COP28_materia

Painel da ABAL na COP28: alumínio brasileiro de baixo carbono é destaque

Evento realizado pela associação no auditório da Apex durante a conferência destaca os diferenciais do alumínio brasileiro no cenário de baixo carbono com cases da Hydro, CBA e Novelis

Durante a 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP28), realizada em Dubai, Janaina Donas, presidente-executiva da Associação Brasileira do Alumínio (ABAL), moderou um painel no auditório da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) em 8 de dezembro. A discussão focou os desafios e as iniciativas adotadas para atingir as metas de descarbonização no setor, destacando como tema central Os diferenciais do alumínio brasileiro de baixo carbono.

LEIA TAMBÉM: ABAL assume compromisso global para reciclagem de latas de alumínio na COP28

Dentre os exemplos de sucesso brasileiros apresentados, Anderson Baranov, vice-presidente-sênior de Relações Externas da Norsk Hydro do Brasil, abordou a transformação da matriz energética na produção do metal, destacando a transição para fontes mais sustentáveis. Leandro Faria de Campos, gerente-geral de Sustentabilidade da Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), falou da produção de alumínio primário de baixo carbono, focando nas iniciativas para redução de emissões. Christopher Cerone, diretor de Assuntos Públicos e Comunicações da Novelis, levou a perspectiva da reciclagem do alumínio como aliada na economia de baixo carbono, reforçando a importância da sustentabilidade em todo o ciclo de vida do material

Hydro e as fontes sustentáveis

A sessão do painel teve seu início com Janaina dirigindo a pergunta a Anderson Baranov, representante da Norsk Hydro do Brasil. Ao debater o tema da descarbonização, a presidente da ABAL observou que a transição energética é frequentemente associada a esse processo. No entanto, ressaltou a existência de outras soluções e alternativas para alcançar esse objetivo.

A Norsk Hydro do Brasil, por exemplo, é uma empresa com mais de 110 anos de história, iniciou sua jornada no Pará, com o capital norueguês como majoritário. Com uma cadeia integrada de produção de alumínio, desde a extração da bauxita até operações de smelter, a empresa se destaca não apenas por sua posição no mercado, mas também por seu compromisso com a sustentabilidade.

Segundo Baranov, a base para o futuro reside no posicionamento e, naturalmente, nada é feito sem um planejamento adequado. Assim, ele apresentou alguns pilares essenciais na Hydro, tais como o Climate, área na qual a Hydro dedica grande atenção à biodiversidade, e o Net Zero, tanto dentro da empresa como na sociedade.

“Esse é um diferencial significativo, no qual temos investido consideravelmente. Contudo, é importante ressaltar que a Hydro é, acima de tudo, uma empresa voltada para as pessoas, com um forte compromisso com os direitos humanos, entre outros valores. Acreditamos que essa abordagem representa uma maneira moderna de conduzir negócios, tanto no Brasil como no cenário global”, apontou.

Para a redução da pegada de carbono, os drivers de sustentabilidade da Hydro incluem programas internos, como o Reduxa e o Circal. O Reduxa é a marca de alumínio da empresa que, por meio da utilização de energia proveniente de fontes renováveis como a hidrelétrica, eólica e solar, consegue fabricar alumínio de forma mais sustentável, diminuindo a emissão de carbono para 4 kg por kg de alumínio. Já o Circal é a marca de alumínio reciclado feito com um mínimo de 75% de sucata de alumínio pós-consumo reciclada. Utilizando alumínio reciclado, a Hydro reduz drasticamente o consumo de energia na fase de produção, ao mesmo tempo que oferece alumínio de alta qualidade.

Baranov também destacou investimentos em energias renováveis por meio da marca Hydro Rein e a nova companhia dedicada ao hidrogênio verde, a Hydro Havrand, que possibilitará a transição do gás para o hidrogênio baseado em energia renovável em diversas instalações próprias da Hydro. No contexto brasileiro, o executivo mencionou que a empresa precisa expandir consideravelmente, mas, apesar dos desafios internos, ele expressa confiança na capacidade de superação desses obstáculos.

