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O impacto do alumínio na era da mobilidade sustentável

Da redução de emissões à segurança aprimorada, veja como o metal está transformando positivamente o transporte público no Brasil

Nos últimos anos, o cenário do transporte público no Brasil tem passado por uma transformação drástica, com desafios significativos decorrentes da pandemia. De acordo com o recém-lançado Anuário 2022-2023 da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), o período de 2019 a 2022 testemunhou uma queda expressiva de 24,4% na demanda por ônibus urbanos, equivalendo a quase 8 milhões de deslocamentos de passageiros diários em média.

Além disso, enquanto 2019 registrou cerca de 33 milhões de viagens pagantes em todo o Brasil, o ano passado testemunhou uma redução considerável, com, aproximadamente, 25 milhões de viagens diárias atendidas pelos ônibus urbanos brasileiros.

À medida que as cidades buscam reavivar e otimizar suas redes de transporte público, novas abordagens e tecnologias surgem como soluções. E uma delas se destaca: a fabricação de veículos com componentes de alumínio. Eles oferecem alternativa mais leve e eficiente em termos de consumo de combustível, permitindo um deslocamento mais econômico e ambientalmente sustentável. Em um momento em que a eficiência operacional e a redução dos impactos ambientais são prioridades, essa adoção tem se mostrado um passo vital na reinvenção do transporte público.

Nos veículos de transporte, o alumínio já é presente em diversos elementos, incluindo carroceria, componentes estruturais, painéis externos, acabamentos internos, rodas e partes internas do motor. Segundo Solange Akiama, gerente-sênior de Excelência Comercial e Marketing da Novelis, essa aplicação gera ganhos significativos em termos de eficiência, desempenho e sustentabilidade.

Um exemplo recente é o uso do alumínio como material principal para os tetos de ônibus, em substituição à fibra de vidro. Esse projeto tem sido desenvolvido pela Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) em parceria com a Marcopolo. Em um projeto de cocriação, a CBA elaborou uma solução pronta para o suprimento do teto do ônibus fornecido diretamente para a linha de montagem.

Foto: Divulgação CBA/Marcopolo

“O alumínio é mais leve que a fibra de vidro e reduz o peso do veículo. Indiretamente, isso contribui para a redução de emissões de carbono, pelo menor consumo de combustível”, afirma Fernando Varella, diretor de Negócio Produtos Transformados, Inovação e Transformação Digital da CBA.

Economia para as empresas

Para as empresas, há uma série de vantagens no investimento desse metal na fabricação dos veículos de transporte público. Entre eles, a sua resistência à oxidação.

“O alumínio não necessita de pinturas para proteção contra a corrosão e, em muitos casos, os materiais são aplicados de forma natural, reduzindo, então, o custo de pintura. Outra característica relevante é o valor de fabricação. No caso do alumínio extrudado, temos uma grande liberdade de forma que reduz ou, em muitos casos, elimina a necessidade de etapas de fabricação dos componentes, como dobras, conformações e soldagens, o que aumenta a eficiência produtiva”, destaca Varella.

Segundo Elton Ferreira Higino de Cuba, diretor-comercial da Hydro Extrusão, o alumínio extrudado tem um terço da densidade do aço e do cobre, reduzindo assim o peso do veículo. E uma vez que veículos mais leves e resistentes podem diminuir os gastos operacionais, como o consumo de combustível, o desgaste de pneus e a necessidade de manutenção frequente, a economia de custos para as empresas é um dos principais benefícios também na hora de investir na sua utilização para a fabricação dos veículos.

“A durabilidade do alumínio extrudado aumenta a vida útil dos veículos, reduzindo a necessidade de substituição de componentes ou de veículos inteiros. Outro aspecto importante é a imagem e reputação da empresa, pois o uso de materiais modernos e ecologicamente corretos pode torná-la mais atraente para passageiros e parceiros comerciais”, opina Elton.

Ponto positivo para o poder público

No contexto do setor público, pode-se analisar o ciclo de vida do alumínio. Comparado a materiais como fibra de vidro, por exemplo, o ciclo de vida do alumínio se estende infinitamente. Desde o início até o término da utilidade do componente, quando ele eventualmente será desmontado para descarte, as peças feitas desse metal valem mais que outros elementos integrantes. Na visão de Varella, essa característica agrega um valor residual ao produto, ao mesmo tempo que evita o descarte do metal em aterros, uma vez que ele tem capacidade de reciclagem contínua.

Elton concorda com essa visão do diretor da CBA e reforça a sustentabilidade como um dos fatores mais positivos:

“Uma vez que a utilização de materiais mais leves e eficientes energeticamente contribui para a redução das emissões de carbono, a pegada ecológica do transporte público alinha-se com as metas de sustentabilidade das cidades e dos governos. Além disso, esses veículos podem contribuir para um sistema de transporte público mais eficiente, reduzindo congestionamentos e melhorando a mobilidade urbana. Outro benefício é a redução de gastos para o poder público, uma vez que menos manutenção e menos substituição de veículos podem significar economia no orçamento, que muitas vezes é responsável por subsidiar ou financiar o próprio transporte”, esclarece.

Vantagens também para os passageiros

A utilização de alumínio extrudado na fabricação dos veículos traz benefícios diretos para a população que depende do transporte público. A presença desse material resulta em veículos mais leves e robustos, colaborando para a redução de vibrações e ruídos. O alumínio desempenha ainda um papel crucial na dissipação do calor dentro dos veículos, mantendo uma temperatura agradável para os passageiros. Essas características combinadas resultam em um ambiente de viagem mais tranquilo e sereno, enquanto a maleabilidade do material possibilita designs ergonômicos e acabamentos de alta qualidade, elevando o conforto e o apelo estético do seu interior.

