embarcacoes_materia

Alumínio navega nas águas da inovação na indústria naval

De embarcações fluviais na Amazônia até iates de luxo, o metal impulsiona o setor naval brasileiro contribuindo para um mercado mais inovador e sustentável

De barcos escolares inovadores a iates de classe mundial, desvendamos como o alumínio, com sua reciclabilidade e resistência, é essencial para um futuro mais eficiente e eco-friendly.

O cenário das embarcações no Brasil tem passado por uma notável transformação na qual o alumínio surge como protagonista. A presença do metal nas embarcações brasileiras não apenas tem redefinido os padrões de construção naval, mas também sinaliza uma mudança significativa em direção a práticas mais sustentáveis e eficientes no setor.

De acordo com Eduardo Colunna, presidente da Associação Brasileira dos Construtores de Barcos e Seus Implementos (Acobar), ao longo dos anos, a utilização do alumínio tem experimentado um crescimento constante, especialmente nas embarcações de serviço e uso naval (offshore).

“A principal razão é a durabilidade e leveza em comparação com as embarcações de aço. Além disso, alumínio é um material que agride menos o meio ambiente, tanto sendo casco das embarcações como nos processos produtivos”, justifica.

Aplicações

O alumínio consolida-se como protagonista nas águas da indústria naval, encontrando aplicação em uma variedade de embarcações que vão além da estética, proporcionando resistência e eficiência.

Segundo Elton Ferreira Higino de Cuba, diretor-comercial & Engenharia da Hydro Extrusão aqui no Brasil, os principais segmentos que demandam alumínio para a construção de embarcações incluem o mercado de iates (setor náutico) e as embarcações de grande porte, conhecidas pelo alto padrão e pela possibilidade de serem fabricadas com estruturas de alumínio. Destacam-se ainda as embarcações fluviais utilizadas para pesca e transporte em regiões de mananciais, como Amazonas e Pantanal, onde também há um significativo consumo de alumínio. Nesse mercado fluvial, as chapas 5052 são amplamente utilizadas para o casco, enquanto os perfis extrudados são essenciais na estrutura.

“Em embarcações de maior porte, o alumínio desempenha um papel crucial em diversas estruturas, tais como convés, anteparas, paredes, cascos laterais, rampas para veículos, convés para automóveis, funis e varandas, entre outros elementos. Além disso, o metal é empregado em diversos componentes e aplicações marítimas, como mastros de barcos à vela, baterias específicas para uso náutico, placas de freezer destinadas a embarcações de pesca e assentos de passageiros, entre outros”, completa Cuba.

Isso tudo quer dizer que as possibilidades de aplicação do metal são diversas. Segundo Luiz Henrique Caveagna, diretor-geral da Termomecanica, o alumínio pode aparecer ainda como artigo decorativo e em estruturas leves de interiores, em perfis de acabamento em barcos e lanchas, e até em detalhes mais mecânicos, como painéis de controle, instrumentação, compartimentos e sistemas de refrigeração e outras aplicações menores nas quais se requer resistência à corrosão e boa condução térmica.

Os benefícios do alumínio para a indústria 

Entre os principais atributos que conferem ao metal seu apelo para essa aplicação na indústria Naval, Solange Akiama, gerente-sênior de Excelência Comercial e Marketing da Novelis América do Sul, destaca seu baixo peso, possibilitando maior capacidade de transporte de carga. A resistência do alumínio à corrosão é outra característica importante, ampliando significativamente a durabilidade dos componentes e, por consequência, reduzindo os custos de manutenção.

“O alumínio é um metal bastante versátil, que apresenta excelente capacidade de conformação, boa resistência mecânica e soldabilidade, que são características importantes para o processo de produção da embarcação”, completa Solange.

Além das características já mencionadas, o diretor da Hydro Extrusão reforça a escolha do alumínio para fabricação, dobragem, conformação e usinagem. Suas qualidades o tornam ideal para aplicações internas, em que a possibilidade de anodização amplia ainda mais suas aplicações na indústria naval.

Para Caveagna, da Termomecanica, o alumínio não apenas redefine o conceito de peso, mas também traz consigo ganhos sustentáveis relevantes, pois, ao reduzir a carga de poluentes na atmosfera e promover uma eficiência superior no consumo de combustível, esse metal revela-se um agente transformador, ou seja, sua presença, que já é emblemática em diversos setores da economia, destaca-se mais uma vez como um aliado essencial na busca de práticas mais eco-friendly e eficientes.

Inovação 

Por falar em sustentabilidade, Elton de Cuba, da Hydro, mostra que a capacidade do alumínio de se reciclar infinitamente está se tornando um ponto crucial na fabricação de embarcações, porque, quanto mais conteúdo reciclado, menores são as emissões de CO2.

