ELI_6809 (1)

Conheça a história de Ayrton Filleti, um dos maiores especialistas em alumínio do Brasil

Mesmo após 36 anos dedicados à Alcan, onde participou do início da fabricação de chapas para latas e da reciclagem do metal, profissional segue ativo no mercado

Importante profissional da indústria brasileira do alumínio, o engenheiro metalurgista Ayrton Filleti tem em seu currículo o registro de ter atuado por 36 anos na companhia canadense Aluminium Limited, a Alcan, cujos negócios foram desmembrados entre a Novelis e a Rio Tinto a partir de 2005. Na empresa, ocupou vários cargos de liderança até conquistar a aposentadoria, em 2001.

Durante o período de Alcan, Filleti ingressou na Associação Brasileira do Alumínio (ABAL), iniciando na entidade um trabalho de disseminação de conhecimento sobre o metal no meio acadêmico. Para isso, percorreu o Brasil realizando palestras, workshops e seminários, dando origem ao projeto ABAL Alumínio nas Escolas. 

“A indústria do alumínio representa uma vida para mim. Mesmo aposentado há mais de 20 anos, eu continuo no setor, atuando na Intelectus Aluminum Consulting, com o meu sócio João Tarcísio Mariani. Também represento a Stas, fabricante canadense de equipamentos para fundição no país”, explica Filleti.

LEIA MAIS PERFIS DA SÉRIE “PERSONALIDADES DO SETOR”:
Conheça Victório Siqueira, profissional essencial para o desenvolvimento da indústria brasileira do alumínio
Franklin Lee Feder: norte-americano de alma brasileira, fez história na indústria do alumínio

Origem
Nascido em Piracicaba, interior de São Paulo, em 1937, mudou-se com a família para São Caetano (ABC paulista) quando tinha apenas quatro anos, com mais sete irmãos. Passou boa parte da infância entre as duas cidades e ia muito a Piracicaba visitar o sítio dos avós italianos e agricultores.

Como gostava de estudar, além do antigo Primário, prosseguiu para o Ginásio e Colégio. Depois iniciou os estudos com a intenção de ingressar na Faculdade de Engenharia Civil da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP).

“No cursinho para o vestibular, vi o anúncio do recém-criado curso de Metalurgia, e eu gostei. Foi na época em que a indústria do aço começou a se estabelecer no país”, conta.

No terceiro ano da faculdade, conheceu a esposa, Neide Morais, com quem está casado há 57 anos e tem três filhos. Formou-se em 1962.

Início da carreira
Em 1963, Filleti começou a trabalhar na Fundição Progresso, no bairro da Lapa, em São Paulo, onde permaneceu por um ano e meio. Em seguida, foi para a Fundição Brasil, no bairro da Mooca, empresa que produzia banheiras de ferro fundido e peças para a indústria automobilística.

O alumínio entrou na vida de Filleti em 1965, quando um amigo lhe avisou a respeito de uma vaga de engenheiro de Processo na Alcan.

Em 1974, fez o primeiro curso de especialização em Metalurgia do Alumínio, ministrado pelo professor sueco Herman Unckel, na Escola Politécnica.

Trajetória na Alcan
Filleti foi contratado para trabalhar na Alcan no bairro de Utinga, em Santo André (SP), unidade voltada para a área de transformados.

“A companhia  comprou essa fábrica para entrar no mercado de transformados no Brasil, e que fabricava  utensílios domésticos da marca Rochedo. Eles trouxeram a tecnologia canadense para expandir”, conta Filleti.  

O profissional lembra que, na ocasião, foi instalado um laminador a quente, trazido da Alcan de Rogerstone, Inglaterra. Segundo ele, o equipamento era usado, mas foi “modernizado”. Era a “estrela do negócio” e funcionou até a década de 1980.

Ayrton Filleti em auditoria técnica da Alcan em Taloja, na Índia

Chegada em Pindamonhangaba
Em 1977, a Alcan inaugurou a planta de Pindamonhangaba (SP), após a aquisição de um terreno de 400 mil metros quadrados para a instalação de uma moderna laminação de alumínio, e indicou Filleti como primeiro gerente.

“Me lembro da instalação do primeiro laminador da marca IHI (Ishikawajima Heavy Industries). Os engenheiros da marca tinham um ritual de jogar saquê no início da operação do equipamento para dar sorte e eu fiz isso quando o primeiro rolo estava sendo laminado”, recorda.

A fábrica começou a operar com 350 funcionários, mas, para o início da operação, foi necessário levar alguns profissionais experientes que já atuavam em Utinga.

“Acho que foi o desafio mais importante que tive na Alcan. Iniciar uma fábrica em um lugar de tradição rural, com a missão de admitir todos os funcionários em três meses. A inauguração foi muito bonita. Foi a primeira vez que o Conselho Administrativo da Alcan mundial veio para o Brasil”, lembra.