“Contudo, é crucial destacar que a Hydro é detentora da maior refinaria do mundo e está atualmente importando de Singapura o primeiro navio desgaseificador, por meio do projeto Fuel Switch Hydro. Esse navio levará gás natural para o Pará, beneficiando não apenas a Hydro, mas também o Estado todo. Nesse sentido, estamos promovendo a transição da nossa matriz energética, o que por si só já resulta em uma redução de 10% na nossa pegada de carbono, estabelecendo a nossa meta para 2025. Além disso, almejamos reduzir essa pegada em até 30% até 2030, com o objetivo final de alcançar a neutralidade de carbono até 2050”, afirmou o vice-presidente da Hydro.

Na ocasião, Baranov também fez uma apresentação de um roadmap de descarbonização da empresa, que abrange essas e outras diversas ações da Hydro até 2030, incluindo ainda o projeto solar Mendubim no Brasil, a utilização de biomassa de açaí para geração de energia e a construção da nova fábrica em parceria com a Wave Aluminium para processar resíduos de bauxita. Segundo ele, são investimentos em tecnologia que vão trazer maior sustentabilidade para a operação.

“Nós escolhemos ser uma empresa verde, comprometida com práticas ecologicamente responsáveis. Esse compromisso reflete nossa busca constante de uma conexão mais estreita com a sociedade. Em um cenário global atento à Amazônia, destacamos nosso respeito pelas normas e pelas pessoas e buscamos um crescimento sustentável, contribuindo para o desenvolvimento da região e promovendo operações de alumínio de forma mais ambientalmente consciente.”

Ao final da apresentação da Hydro, Janaina elogiou os projetos apresentados, realçando a importância das iniciativas de produção energética sustentável e das ações que beneficiam as comunidades locais.

“É importante frisar que alguns desses investimentos, como é o projeto switch, não apenas asseguram o fornecimento de energia para a indústria, considerando-a um insumo estratégico, mas também proporcionam o abastecimento e a partilha desse insumo na região. Essa abordagem apoia projetos locais de desenvolvimento, como a utilização de biomassa de açaí na Amazônia”, enfatizou a presidente da ABAL.

CBA e o alumínio de baixo carbono

Durante o painel, a CBA também compartilhou seu case de sucesso na produção sustentável de alumínio de baixo carbono. A apresentação foi feita por Leandro Faria de Campos, gerente-geral de Sustentabilidade da empresa.

A CBA, uma empresa genuinamente brasileira de capital aberto e controlada pelo Grupo Votorantin, tem seu compromisso com a descarbonização em todas as etapas da sua produção. De acordo com Campos, assim como a Hydro, a CBA é uma das poucas indústrias de alumínio completamente verticalizadas.

Isso significa que a CBA opera em todas as etapas do processo, desde a mineração, com a extração de minério da Zona da Mata mineira nas regiões de Minas Gerais e Goiás no Brasil, até a produção da sua própria alumina. A partir da alumina, eles alcançam a obtenção do alumínio líquido e, posteriormente, transformam esse alumínio primário em uma única planta, totalmente integrada, localizada no Estado de São Paulo.

O gerente-geral ressaltou a importância da matriz energética da CBA, proveniente de suas 23 usinas e hidrelétricas, juntamente com dois parques eólicos, contando com um complexo totalmente integrado para a produção do alumínio de baixo carbono.

“Soluções de alumínio que transformam vidas: esse é o nosso propósito. Queremos ir além do alumínio e, por esse motivo, buscamos engajar toda a rede, desde a gestão da cadeia de suprimentos até nossos clientes, colaborando para proporcionar soluções que abordem eficiência energética, impacto ambiental positivo e benefícios sociais”, afirmou Campos.

Um exemplo recente é o lançamento de um teto de ônibus totalmente de alumínio, inovação que atende as necessidades dos clientes e contribui para um ambiente de construção com impacto ambiental positivo, sendo mais leve, reduzindo o consumo de combustível e minimizando a geração de resíduos em comparação com a alternativa anterior.

O gerente-geral de Sustentabilidade também abordou o compromisso da CBA com a estratégia ESG 2030, enfatizando quatro elementos principais: oferecer alumínio de baixo carbono, produzir soluções em parceria, desenvolver as comunidades locais onde atuam e influenciar toda a cadeia.

