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Faturamento da indústria do alumínio no Brasil cresce 13,7%

Apesar do cenário global mais desafiador, empresas mantêm confiança e continuam traçando estratégias para impulsionar o crescimento sustentável do mercado de alumínio no País

Mesmo com um mercado volátil em 2022, por causa da guerra entre Rússia e Ucrânia e das incertezas quanto ao crescimento da economia pós-Covid-19, o faturamento da indústria de alumínio no Brasil atingiu a marca de R$ 140,1 bilhões, um aumento de 13,7% em relação ao ano de 2021. Sem contar os investimentos brutos do setor, que chegaram a R$ 1,9 bilhão, representando um aumento de 58%, conforme divulgado em julho no Anuário Estatístico da Associação Brasileira do Alumínio (ABAL) com dados do desempenho do setor referentes ao ano de 2022.

Isso significa que, mesmo com as intempéries mundiais, algumas indústrias do setor avaliam que, pelos resultados, o Brasil está no rumo certo para alcançar a autossuficiência no abastecimento de alumínio.

Assim como toda commodity, o alumínio está sujeito a essas influências, explica João Batista Menezes, presidente da Albras. Para ele, não foi somente a guerra entre Rússia e Ucrânia e o consequente impacto da redução das exportações de gás da Rússia – gerando assim uma crise energética na União Europeia – que tornaram o mercado de alumínio volátil. A persistente política de lockdown no território chinês adicionou doses extras de incertezas quanto ao real crescimento da economia, o que, por sua vez, impactou a dinâmica das transações de consumo e reposição de estoque.

“Por outro lado, no último ano, encontramos um cenário positivo no que se refere ao aumento no preço médio de venda do alumínio em 2022, que ficou em R$ 16.550 por t, crescimento de 8,69% em relação a 2021. Os valores foram impactados pela variação do dólar frente ao real e pela alta no preço do alumínio negociado na London Metal Exchange (LME), bolsa de commodities”, pontua Menezes.

Os bons resultados para o Brasil não param por aí. Em relação à geração de emprego, a indústria brasileira do alumínio encerrou o ano de 2022 com um total de 501 mil postos de trabalho, o que representa crescimento de 10% em comparação a 2021.

Só a Alcoa, empresa de produção mundial de bauxita, alumina e alumínio, por exemplo, com o religamento do Smelter na Alumar, em São Luis (MA), possibilitou a criação de 2.500 desses novos postos de trabalho.

Foto: Divulgação Alumar

“Se focarmos no cenário nacional, mesmo diante de todos esses desafios e do aumento do preço das matérias-primas, o ano passado foi positivo. O setor registrou crescimento na produção, na geração de empregos, nos investimentos e na reciclagem do alumínio. Com esses resultados, o Brasil inicia a retomada para a autossuficiência, a fim de se consolidar como importante produtor desse metal verde”, considera Carlos Neves, vice-presidente de Operações da Hydro.

Contra a maré 

O Anuário Estatístico da ABAL indicou que a produção de alumínio primário apresentou crescimento de aproximadamente 5% em 2022, com volume total de 811 mil t. 

Nesse cenário, a Albras se destacou por ser uma das maiores produtoras de alumínio primário do Brasil. No período, a companhia produziu 405 mil t de alumínio líquido, sendo 331 mil t para produzir lingotes de alumínio primário e ligas especiais e 74 mil t de metal primário em forma líquida. Em 2022, ela comercializou 392 mil t de alumínio para abastecer tanto o mercado nacional como o internacional.

Já no que se refere à produção de bauxita e alumina, o mercado registrou uma pequena queda. Em relação à primeira, o volume foi de 34.250 mil t, 4,7% menor quando comparado a 2021, e, sobre a segunda, foi apenas 0,1% mais baixo em relação ao ano anterior, com um volume de 10.870 mil t.

No entanto, contrariando esse resultado negativo do mercado em geral, a Hydro, que está presente em toda a cadeia do alumínio, teve um desempenho positivo nesse segmento. Em 2022, totalizou cerca de 11 milhões de t com vendas de bauxita. Essa foi a melhor performance financeira da empresa desde o início das operações e refletiu no lucro Ebidta (em inglês, Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization) histórico de R$ 1,1 bilhão. Já a Alunorte manteve estabilidade em relação a 2021, registrando produção de 6,2 milhões de t de alumina no ano passado.

Marco histórico 

O alumínio ainda foi consolidado como solução estratégica para a economia circular no Brasil, alcançando um feito histórico ao reciclar 100% das latas de alumínio destinadas a bebidas comercializadas, totalizando 390.200 t do metal. Esse índice representa o maior registro até o momento, superando o valor anterior de 98,7% em 2021.

