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Energia solar ilumina o caminho da indústria de alumínio rumo a um metal mais verde

Com a crescente adoção da energia solar, a produção de alumínio no Brasil ganha novo brilho sustentável, contribuindo para a redução das emissões de gases de efeito estufa

O Sol brilha intensamente sobre a indústria de alumínio no Brasil à medida que as empresas buscam alternativas energéticas mais limpas e eficientes. Com o crescimento acelerado do mercado de energia solar, o setor de alumínio está se voltando para essa fonte renovável com o intuito de diversificar sua matriz energética e reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Ou seja, a energia solar está revolucionando a produção de alumínio, impulsionando a criação de um “alumínio verde” e alinhando-se aos esforços globais pela sustentabilidade.

Nelson Falcão, vice-presidente de Cadeia Produtiva da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), enfatiza que a energia solar tem se mostrado cada vez mais viável para a produção de alumínio.

“Desde 2019, a energia solar tem se destacado nos leilões de energia no Brasil, atraindo diversas empresas dos setores eletrointensivos do País. Essa preferência se deve à competitividade da fonte solar, tornando-a uma escolha estratégica para a indústria do alumínio”, afirma o executivo.

Para o profissional da Absolar, com foco na sustentabilidade e na redução do impacto ambiental, a energia solar surge como a opção ideal para atender as demandas dessa indústria. Além de sua viabilidade econômica, a matriz energética renovável do Brasil traz benefícios para a fabricação de componentes destinados à própria indústria solar. Dados da Agência Internacional de Energia (IEA) mostram que o Brasil apresenta emissões consideravelmente menores de CO2 durante a produção de componentes fotovoltaicos em comparação com a Ásia. Isso abre a perspectiva de estabelecer um padrão de “alumínio verde”, resultante da produção de alumínio por meio de fontes de baixa emissão de CO2, como a energia solar.

Sinergia entre as indústrias

De acordo com Falcão, a geração solar no Brasil alcançou a capacidade de mais de 32 GW, sendo 22,5 GW na geração distribuída e 9,6 GW na geração centralizada. Somente em 2023, foram adicionados 6,6 GW, distribuídos entre microgeração e minigeração de energia, bem como geração de grande porte.

“Se esse ritmo de instalações continuar no segundo semestre, a capacidade solar acumulada pode atingir 38 GW até o final do ano, representando, aproximadamente, 16,5% da matriz elétrica brasileira. Essa conquista é notável, já que a capacidade instalada até o final de junho de 2022 era o dobro da registrada anteriormente”, pontua.

Falcão ressalta também a participação ativa das indústrias eletrointensivas, como o setor de alumínio, no desenvolvimento do setor solar. Essa colaboração tem se mostrado essencial para impulsionar a expansão do mercado.

Meta de descarbonização

O compromisso da Hydro para tornar suas operações neutras em emissões de carbono até 2050 é uma prioridade para a empresa. Por esse motivo, a adoção de energias renováveis nas operações faz parte da sua estratégia. Nesse cenário, a mudança da matriz energética da refinaria de alumina, a Hydro Alunorte, no Pará, é um capacitador-chave dessa estratégia na visão de Carlos Neves, vice-presidente de Operações da Hydro.

A companhia está promovendo uma série de ações para remover totalmente o uso do carvão na Alunorte. Sendo assim, a adoção de fontes renováveis de energia está presente na sua estratégia em alinhamento às suas metas de descarbonização e sustentabilidade. A empresa assinou dois contratos de compra de energia (na sigla em inglês, PPA – Power Purchase Agreements) para consumo de energia solar e eólica de dois projetos.

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“Um deles é o ‘Mendubim’, projeto solar de 531 MW que está sendo realizado em parceria entre as empresas de energia renovável Hydro Rein e as norueguesas Scatec e Equinor ASA. As companhias assinaram um PPA de vinte anos com a Alunorte, que consumirá aproximadamente 60% da energia produzida. Com esses dois contratos assinados, a Hydro Alunorte pode continuar investindo na implementação de caldeiras elétricas em sua operação”, revela Carlos Neves.