O lançamento do selo Alennium no ano passado representa mais um desses compromissos. Essa designação é uma fusão entre “alumínio” e “millennium”, proporcionando informações confiáveis e auditadas. Esse selo é disponibilizado aos clientes e parceiros da CBA, oferecendo transparência sobre as emissões e os compromissos mais abrangentes em relação à sustentabilidade.

Campos compartilhou ainda dados e gráficos impressionantes sobre a redução das emissões de carbono da CBA. A empresa já alcançou 100% de geração de energia renovável para a produção de alumínio de baixo carbono, resultando em um desempenho significativamente melhor que a média global. E, apesar de alcançar um desempenho superior em comparação com o restante do mundo, com uma produção quase quatro vezes menor que a média global, a empresa estabeleceu a meta ambiciosa de reduzir 40% a intensidade de produção do alumínio primário. Em outras palavras, a empresa propôs-se a diminuir as emissões de dióxido de carbono de 4,02 t por t de alumínio produzido, em 2019, para 2,45 t até o ano de 2030.

“Até o ano passado, já reduzimos 26% dessa meta de 40% estabelecida – o que nos enche de orgulho e nos dá muito mais energia para continuar perseguindo a produção do alumínio cada vez menos intensivo em carbono”, comemorou.

Entre as principais iniciativas que colocam a CBA rumo a essa meta estão a revisão da matriz energética com o uso de biomassa na refinaria de produção de alumínio, o upgrade tecnológico nos fornos de alumínio primário e investimentos significativos em reciclagem, visando a aumentar o conteúdo reciclado em suas plantas.

“A busca de eficiência energética está integrada à nossa estratégia de manutenção na matriz energética renovável. A CBA destaca-se por possuir 82% de sua matriz energética proveniente de fontes renováveis, considerando não apenas a eletricidade. Estamos dedicados a trabalhar intensivamente nos 18% restantes, visando à descarbonização. É claro que metade do caminho ainda são estudos potenciais, mas a gente espera que, ao longo dos próximos anos, exista tecnologia possível para que seja utilizada por todos na busca de neutralidade da produção de alumínio”, frisou o gerente da CBA.

Novelis e a reciclagem como aliada

No bloco final do painel, Janaina enfatizou o chamado global para aprimorar os índices de reciclagem mundial e direcionou a pergunta para Christopher Cerone, da Novelis: “Por que reciclar é tão importante?”.

Cerone respondeu que temos um longo caminho para esse objetivo e, pegando gancho nesse questionamento, apresentou a Novelis como líder mundial em reciclagem e laminação de alumínio, destacando a produção de alumínio de baixo carbono.

Cerca de 90% da atividade da Novelis concentra-se na produção de latas de alumínio, mas a empresa também vende para diversos setores, incluindo construção, aeroespacial e automotivo. Com mais de 17 mil funcionários globalmente, possui operações em nove países, com presença significativa no Brasil. Conta com cerca de 1.700 empregados, duas plantas, sendo uma em Pindamonhangaba, no interior de São Paulo, e outra em Santo André, no ABC Paulista. Recentemente, inaugurou o Centro de Soluções para Clientes (CSC) na cidade de São José dos Campos (SP) e ainda possui um grande centro de distribuição no Espírito Santo, além de catorze centros de coleta espalhados por todo o País.

“O nosso objetivo é alcançar a neutralidade carbônica até 2050. E para isso temos algumas metas intermediárias, como a redução em 10% do nosso consumo de água até 2026. Dedicamos atenção especial à reciclagem, utilizando apenas 5% da energia necessária para criar um novo material de alumínio. Em outras palavras, por meio do processo de reciclagem, conseguimos emitir 95% menos dióxido de carbono em comparação com a produção de alumínio primário”, afirmou Cerone.

O representante da Novelis enfatizou ainda a infinita reciclabilidade do alumínio, mencionando o desperdício em aterros sanitários em diversos países, inclusive nos Estados Unidos. Mas elogiou o Brasil por alcançar 100% de reciclagem de latas de alumínio, um marco para o País e para a Novelis.

