentos previstos para o próximo ano e que ainda estão suspensos.

“Pode ser que no futuro, no ano que vem ou no final do último trimestre de 2020, tenhamos algum impacto. Mas entendemos que não vamos ter. Deve haver uma readequação do planejado para 2021, mas nada que vá impactar significativamente o nosso mercado”, avalia.

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