Ao contrário do que se possa imaginar, o alumínio não é extraído no estado metálico da crosta terrestre. O metal é obtido por meio da bauxita, minério identificado pela primeira vez pelo geólogo Pierre Berthier, na França, em 1821.
De acordo com a Associação Brasileira do Alumínio (ABAL), para que a produção do metal seja economicamente viável, a bauxita deve apresentar, no mínimo, 30% de óxido de alumínio — também conhecido como alumina — aproveitável. E é sobre esse material, fruto do refino da bauxita e que, após reduzida, dá origem ao alumínio, a que essa série especial de reportagens se dedica. Nesta parte, nos debruçaremos sobre a início de sua produção.
Da França para o mundo
O geólogo Aldo Grossi, com larga experiência na indústria, conta que em 1886 o francês Paul Héroult e o americano Charles Martin Hall registraram, quase simultaneamente, o processo de eletrólise da alumina para a produção do metal.
“A bauxita francesa foi suficiente para o consumo mundial até esse período, quando os Estados Unidos ingressaram no mercado, passando a ser o maior produtor global até a Segunda Guerra Mundial. Em 1888, o processo de Karl Bayer possibilitou a obtenção de alumina em larga escala”, explica.
Início da produção de alumínio no Brasil
Em 1945, como esforço de guerra, o presidente Getúlio Vargas incentivou o empresário Américo Renné Giannetti a fabricar o primeiro lingote de alumínio na fábrica da Eletro Química Brasileira (Elquisa), em Ouro Preto (MG).
Aldo Grossi, que atuou na unidade como geólogo de 1965 a 1998, comenta que a empresa já existia com outra finalidade, mas foi reorganizada com a entrada do novo sócio, Francisco Pignatari, que viabilizou as instalações para produção de 2.500 t de alumínio primário por ano.
Acompanhe a linha do tempo após esse período:
- 1950 — Companhia canadense Aluminium Limited (Alcan) é a primeira multinacional do setor do alumínio a atuar no mercado interno, quando adquiriu a Elquisa;
- 1955 — Inaugura-se a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), a primeira indústria integrada do setor no país;
- 1960 —A Alcoa ingressa no país com a compra da Companhia Geral de Minas, detentora de jazidas de bauxita em Poços de Caldas (MG), atuando com a mineração, refino de alumina e a produção de alumínio;
- 1984 — Por meio de parceria entre Alcoa e a Billiton Metais, nasce o Consórcio de Alumínio do Maranhão – Alumar, em São Luís, composto por refinaria e redução de alumínio;
- 1995 — Entra em funcionamento a Alunorte, hoje a maior refinaria de alumina do mundo, localizada em Barcarena (PA).
Números do mercado
Para entender a evolução desse mercado, no ano passado foram produzidos 35,9 milhões de t de bauxita no Brasil, dos quais 85% foram destinados ao mercado interno para o refino de 11 milhões de t de alumina.
Desse total, 89% seguiu para as exportações e os 11% restantes para a transformação de alumínio primário e outros processos industriais. As informações são do Anuário Estatístico Alumínio 2021, divulgado pela ABAL.
Processos produtivos
Depois da extração, o minério de bauxita segue para a refinaria, onde passa por dois tipos de processo até alcançar a forma de alumínio:
- Processo Bayer: a bauxita é moída e misturada com cal e soda cáustica. Essa mistura é bombeada em recipientes de alta pressão e aquecida. A soda dissolve o óxido de alumínio (alumina), o qual, depois, é precipitado, lavado e aquecido para que seja retirada a água. O que resta de todo esse processo é o pó branco que chamamos de alumina.
- Processo Hall-Héroult: a alumina é dissolvida em um banho eletrolítico a 950 o A transformação se dá em cubas com a passagem de corrente elétrica em alta intensidade. O alumínio metálico é retirado fundido dessas cubas e encaminhado para a fundição, onde se torna sólido, assumindo até quatro formas diferentes: lingotes, tarugos, placas e vergalhões.
Outros mercados
A unidade da Alcoa em Poços de Caldas (MG) produz alumina para outras finalidades como para a fabricação de peças automotivas, cerâmicas e medicamentos farmacêuticos. Também disponibiliza o hidrato de alumina para tratamento de água e esgoto sanitário.
De acordo com a CBA, os cristais de alumina têm alta dureza, são excelentes isolantes térmicos e elétricos. Por isso, a matéria-prima é largamente utilizada na indústria de abrasivos, ferramentas de corte e polimento, além da produção de refratários. A aplicação na fabricação de vidro também oferece maior resistência mecânica ao material.
Leia a 2ª parte do especial sobre a alumina
Foto: Hydro/Rosangela Aguiar