“A empresa contribuiu globalmente para a reciclagem de 83 bilhões de latas utilizadas. Porém, o Brasil é o único país no mundo que alcançou os 100% de reciclagem de latas. Eu gostaria de parabenizar o País e os que estão aqui presentes. Nós, da Novelis, estivemos altamente engajados e trabalhando muito nesse sentido. O Brasil reciclou quase 38 bilhões de latas e a Novelis ficou responsável por dois terços dessas latas. Tudo foi reciclado em Pindamonhangaba. É um marco para todos nós e sobretudo para o Brasil, que dá o exemplo para o resto do mundo no que diz respeito à reciclagem de latas de alumínio”, pontuou.

No encerramento da discussão, a presidente da ABAL dirigiu uma pergunta ao gerente-geral da CBA sobre possíveis prêmios, preços ou benefícios comerciais associados ao alumínio de baixo carbono, querendo saber se as pessoas já têm essa percepção.

“Percebemos que, atualmente, não há um preço efetivamente definido para o alumínio de baixo carbono. No entanto, observamos certa preferência e indicação por parte daqueles que buscam descarbonizar suas operações ao escolher esse tipo de alumínio. Acreditamos que, no futuro, pode surgir alguma remuneração nesse sentido”, afirmou Leandro Faria de Campos.

Para Baranov, da Hydro, as empresas da indústria do alumínio que não se adaptarem a essa abordagem correm o risco de sair do mercado. Assim, é apenas uma questão de tempo até que essas práticas se tornem requisitos essenciais.

Christopher Cerone, da Novelis, comentou ainda a expansão da demanda para o alumínio reciclado em setores como o aeroespacial e o automotivo, ressaltando as parcerias recentes da Novelis com grandes empresas, como Ford, Tesla, GM e Volkswagen. Ele previu ainda um crescimento na embalagem de alumínio, com a expectativa de 480 bilhões de unidades comercializadas anualmente nos próximos anos.

Por fim, Cerone expressou a esperança de que o case da Novelis sirva como catalisador para mais discussões sobre reciclagem e os benefícios de uma economia circular. Enfatizou a importância de parcerias, reconhecendo o papel crucial dos catadores e destacando o compromisso da Novelis em trabalhar diretamente com essas cooperativas.

Outros painéis

Janaina Donas também participou de outros painéis na COP28 em que falou sobre o alumínio como peça-chave na descarbonização da indústria.                                                                                              

Entre esses painéis estão os realizados no auditório da Confederação Nacional da Indústria (CNI) — Caminhos para a Descarbonização e Transição para Descarbonizar a Indústria — ocorridos no dia 4 de dezembro — e Estratégias de Descarbonização da Indústria, no dia 6 de dezembro.

A presidente da ABAL abordou diversas oportunidades e desafios de mitigação na indústria, contribuindo para a trajetória de descarbonização mais adequada ao setor industrial do País e apoiando o cumprimento das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC) do Brasil.

Além disso, em um dos encontros, a presidente da ABAL e Pierre Labat, vice-presidente-sênior e diretor de Estratégia e Sustentabilidade da Novelis Inc, assumiram o compromisso global para a reciclagem de latas de alumínio até 2050.

Foto: Divulgação COP28

Veja também:

Empresa italiana lança iates de alumínio

O estaleiro italiano Rossinavi apresentou ao mercado sua mais recente investida na inovação náutica com o lançamento da marca Nolimits. Essa nova linha de embarcações de alumínio representa um avanço audacioso no design de iates, com cinco embarcações de alumínio projetadas especificamente para viagens transoceânicas. Os iates Nolimits variam de 30 a 45 m de

Empresa americana lança trailer de alumínio

A americana Polydrops apresentou ao mercado seu mais recente lançamento. Trata-se do trailer P19 Shorty, que traz como destaque a utilização do alumínio em sua construção. O alumínio empregado no novo trailer não só proporciona aos compradores um veículo mais resistente, mas também contribui para um isolamento eficaz, mantendo o interior do veículo a uma

Novo SUV da Polestar tem alumínio com baixo teor de carbono

A fabricante de carros elétricos Polestar apresentou ao mercado seu novo SUV de performance, o Polestar 3. O veículo traz uma significativa redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) e a implementação de práticas sustentáveis com uso do alumínio. Um relatório de Avaliação do Ciclo de Vida (LCA) do automóvel revelou que a

Rolar para cima
Rolar para cima