De acordo com o diretor-comercial da Hydro Extrusão, a eficiência energética proveniente da diminuição do peso dos veículos também tem o potencial de impactar positivamente a redução das tarifas para os passageiros.

“De maneira indireta, a adoção do alumínio possibilita a diminuição do peso dos veículos e a incorporação de outros componentes que ampliam o conforto dos passageiros, como sistemas de ar-condicionado e carregamento de dispositivos móveis. Caso esses elementos fossem acrescentados sem considerar o uso do alumínio, haveria aumento no peso dos veículos e, por consequência, um incremento nas emissões e nos custos associados às tarifas”, completa Varella da CBA.

Contudo, mais do que a redução nos custos com passagens, o maior benefício para os passageiros é a segurança aprimorada, uma vez que o alumínio extrudado pode ser utilizado para reforçar as estruturas dos veículos e proteger melhor os passageiros em caso de colisões. Quanto a isso, Solange Akiama da Novelis é enfática:

“Sem dúvida, o principal benefício da utilização de alumínio nesse segmento é a segurança. A redução de peso contribui para melhorar a capacidade de frenagem do veículo, reduzindo os riscos de acidentes. Mas, além disso, o alumínio possui propriedades de absorção de energia em colisões, protegendo os passageiros.”

Potencialização 

Em busca de soluções mais sustentáveis e eficientes para o transporte público, a Mercedes-Benz do Brasil tem apostado na utilização estratégica do alumínio em seus veículos. A empresa vem explorando o seu potencial em veículos elétricos, principalmente na construção de estruturas para a montagem de baterias e componentes.

A estrutura em azul é de alumínio (rack de baterias). Foto: Divulgação Mercedes-Benz

“A principal vantagem é a diminuição de massa. O alumínio proporciona uma redução de cerca de 35% em comparação com estruturas de aço equivalentes. Isso resulta em veículos mais leves, o que, por sua vez, demanda menos energia ou combustível para sua locomoção”, explica Alexandre Pazian, gerente de Desenvolvimento de Engenharia de Produto da empresa.

Além dos benefícios evidentes de redução de peso, o uso do alumínio na indústria de transporte público traz impactos ambientais positivos significativos.

“A redução de massa contribui para o aumento da autonomia dos veículos, reduzindo o consumo de energia, seja ela elétrica ou de combustíveis fósseis”, ressalta o especialista.

Pazian destaca ainda que o fato de o material não ser ferroso permitiu ainda que a Mercedes retirasse a pintura de acabamento das estruturas feitas com alumínio. E isso é possível devido à anodização superficial que ele possui, o que evita a corrosão branca. Essa abordagem não apenas reduz custos, mas também diminui o peso do veículo.

No que diz respeito à eficiência operacional, o alumínio também desempenha um papel fundamental com estruturas mais leves que facilitam a montagem e locomoção dos veículos, tornando a manutenção mais eficiente.

Sobre as inovações mais recentes da Mercedes-Benz relacionadas ao uso desse material, Pazian revela:

“Estamos aplicando o alumínio nas estruturas para a montagem das baterias de tração. E nossas perspectivas para o futuro envolvem o uso do alumínio em quadros, tubos e longarinas do chassi. No geral, o ‘codesign’ com nossos fornecedores se mostrou um diferencial em relação à necessidade de desenvolver estruturas de alumínio. Há muita possibilidade de desenvolvimento.”

O futuro dos transportes públicos 

De acordo com a gerente-sênior da Novelis, a expansão da eletromobilidade no Brasil deve ser encabeçada por iniciativas do transporte de passageiros e serviços de entrega, fazendo com que diversas prefeituras adquiram veículos 100% elétricos para integrar suas frotas.

Nesse sentido, ela acredita que o alumínio desempenhe um papel fundamental na evolução dos meios de transporte, impulsionando avanços em eficiência, segurança, sustentabilidade, desempenho e design.

“À medida que a conscientização ambiental aumenta, a indústria de transportes busca soluções mais sustentáveis, e a presença do alumínio tem ajudado a moldar o setor em direção a um futuro mais inovador e ecologicamente consciente”, afirma Solange.

Muito além do transporte

A Prefeitura de Aracaju está investindo na substituição dos abrigos de ônibus visando a melhorar a segurança e o conforto dos usuários de transporte público coletivo na cidade. Em parceria com a Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito (SMTT) e a Empresa Municipal de Obras e Urbanização (Emurb), estão sendo instalados 41 abrigos feitos de alumínio, mais resistentes às condições climáticas da região litorânea.

Foto: Michel de Oliveira

A escolha do alumínio para a composição dos abrigos se dá pela durabilidade do material frente à maresia. O projeto também busca promover a conscientização da população sobre a conservação dos abrigos e contra atos de vandalismo.

Esses novos abrigos estão sendo posicionados em corredores de mobilidade em diversos bairros. Incluem totens de identificação das linhas, pisos táteis, plotagem e também possuem intervenções artísticas feitas por artistas locais, como grafites e fotos. Além disso, os abrigos contam com QR Code para acessar informações das linhas de ônibus e iluminação por lâmpadas de LED.

O investimento total abrange a substituição de 93 abrigos de ônibus e a complementação de 143 em diversas ruas e avenidas da cidade, totalizando cerca de R$ 7,4 milhões provenientes do Projeto de Mobilidade Urbana de Aracaju. A iniciativa busca não somente melhorar a experiência dos usuários do transporte público, mas também contribuir para a revitalização urbana da cidade.

Crédito da imagem de abertura: yan/stock.adobe.com

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