Os benefícios desse investimento para a empresa começam na questão ambiental, já que eles passam a contar com uma energia limpa e renovável. Contudo, diversificar a matriz energética traz também mais segurança no fornecimento.

“Ao mesmo tempo que permite certo alívio na pressão dos recursos hídricos em escassez, a energia renovável traz mais confiabilidade ao sistema elétrico brasileiro. No mundo atual, é impossível pensar no futuro das indústrias sem pensar em energia renovável. A demanda por alumínio mais verde é crescente e a Hydro está atenta às oportunidades de tornar sua produção cada vez mais sustentável”, reforça o vice-presidente.

Além desses dois contratos, a Hydro está desenvolvendo uma pesquisa em parceria com a universidade Federal do Pará (UFPA) e com a Hydro REIN sobre o uso de placas solares na Hydro Paragominas. Um dos objetivos é possibilitar a redução da evaporação da água dos reservatórios da planta, além de oferecer uma nova fonte de energia renovável capaz de atender parte do consumo próprio da mina. O investimento inicial no projeto é de cerca de R$ 1 milhão e a pesquisa tem duração de dois anos.

Neves informa que o uso de sistemas fotovoltaicos flutuantes, instalações de energia solar que consistem em painéis solares montados em plataformas geralmente localizadas em corpos d’água, como lagos, reservatórios ou represas, é inovador e tem mostrado uma capacidade de produção com boa eficiência.

Suporte às operações

Na visão de Evaldo Batista, diretor de Metais e Energia da Albras, as energias renováveis têm potencial para serem competitivas tanto do ponto de vista financeiro como do ponto de vista ambiental, especialmente no Brasil. Por esse motivo, ele diz que a indústria de alumínio vem injetando dinheiro nesse tipo de energia para dar suporte às suas operações.

“A estratégia de fornecimento de energia da Albras é focada na diversificação da matriz energética proveniente de fontes renováveis e sustentáveis. Nesse sentido, a Albras, joint-venture entre a Hydro e a Nippon Amazon Aluminium Co. Ltd (NAAC), está investindo para ampliar o uso de fontes de energia renováveis (solar e eólica) nas suas operações”, destaca Batista.

O diretor diz que, para isso, a Albras assinou dois contratos com a Atlas Renewable Energy de fornecimento de energia renovável. O primeiro foi o projeto Boa Sorte, que tem ainda a participação da Hydro Rein, cuja capacidade total instalada planejada é de 438 MW. Pelo PPA, a usina solar de Boa Sorte, em Minas Gerais, garantirá à produtora de alumínio primário fornecimento anual de energia de cerca de 100 MW, no período de 2025 a 2044.

Já o projeto fotovoltaico Vista Alegre, o maior PPA já assinado na América Latina, segundo Batista, vai garantir à Albras fornecimento de energia sustentável por 21 anos. Também localizado em Minas Gerais, o projeto de 902 MW é uma parceria que possibilitará a geração de energia renovável suficiente para abastecer uma cidade com, aproximadamente, 3 milhões de habitantes, como Brasília. A energia que pode ser gerada pelo parque equivale a tirar mais de 60 mil carros das ruas, além de compensar cerca de 154 mil t de emissões de carbono por ano.

“A busca de alumínio verde é uma tendência do mercado. Nesse sentido, acreditamos que investir em fontes renováveis é estratégico. Esse é o caminho para atingir nossas metas de redução de emissões de carbono. Assim, colaboramos com as gerações futuras e com a transição energética em curso globalmente. O alumínio não só é um componente essencial para a ampliação do mercado de energia solar, mas também pode contribuir com o crescimento do mercado fotovoltaico, como setor consumidor dessa energia”, argumenta Evaldo Batista.

Lá fora

No cenário internacional, já se observam avanços nos processos de utilização de energia solar para a produção de alumínio desde 2021. Essa tendência de adoção de fontes de energia limpa para a indústria de alumínio encontrou solo fértil nos Emirados Árabes Unidos, onde a Dubai Electricity and Water Authority (DEWA) – organização governamental responsável pelo fornecimento de eletricidade e água potável na cidade de Dubai – e a Emirates Global Aluminium (EGA) – uma das maiores produtoras de alumínio do mundo – firmaram acordo para abastecer a fundição de alumínio da EGA com energia solar.