“Há um esforço para designs com peso mais leve, além de um trabalho para reduzir as emissões das embarcações e torná-las mais eficientes. Colaborando com esse mercado, a Hydro, por exemplo, possui Declarações Ambientais de Produto (EPD, na sigla em inglês) para todas as suas instalações de reciclagem e podemos demonstrar o nível de emissão de CO2 por kg de alumínio produzido. Temos metas de sustentabilidade e estamos colaborando com nossos clientes para que eles também alcancem as suas”, afirma.

A Novelis fornece ligas do grupo 5XXX para o setor naval. Atualmente, conta com projetos para o desenvolvimento de outras ligas para essa aplicação.

“O alumínio Novelis possui certificação ASI. A Aluminium Stewardship Initiative é uma iniciativa liderada pela indústria que tem como objetivo promover a sustentabilidade em toda a cadeia de valor do alumínio. Tanto a indústria do alumínio como os usuários de alumínio se beneficiam da certificação ASI ao demonstrar seu compromisso com padrões sociais, ambientais e éticos”, afirma Solange Akiama.

O futuro do mercado no Brasil

O setor náutico brasileiro conseguiu superar a crise global desencadeada pela pandemia e está atraindo fabricantes internacionais para a produção e possíveis investimentos em embarcações no País. E isso tem impulsionado a demanda por produtos de alumínio no segmento.

“No ano de 2022, pela primeira vez, as exportações de embarcações superaram as importações, e cada vez mais modelos nacionais estão navegando em águas europeias e nos Estados Unidos. De acordo com a Acobar, a perspectiva é de crescimento anual de, aproximadamente, 20% no mercado, impulsionado sobretudo pelas exportações”, aponta Solange.

Elton de Cuba menciona que o setor de barcos de serviço também contribui para um aumento significativo no consumo de alumínio. Isso é evidente no caso das embarcações destinadas às empresas de extração de petróleo offshore.

“Nessas circunstâncias, a demanda por alumínio é impulsionada pela necessidade de embarcações mais velozes e robustas, essenciais para o transporte de materiais auxiliares, mergulhadores, pessoas e equipamentos”, aponta o diretor da Hydro.

Em águas brasileiras

Eduardo Colluna, da Acobar, cita algumas empresas de sucesso no mercado náutico brasileiro com produções de alumínio. Na categoria de esporte e lazer destacam-se a MCP Yachts e o estaleiro Inace, ambos com sede no Brasil. Já nas embarcações de serviço e uso naval, o Estaleiro Arpoador também ganha reconhecimento.

Entre os modelos da MCP Yachts, localizada no Guarujá (SP), está seu iate de 40 m, chamado Seaview. Desenvolvido em parceria com o grupo holandês Vripack, o projeto apresenta um leiaute que prioriza a maximização de espaços e a privacidade, com todas as áreas de bordo acessíveis por escadas e espaços independentes. Construído totalmente de alumínio, o Seaview 40 M possui sete cabines e possui classificação internacional da RINA, com alcance transoceânico de mais de 3.500 milhas náuticas a 10 nós.

Já o Estaleiro Inace, sediado em Fortaleza, apresentou ao mercado recentemente o FHP40, um novo conceito de iate de 40 m em colaboração com o designer de iate Fernando de Almeida. Esse modelo, da nova linha da Inace, é um “explorer” projetado para ir a qualquer lugar, destacando-se pelo uso estratégico do alumínio na superestrutura.

Projetos inusitados

O Barco Hospital Papa Francisco, de alumínio, celebrou em 2023 quatro anos de missões na região do rio Amazonas, no Pará. Construída em Belém para prover assistência básica de saúde às comunidades ribeirinhas, a embarcação, administrada pela Fraternidade São Francisco de Assis na Providência de Deus, beneficia mais de mil comunidades na Amazônia. Os engenheiros responsáveis afirmam que não há no Brasil outra embarcação com essa estrutura hospitalar.

Com 32 m de comprimento, o barco possui uma equipe fixa de vinte tripulantes e recebe dez voluntários em expedições de sete a dez dias. Equipado com consultórios médicos e odontológicos, centro cirúrgico, sala oftalmológica completa, laboratório de análises, salas de medicação e de vacinação e leitos de enfermaria, o hospital flutuante também dispõe de equipamentos avançados de diagnóstico, incluindo raio-X digital, mamografia, ecocardiograma, ultrassom e eletrocardiograma. Além de oferecer atendimento básico, as equipes realizam a prevenção e o diagnóstico precoce do câncer por meio de exames e triagem.