A operação do novo laminador exigiu um treinamento em Nagoya, no Japão. Antes disso, para operar as máquinas de acabamento, como a refiladeira, a tesoura automática e os fornos de recozimento, foi preciso visitar uma fábrica em Oswego, nos Estados Unidos.

Produção de chapas para latas e reciclagem
Em 1989, iniciou-se a fabricação de chapas de alumínio para latas e Filleti foi incumbido de começar o processo de reciclagem do metal pela Alcan junto com Carlos Eduardo Mesquita, profissional que já atuava na companhia.

“O ponto importante da reciclagem é estabelecer a forma de coleta. Isso foi bem complicado na época, mas iniciamos um processo com uma empresa terceirizada e depois foram criados os próprios centros de coleta”, conta.

Como a chapa para lata possui uma tecnologia avançada para um produto que não pode quebrar durante a estampagem, foi enviado um técnico para ser treinado no processo de filtragem do alumínio nos Estados Unidos, pois o metal precisa estar extremamente limpo.

“Quem trabalhou muito no início da produção da lata no Brasil foi o metalurgista Edgar Leite Penteado, líder de processos. Houve orientação canadense, além de um processo de adaptação.”

Na visão de Filleti, a indústria do alumínio, na área de Transformados, evoluiu quando a Alcan veio para o Brasil.

“A Alcan foi uma escola e vários funcionários atuaram depois em outras empresas do setor. A companhia deixou um legado de desenvolvimento, sem dúvidas. Hoje o alumínio no Brasil tem uma tecnologia bastante avançada”, afirma.

Início das obras para instalação do laminador a quente da fábrica de Pindamonhangaba (SP)

Multidisciplinar
Após dois anos e meio em Pindamonhangaba, Filleti retornou para Utinga como gerente de Refusão e, posteriormente, ocupou vários cargos de liderança, como o de gerente de Tecnologia e Meio Ambiente.

“Estava em Utinga, mas como era corporativo da Alcan, eu rodava as fábricas. Tive a felicidade de não ficar preso numa atividade só. Os 36 anos na Alcan me fizeram crescer no sentido técnico, por isso fiquei à vontade para, depois, me tornar consultor.”

Como representante da Alcan, Filleti também era interlocutor junto às principais entidades relacionadas ao alumínio no mundo: International Aluminium Institute (IAI), em Londres; European Aluminium Association (EAA), na Bélgica; e The Aluminum Association (AA), nos Estados Unidos.

Relação com a ABAL
Como relatado antes, na década de 1980, Filleti já frequentava a ABAL para ministrar palestras, seminários e workshops sobre o alumínio no meio acadêmico, inicialmente como voluntário e depois como consultor da entidade.

“No meio acadêmico pouco se sabia sobre o alumínio. Queríamos uma disciplina sobre o metal em cursos estratégicos, pois era um absurdo não ter. Hoje as universidades estão se conscientizando e, há três anos, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) criou essa disciplina no curso de Metalurgia”, afirma.

Ayrton Filleti também representa a ABAL na Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), sendo gestor do Comitê Brasileiro do Alumínio (CB-035).

Homenagem
Em 2019, o Centro Cultural do Alumínio (CCAL) nomeou a biblioteca local com o nome “Espaço de Conhecimento – Ayrton Filleti”. Trata-se de um reconhecimento ao profissional que é presidente emérito da ABAL e faz parte da história da indústria do alumínio, mercado em que atua há mais de 50 anos.

O Centro Cultural do Alumínio (CCAL) nomeou a biblioteca local com o nome “Espaço de Conhecimento – Ayrton Filleti”

Veja também:

Indústria do alumínio deve investir R$ 30 bilhões no Brasil até 2025

Durante entrevista aos jornalistas no 9º Congresso Internacional do Alumínio, organizado pela Associação Brasileira do Alumínio (ABAL) nos dias 9 e 10 de abril, no Hotel Unique, em São Paulo, a presidente-executiva da ABAL, Janaina Donas, apresentou reflexões e dados significativos sobre o mercado do alumínio no Brasil e no mundo, destacando perspectivas promissoras para

Miles Prosser, do Instituto Internacional do Alumínio (IAI), projeta maior uso do alumínio em escala global

Durante o 9º Congresso Internacional do Alumínio, promovido pela Associação Brasileira do Alumínio (ABAL) e que atraiu mais de 550 participantes nos dias 9 e 10 de abril, no Hotel Unique, em São Paulo (SP), Miles Prosser, secretário-geral do Instituto Internacional do Alumínio (IAI), enfatizou as projeções que indicam um aumento significativo na escala mundial

Rolar para cima
Rolar para cima