A série de reportagens “Personalidades do setor” está de volta para relembrar a história de um dos mais conhecidos e respeitados empresários brasileiros: Antônio Ermírio de Moraes.
Neto do imigrante português Antônio Pereira Inácio Nascido e filho dos pernambucanos José Ermírio de Moraes e Helena de Moraes, Antônio nasceu em São Paulo, no dia 4 de junho de 1928. Faleceu em 2014, mas deixou um belo legado de visão estratégica, gestão e ações sociais, com marcas indiscutíveis no setor do alumínio nacional e na vida de muitos brasileiros.
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O início
Estudou no Colégio Rio Branco, escola tradicional da capital paulista. Posteriormente, foi para os Estados Unidos, onde formou-se Engenheiro Metalúrgico na Colorado School of Mines.
Ao retornar dos Estados Unidos para o Brasil, em 1949, o então engenheiro fez estágio de um ano na Siderúrgica Barra Mansa (RJ), do Grupo Votorantim, negócio de sua família. A partir daí, dedicou-se à sua vocação e assumiu a importante missão que herdou do pai: a metalurgia.
Foi assim que o visionário empreendedor fundou a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), em 1955. A empresa prosperou e hoje opera de maneira integrada, desde a mineração de bauxita até a produção de produtos transformados de alumínio. Além disso, a CBA foi pioneira no mercado ao iniciar as negociações de ações na B3 (Bolsa de Valores do Brasil), em 2021.
Mas o caminho para todo esse sucesso foi longo. O dia começava cedo: por volta das cinco horas, Antônio Ermírio tomava um café da manhã rápido e lia os jornais. Antes das sete horas, já estava tratando de assuntos profissionais. Não raro, era o primeiro a chegar e o último a sair do escritório, a maior parte do tempo localizado no sétimo andar do histórico edifício-sede da Votorantim, na Praça Ramos de Azevedo, centro de São Paulo, ao lado do Teatro Municipal.
A transferência da sede do Grupo Votorantim para o coração da capital paulistana, em 1965, aliás, guarda uma história curiosa. O prédio, construído em 1922, até então abrigava o Hotel Esplanada, onde os pais de Antônio Ermírio reuniram os convidados para seu noivado. Ao adquiri-lo, José Ermírio juntou os filhos e disse: “Hoje, por sentimentalismo, fiz um péssimo negócio”, em alusão à reforma necessária para adaptar as instalações.
Na nova sede, os irmãos Antônio Ermírio de Moraes, José Ermírio de Moraes Filho e Ermírio Pereira de Moraes, além do cunhado Clóvis Ermírio de Moraes, estabeleceram-se no comando da Votorantim.
Negócios diversificados
A família investia em áreas diferentes para superar as precariedades da estrutura produtiva nacional da época e tentar lucrar com o pioneirismo. A saga foi iniciada em 1918, com a aquisição da unidade fabril de tecidos Sociedade Anônyma Fábrica Votorantim, na região de Sorocaba (SP).
Nos anos seguintes, continuaram investindo em outros setores:
- 1935: fundaram a Companhia Nitro Química Brasileira;
- 1936: entraram na área de cimentos, com a aquisição da fábrica Santa Helena;
- 1938: montaram a Siderúrgica Barra Mansa;
- Década de 1940: começavam a planejar a construção da CBA.
Foco na indústria do alumínio e sustentabilidade
Quando decidiu entrar no mercado de alumínio, inaugurando efetivamente a CBA, da Votorantim Metais, Antônio Ermírio percebeu que, para se destacar no setor, teria de garantir o fornecimento de energia com custo competitivo.
Pensando nisso, com visão futurista, o executivo determinou a aquisição de uma área de 35 mil hectares na região do Vale do Ribeira (SP), que abrigava as nascentes do rio Juquiá.
No local, o empresário construiu hidrelétricas importantes para o abastecimento de todo o Grupo Votorantim. Graças à sua iniciativa, hoje a CBA tem capacidade para gerar 100% da sua necessidade energética.
Em 2021, a companhia assumiu a gestão da totalidade das 21 hidrelétricas próprias, antes feita pela Votorantim Energia.
Atualmente, a empresa é considerada uma das produtoras de alumínio primário com menor emissão de gases de efeito estufa (GEE) do mundo. Conforme metas e escopos já submetidos à iniciativa Science Based Targets (SBTi), pretende, até 2030:
- Diminuir em 40% os indicadores de carbono, abrangendo as etapas de produção de alumina e salas-fornos;
- Reduzir absolutamente 35% das emissões, englobando mineração, fundição e produtos transformados;
- Reduzir 13,5% das emissões indiretas relacionadas à aquisição de bens e serviços, energia, transporte e distribuição de produtos.
Ações sociais
Além das atividades empresariais, Antônio Ermírio sempre encontrou tempo para promover o bem comum. Com a mesma garra que ajudava a Votorantim a crescer, encarava a prática de ações sociais, principalmente na área da saúde.
Nos anos 1960 e 1970, atuou na Associação Cruz Verde, na qual impulsionou a construção de um hospital infantil ainda ativo, e presidiu a Cruz Vermelha.
Até o final de sua vida, diariamente esteve ligado à Beneficência Portuguesa de São Paulo, complexo hospitalar administrado pela Família Ermírio de Moraes desde 1951. Eleito presidente administrativo em 1971, sem remuneração, promoveu uma revolução na instituição.
Incansável, em 2007, no mesmo complexo, Antônio Ermírio ajudou a inaugurar o São José, hospital cinco estrelas, referência em tecnologia, que atende também os mais necessitados.
Apenas em 2008 afastou-se do dia a dia da Votorantim, por questões de saúde. Dois anos antes havia sido diagnosticado com Alzheimer e hidrocefalia.
Faleceu em São Paulo, de insuficiência cardíaca, no dia 24 de agosto de 2014, deixando como legado sua forte atuação como líder e participação essencial em tornar a Votorantim um dos conglomerados empresariais mais importantes do Brasil e do mundo.
Foto: Divulgação CBA