Já em Paulínia (SP), a Leveforte Icoma construiu em 2018 os barcos Escolar 26 e Escolar 29CAB, veículos de alumínio naval seguros e confiáveis para o transporte de alunos no Brasil. Além de sua reputação de segurança, esses modelos se destacam pelo menor custo operacional em sua categoria e pela versatilidade de poderem ser equipados com motores de ampla variação de potência.

Projetadas para navegar em rios, lagos e mares abrigados, a Escolar 29CAB tem capacidade para até dezoito passageiros e dois tripulantes, enquanto a versão 26 transporta onze passageiros e um tripulante. Ambos são fabricados com liga de alumínio naval, apresentando casco e costado com espessura de 4,0 mm.

A robusta estrutura inclui ainda duas longarinas longitudinais dobradas com espessura de 6,0 mm, juntamente com longarinas transversais constituídas por perfis L e T extrudados na têmpera T6, proporcionando resistência excepcional à embarcação. Essas longarinas se conectam ao costado, formando um anel gigante que aumenta significativamente a resistência da embarcação. O piso é composto de placas de alumínio antiderrapante; o design inclui janelas deslizantes com abertura limitada, acesso pela popa e proa, porta-objetos sob o banco dos passageiros e limpador de para-brisa para o piloto.

Novidades em águas estrangeiras

Fonte: AlCircle.com

Com o desafio de reduzir o peso das superestruturas dos ferries costeiros Havila Kystruten (embarcações projetadas para o transporte de passageiros e veículos), a Hydro e o estaleiro turco Tersan embarcaram em uma busca de soluções inovadoras. Ao substituir o aço pelo alumínio, não apenas visavam a atender as exigências de redução de peso, mas também aprimorar a eficiência global das embarcações.

A estratégia envolveu a criação de perfis de alumínio extrudado personalizados, unidos por soldagem por fricção, formando grandes painéis modulares que resultaram em uma notável redução de peso de 55%. Além de cumprir com os rigorosos critérios técnicos e de segurança certificados pela DNV-GL, essa abordagem destacou a viabilidade e os benefícios do uso de materiais leves na construção naval, especialmente para embarcações que necessitam atender a padrões ambientais exigentes.

A Chantier Naval Forillon, empresa canadense especializada em construção naval, também está deixando sua marca na indústria com seu mais recente empreendimento: os barcos de busca e resgate da classe Bay. Construídos integralmente com alumínio, essas embarcações foram concebidas para operar em condições adversas e realizar operações de reboque em situações de perigo marítimo. O projeto tem como objetivo a modernização da frota da Guarda Costeira Canadense.

A relação peso-corpo da embarcação foi cuidadosamente planejada de forma a permitir que, em situações como tempestades subaquáticas ou outras calamidades naturais, o veículo possa readquirir sua posição original. Tal conquista foi viabilizada graças ao extenso uso do alumínio na construção.

“Essas embarcações demandam leveza, pois, em caso de virada durante uma tempestade intensa ou uma grande onda, têm a capacidade de se autoestabilizar, retornando à posição correta. Portanto, o peso desempenha um papel fundamental”, destaca Jean-David Samuel, presidente e CEO da Chantier Naval Forillon.

Desde a conquista de um contrato de US$ 78 milhões canadenses do governo federal em 2015, a Chantier Naval Forillon tem dedicado esforços incessantes à construção de dez barcos de alumínio idênticos, cada um batizado com o nome de uma baía do Canadá. O primeiro, Baie de Plaisance, foi entregue em 2017, e, o mais recente, Baie des Chaleurs, foi lançado em 2 de outubro de 2023.

Fotos: Divulgação

Veja também:

Empresa italiana lança iates de alumínio

O estaleiro italiano Rossinavi apresentou ao mercado sua mais recente investida na inovação náutica com o lançamento da marca Nolimits. Essa nova linha de embarcações de alumínio representa um avanço audacioso no design de iates, com cinco embarcações de alumínio projetadas especificamente para viagens transoceânicas. Os iates Nolimits variam de 30 a 45 m de

Empresa americana lança trailer de alumínio

A americana Polydrops apresentou ao mercado seu mais recente lançamento. Trata-se do trailer P19 Shorty, que traz como destaque a utilização do alumínio em sua construção. O alumínio empregado no novo trailer não só proporciona aos compradores um veículo mais resistente, mas também contribui para um isolamento eficaz, mantendo o interior do veículo a uma

Novo SUV da Polestar tem alumínio com baixo teor de carbono

A fabricante de carros elétricos Polestar apresentou ao mercado seu novo SUV de performance, o Polestar 3. O veículo traz uma significativa redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) e a implementação de práticas sustentáveis com uso do alumínio. Um relatório de Avaliação do Ciclo de Vida (LCA) do automóvel revelou que a

Rolar para cima
Rolar para cima