Contribuindo para esses números, a Novelis, uma das maiores recicladoras de alumínio do mundo, reciclou 31 bilhões de embalagens em 2022. 

Foto: Divulgação Novelis

Solange Akiama, gerente-sênior de Excelência Comercial e Marketing da Novelis, destaca que isso acarreta a necessidade cada vez menor de matéria-prima primária, resultando em uma série de consequências positivas em termos de sustentabilidade.

“Estamos aumentando cada vez mais o conteúdo reciclado em nossas chapas, que hoje já passa de 80%, e seguiremos estudando novas formas e soluções para continuar nesse caminho”, afirma.

A Novelis possui um compromisso global de sustentabilidade que inclui a neutralidade de carbono até 2050 (e 30% de redução na emissão até 2026). Nesse sentido, a empresa anunciou um investimento de, aproximadamente, R$ 6 milhões na instalação de quase mil placas de energia solar fotovoltaica e na substituição de empilhadeiras tradicionais por modelos elétricos em seus catorze centros de coleta de latas espalhados pelo Brasil. Com essa iniciativa, tais centros serão capazes de gerar um total acumulado de 603,8 MWh/ano de energia limpa, tornando-se autossuficientes em consumo. Estima-se uma redução significativa de 231,1 t de CO2/ano em emissões de gases de efeito estufa.

Otimismo

Em relação ao consumo doméstico de produtos transformados de alumínio, o estudo apontou que, em 2022, o volume foi de 1.530 mil t, ou seja, registrou uma queda de 3,6% em comparação com o ano de 2021, quando atingiu 1.580 mil t.

Entre os setores que se destacaram positivamente estão o mercado de fundidos (26,4%), pó de alumínio (14,1%) e folhas (2,5%). Em contrapartida, chapas (-6,4%), extrudados (-7,8%), cabos (-14,4%) e destrutivos (-5,6%) apresentaram desempenho negativo.

Paulo Cezar Martins Pereira, diretor-comercial da Termomecanica, acredita que, em 2022, tanto a indústria de transformados como vários outros setores foram reféns de uma situação econômica extremamente desfavorável, somada aos elevados graus de instabilidade e incertezas relevantes no cenário interno e uma situação de crescimento da inflação mundial.

“Nesse contexto, pior que o esperado, vimos uma economia semiparalisada, com poucos setores fugindo à regra. Era de se esperar, portanto, que a indústria de transformados sofresse queda, que poderia ter sido até maior”, analisa Pereira.

A Termomecanica tem criado novas linhas de produtos para não só atingir novos nichos, como também reforçar os segmentos em que ela atua, esperando, inclusive, que o mercado dê sinais de melhora.

“Para o ano de 2023, ainda enfrentamos incertezas, mas os resultados do primeiro trimestre foram positivos. Conseguimos sustentar os negócios durante o segundo trimestre, que foi difícil para a indústria em geral, e temos expectativas de uma retomada, ainda que discreta, a partir da metade do terceiro trimestre até o final do ano. Mesmo diante de dificuldades, como a manutenção da taxa de juros em patamares elevados até agosto, estamos otimistas com as perspectivas futuras”, pondera o diretor.

Michelle Ávila, gerente de Vendas e Logística da AMG Brasil, também esperava um 2022 melhor para o segmento de produtos transformados. Ela corrobora a opinião de Pereira dizendo que, devido a todas essas tensões que causaram instabilidade no mercado global – como já mencionado nesta reportagem em relação à guerra na Ucrânia e aos reflexos das movimentações do mercado chinês –, houve quedas abruptas na demanda global e nas cotações das matérias-primas. Isso levou diversos países a enfrentar uma crise energética, resultando em baixa produção ou paralisação de suas indústrias, reduzindo drasticamente as demandas globais.

Contudo, Michelle mantém o otimismo de que o mercado dará sinais de melhora nos próximos meses. A AMG Brasil é fornecedora de diversas empresas que são referência nos setores em que atuam, como chapas e laminados, tarugos, perfis, vergalhões e cabos de alumínio e ligas especiais para segmento automotivos e aeroespaciais, além da reciclagem e recuperação de metais. A empresa tem trabalhado com o intuito de contribuir para que todos esses setores possam crescer no mercado com produtos inovadores, sustentáveis e de alta performance nos próximos meses.

Foto: Divulgação AMG Brasil / Fabrício Guedes

“Ainda estamos sentindo o reflexo da crise mundial, e o mercado interno está em baixa. Porém, temos a inovação como uma das nossas diretrizes de atuação. E é justamente essa busca por novos produtos, projetos e soluções que nos mantém otimistas e atentos às demandas e preferências do mercado consumidor”, afirma Michele.

