Nos dias 16 e 17 de agosto, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) promoveu um evento sobre a “Estratégia da indústria para uma economia de baixo carbono”, no Palácio Tangará, em São Paulo (SP).
No segundo dia, Janaina Donas, presidente-executiva da Associação Brasileira do Alumínio (ABAL), moderou o painel “Clima: perspectivas, cenário e a NDC Brasileira”. Participaram do debate William Wills, sócio-diretor da EOS Consultoria; Mercedes Bustamante e Paulo Artaxo, ambos membros do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e professores da Universidade de Brasília (UnB) e da Universidade de São Paulo (USP), respectivamente.
O Brasil e o aquecimento global
A dirigente da ABAL lembrou o último relatório divulgado pelo IPCC, que aponta para uma situação crítica causada pelo aquecimento global, com consequências severas tais como seca, chuvas, incêndios, aumento do nível do mar, tempestades catastróficas, perda de biodiversidade, entre outros.
Diante do relatório alarmante, Janaina Donas questionou os participantes sobre a situação do Brasil — na Conferência das ONU sobre mudanças climáticas, a COP-26, o país reafirmou o seu compromisso de redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) em 37% até 2025, elevou a meta para 50% em 2030; e a intenção de atingir a neutralidade climática até 2050.
O sócio-diretor da EOS Consultoria afirmou que estudos realizados nos últimos anos apontam que o Brasil tem diversas oportunidades de mitigação a baixo custo (como programas de eficiência energética) e que um preço de carbono abaixo de US$ 10 por tonelada seria suficiente para atingir a sua NDC (Contribuição Nacionalmente Determinada, no Acordo de Paris) até 2030, desde que o desmatamento esteja sob controle.
“O desmatamento provoca emissões extremamente ineficientes, com aumento do custo para todo o resto da economia para o atingimento das metas. O uso de créditos de carbono para compensação de emissões pode auxiliar no curto e médio prazos, mas com limite, porque a indústria pode simplesmente comprar as suas reduções de emissões e ficar com uma tecnologia defasada. Já para garantir a neutralidade em 2050, o país terá de ser muito mais ambicioso”, explica.
William Wills acrescentou que o artigo 6 do Acordo de Paris, com previsão de instrumentos de mercado de carbono, pode ser uma grande oportunidade, mas é necessário que o Brasil defina uma estratégia nacional.
A hora é agora
De acordo com Mercedes Bustamante, a principal mensagem do último relatório do IPCC é que, a menos que haja reduções imediatas e profundas das emissões de GEE em todos os setores e regiões, manter o aumento da temperatura do planeta em 1,5 ºC está fora de alcance.
“O Brasil fere uma das principais características do Acordo de Paris. Na verdade, as duas revisões da NDC permitem que o país emita mais do que havia prometido em 2016. Além disso, nas metas para o Net Zero, seu compromisso é analisado como insuficiente. Há necessidade da definição de metas intermediárias e da trajetória de como vamos atingi-las”, explica.
Para a docente, o país já deveria estar debruçado sobre esses desafios, com articulação entre os entes federativos, setor privado e sociedade civil.
“O tempo se esgota e a tarefa não é simples. Todas as metas passam pela redução do desmatamento e é preciso reconstruir a governança ambiental no Brasil”, afirma.
Mercedes também reforçou a importância de retomar os planos setoriais, já que não é possível promover o desenvolvimento sustentável sem considerar a questão climática.
Segundo Paulo Artaxo, apesar das vulnerabilidades, o Brasil tem oportunidades únicas de redução de 44% das emissões sem prejuízos à sociedade.
“Tem potencial solar e eólico a preços competitivos, programa de biocombustíveis em larga escala e potencial de sequestro de carbono por meio de reflorestamento, com geração de renda com a regulação do mercado de carbono.”
Papel das indústrias
Na visão do docente da USP, o setor privado é estratégico em qualquer planejamento de estrutura de redução de emissões e na adaptação climática. É fundamental não só no financiamento, como por meio de múltiplas ações, que podem levar a construir uma sociedade mais sustentável.
“O setor privado tem de atuar junto com o público. Ficamos amarrados no governo federal, mas as ações subnacionais se tornaram importantes nos últimos anos. Vários estados estão fazendo planos de ação climática, a exemplo de São Paulo”, afirma Artaxo.
Ao final do painel, Janaina Donas, da ABAL, lembrou que o Carbon Border Adjustment Mechanism (CBAM), mecanismo de taxação de carbono aduaneiro, é uma ferramenta que está à disposição dos países, porém, a preocupação é não afetar a competitividade das indústrias.
“A principal mensagem deste debate é que o cumprimento das metas do país depende da articulação de todos. O setor privado é quem vai fazer os investimentos em inovação. Precisamos, de outro lado, da apropriação do setor público, pensando nas políticas de fomento e incentivo, na regulação das emissões, para que possamos superar gargalos tecnológicos, melhorar a eficiência energética e promover o uso racional dos recursos. Mas, há também aspectos que vão muito além disso, como a questão da água e do bioma, e é importante que tenhamos essa consciência”, concluiu Janaina.
Alumínio e sustentabilidade
Desde que assumiu a presidência-executiva da ABAL, em 2021, Janaina defende que o alumínio é um dos materiais que podem contribuir com soluções ecologicamente corretas para diversos mercados. Além disso, o metal brasileiro é produzido com baixa pegada de carbono e indústrias nacionais adotam as melhores práticas ambientais, sociais e de governança.
Fotos: Divulgação CNI