A partir do Parque Solar Mohammed bin Rashid Al Maktoum, o acordo prevê que a DEWA forneça 560 mil MWh de energia solar anualmente, o que é suficiente para produzir 40 mil t de alumínio por ano. O objetivo é expandir esse potencial para 5 mil MW até 2030, consolidando assim um pilar fundamental na transição para uma matriz energética mais limpa e eficiente.

O parque solar fica em Dubai, cuja capacidade é de 1.013 MW, o que o qualifica como a fonte primária de energia solar para esse projeto. Além disso, a origem da energia está sendo rastreada pelo Sistema Internacional de Certificação de Energia Renovável.

A EGA nomeou esse alumínio produzido como “CelestiAL”, refletindo não apenas a sua origem solar, mas também o compromisso com a sustentabilidade e a busca de práticas industriais mais responsáveis.

Foto: Divulgação EGA

“O alumínio é um metal leve, resistente e infinitamente reciclável. Essas propriedades significam que, como material, desempenha papel vital no desenvolvimento de um futuro sustentável em escala global. No entanto, também importa a sustentabilidade com que o alumínio é produzido. O CelestiAL ajudará a tornar a vida moderna possível para pessoas ao redor do mundo, ao mesmo tempo que protege nosso planeta para as gerações futuras. Esse é um grande marco para os Emirados Árabes Unidos e para a nossa indústria”, declarou à imprensa na ocasião Abdul Nasser Bin Kalban, CEO da EGA.

Entre os primeiros clientes do alumínio solar CelestiAL da EGA encontram-se o BMW Group, a Mercedes-Benz e a Nissan, além do fornecimento para o Centro Espacial Mohammed Bin Rashid, para uso no MBZ-SAT, o satélite comercial mais avançado da região no campo de imagens de alta resolução por satélite, com lançamento previsto para 2024.

Mais avanços

Em junho deste ano, a EGA anunciou também que o Grupo BMW foi o primeiro a adquirir o CelestiAL-R para uso em suas peças automotivas, uma inovação da empresa que combina alumínio solar e metal reciclado.

Desde o início de 2023, todo o suprimento de alumínio da EGA para o Grupo BMW é CelestiAL-R, sendo aplicado em diversas partes dos veículos elétricos, como carcaças de sistemas de transmissão, componentes de motores e peças estruturais em grande escala.

A combinação do alumínio solar CelestiAL com metal reciclado resulta em uma redução significativa na emissão de CO2 durante a produção, atingindo menos de 4 t de equivalente de CO2 por t de alumínio, dependendo da liga utilizada. Essa inovação atende os altos padrões de qualidade da indústria automobilística, passando por testes rigorosos de qualidade em diferentes etapas do processo de produção. Cerca de 230 testes abrangentes são realizados mensalmente para garantir a qualidade do metal antes de ser enviado dos Emirados Árabes Unidos para a planta da BMW na Alemanha.

“O Grupo BMW tem sido um cliente importante da EGA há uma década. A sua demanda por metal da mais alta qualidade produzido de maneira responsável acelerou nosso progresso em sustentabilidade – primeiro com o alumínio solar CelestiAL e agora com o CelestiAL-R. Nosso objetivo é aumentar gradualmente a proporção de metal reciclado no CelestiAL-R, para reduzir ainda mais a intensidade de carbono do nosso metal e, consequentemente, dos carros que dirigimos”, afirmou Kalban.

Muito além da produção

Alinhada aos objetivos globais de sustentabilidade, a Novelis anunciou em fevereiro deste ano um investimento de R$ 6 milhões na instalação de quase mil painéis de energia solar fotovoltaica nos seus catorze centros de coleta de latas de alumínio no Brasil. 

Crédito da imagem de abertura: Divulgação Hydro

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