Solange Akiama, por sua vez, informa que a Novelis também observa com otimismo essa segunda metade do ano em relação ao consumo doméstico de alumínio, haja vista que o País tem apresentado índices econômicos mais favoráveis e as festas de fim de ano, que se aproximam, colaboram com o aquecimento do setor de latas e embalagens, que naturalmente se expressam de forma diferente em função das sazonalidades.

“Por esse motivo, o foco prioritário da fábrica da Novelis de Pindamonhangaba [no interior de São Paulo] é suportar o crescimento da demanda por chapas de alumínio no Mercosul, incluindo o mercado de latas para bebidas e o atendimento do mercado de chapas para outros usos industriais, como os segmentos de transporte, automotivo e construção civil, entre outros. Mas também utilizamos nosso excedente de capacidade para exportar principalmente para outros países da América do Sul e da América do Norte.”

João Batista Menezes completa a opinião de Michelle e Solange afirmando que, mesmo com um cenário internacional ainda de incertezas, o Brasil está bem abastecido em termos de alumínio.

“Para o segundo semestre, avaliamos que a Albras tem boas perspectivas e seguirá investindo no seu desenvolvimento tecnológico, mantendo-se produtiva e competitiva. Nosso foco está na manutenção da integridade dos ativos, na eficácia das operações, sempre priorizando o respeito ao meio ambiente, à segurança e ao desenvolvimento dos nossos colaboradores. Dessa forma, buscamos garantir que a Albras permaneça atuando de forma competitiva e diferenciada no mercado pelas próximas décadas.”

Por um futuro mais sustentável

A Hydro está focada nos investimentos para tornar suas operações ainda mais sustentáveis. O objetivo é minimizar a pegada de carbono e preservar a biodiversidade e o bem-estar das comunidades vizinhas de suas instalações, além de alcançar metas e ambições futuras que contribuam para a redução das emissões de CO2. Investimentos em pesquisa, reflorestamento do bioma amazônico, reaproveitamento de água e utilização de energias renováveis em suas operações são algumas frentes em que a empresa atua.

“A Hydro prevê estabilidade na produção para 2023 e seguirá investindo para que suas operações sejam cada vez mais sustentáveis. Como a busca por um alumínio verde é uma tendência do mercado, o compromisso com o uso sustentável dos recursos e a preservação ambiental são práticas diárias nas operações da empresa”, afirma Carlos Neves.

Atualmente, a gestão de rejeitos da Hydro Paragominas é realizada, principalmente, pela emprego do tailings dry backfill, que consiste na disposição temporária dos rejeitos de bauxita em quadrantes de secagem. Posteriormente, o material é recolocado seco para preenchimento das cavas já lavradas para iniciar a reabilitação dessas áreas. Recuperar a vegetação da região da mina de bauxita mantida pela empresa é uma prioridade. Mais de 2.900 ha do bioma amazônico já foram reflorestados desde o início de suas operações. Só em 2022, a empresa atuou na reabilitação de cerca de 259 ha, um crescimento de 55% em relação ao ano anterior.

Com o propósito de alcançar a meta global de atingir zero emissão na produção de seu alumínio até 2050, a mudança da matriz energética da refinaria Alunorte também é estratégica. Em 2022, a unidade iniciou a operação de uma nova caldeira elétrica. Essa foi a primeira e há ainda duas caldeiras em fase de implementação na refinaria nos próximos anos. Com todas funcionando, o projeto vai representar uma diminuição de mais de 400 mil t de emissões de carbono por ano.

Foto: Divulgação Alunorte

Além disso, o óleo combustível utilizado na refinaria será substituído por gás natural (GNL). A conversão dos equipamentos está em estágio avançado e o início da operação está previsto ainda para este ano. Com investimento de R$ 1,3 bilhão, estima-se que o projeto gere redução anual de 700 mil t de carbono e melhorias na qualidade do ar.

Nos últimos dois anos, a Alcoa também fez amplos investimentos em (Environmental, Social, and Governance (ESG), implementando projetos de descarbonização em sua produção. A empresa investiu R$ 1,3 bilhão em projetos sustentáveis e energias limpas visando a alcançar Net Zero (zero emissão de gases de efeito estufa) até 2050. Destacam-se o filtro prensa em Poços de Caldas e o Smelter na Alumar (MA), já citados, que já operam 100% com energia renovável. Recentemente, a empresa anunciou ainda a transição da energia em Juruti (PA), que passará a ser movida exclusivamente por energia elétrica.

Crédito da imagem de abertura: simone_n/stock.adobe.com

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