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Personalidades do setor: Conheça Victório Siqueira, profissional essencial para o desenvolvimento da indústria brasileira do alumínio

Engenheiro dedicou grande parte da vida ao setor, atuando na Alcan, Vale e Hydro

Para que o segmento do alumínio se consolidasse no Brasil, profissionais tiveram de dedicar esforço, estudo e investimentos de tempo e capital. Para dar visibilidade a alguns desses players, o portal Revista Alumínio estreia a seção “Personalidades do setor” contando a história de Victório Siqueira.

Natural de Boa Esperança (MG), Siqueira tem 80 anos de idade. Formou-se em engenharia de Minas e Metalurgia pela Escola de Minas de Ouro Preto, em 1965.

Há mais de 40 anos, reside no Rio de Janeiro. Mas quem o vê caminhando tranquilo, pelos calçadões da Praia de Copacabana, nem imagina as grandes contribuições desse senhor à indústria brasileira do alumínio.

Sua jornada no segmento teve início na Alcan do Brasil, na década de 1960. Depois, migrou para a Vale do Rio Doce, tendo participado ativamente da fundação da Albras e Alunorte, na cidade de Barcarena, no estado do Pará — empresas que pertencem à Hydro Brasil.

“Tenho imensa gratidão para com a indústria do alumínio e a considero importante para toda a sociedade. O alumínio é um material especial: leve, maleável, flexível e duro ao mesmo tempo. Com pequenas alterações na liga, é possível ter resultados completamente diferentes. Embora envolva toda essa cadeia produtiva, que emprega muita gente, ele ainda é extremamente barato e reciclável”, relata Siqueira.

Tudo começou em Ouro Preto
O início de sua carreira ocorreu na multinacional de origem canadense Alcan Aluminium, em 1966, na fábrica localizada no bairro de Saramenha, em Ouro Preto.

A empresa havia assumido a unidade junto à Eletro Química Brasileira (Elquisa) e, a partir de 1950, ampliou a produção da planta que foi a primeira produtora de alumínio em escala industrial do hemisfério Sul.

“Quando me formei, pretendia trabalhar na Petrobras, mas um ex-professor me convidou para entrar na Alcan, onde já estavam muitos colegas e conhecidos. Iniciei como engenheiro de Minas e mudei para a área de Metalurgia após dois meses”, conta.

Em 1968, interessada na modernização da produção de alumina, a Alcan investiu no ingresso de Victório no curso de Metalurgia Extrativa no Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ).

“A empresa bancou as despesas e o meu salário. Fiquei no Rio de Janeiro de março a dezembro daquele ano. Iria iniciar uma tese de mestrado, mas voltei para a fábrica em Ouro Preto porque havia lá muitos problemas para serem resolvidos devido a uma expansão. Na época, a produção era de apenas 36 mil t de alumina por ano”, explica.

Nesse período, Siqueira foi responsável por desenvolver e executar projetos de tratamento de bauxita e de racionalização da produção de alumina, o que possibilitou novas expansões, primeiro para 47 mil t/ano de alumina e, depois, para 90 mil t/ano.

“Tudo que era produzido, o Brasil consumia. E havia demanda por mais produção por parte do governo federal, porque o balanço de pagamento do país para importar alumina e alumínio estava precário”, comenta.

Nessa época, as três plantas nacionais não atendiam a demanda interna. Além da Alcan, havia a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), fundada em 1955 pelo Grupo Votorantim, e a Alcoa, com a mina de bauxita e sua fábrica em Poços de Caldas (MG), desde 1965.

Origem da MRN
Como a Alcan realizava muitas pesquisas no Norte do país, em 1967 descobriu grandes reservas de bauxita em Porto Trombetas, no município de Oriximiná, no Oeste paraense.

“Como no Sul e Sudeste, as reservas do minério eram pequenas, passou-se a cogitar a instalação de uma fábrica grande no Norte, mas a Alcan não tinha essa intenção, pois queria mandar a bauxita para o Canadá [seu país de origem]”, recorda.

No início de 1970, o ministro de Minas e Energia Antônio Dias Leite, do governo do militar Emílio Garrastazu Médici, passou a pressionar a Alcan a tomar uma atitude, já que detinha o direito de viabilizar a exploração.

A empresa apresentou um projeto pequeno em relação ao tamanho da reserva e, então, deu-se um impasse. O ministro Dias Leite forçou a barra e disse que queria montar um consórcio para fazer uma mina bem maior, com melhor impacto nas contas públicas.

Com isso, a Alcan criou um consórcio e a Vale do Rio Doce entrou no negócio por imposição do governo federal, dando origem à Mineração Rio do Norte (MRN), que iniciou a exportação de bauxita em 1979 e tinha capacidade para produzir 3,3 milhões t/ano.

Victório Siqueira com diretores da Vale guiando  missão japonesa para conhecer o Platô de Almeirim, no Pará (Fotos: acervo pessoal)

Projeto Albras e Alunorte
Nesse meio tempo, a Vale começou a montar uma equipe especializada em alumínio, já que atuava apenas com minério de ferro. Um antigo diretor da Alcan, Raymundo Campos Machado, que estava prestando assessoria à empresa, indicou Victório para trabalhar como assessor técnico na subsidiária Valenorte, em 1977.

“Saí da Alcan e fui para o Rio de Janeiro para integrar a equipe que estava começando a estudar a viabilidade da Albras e Alunorte. Eram projetos gêmeos para a fabricação de alumínio e alumina, respectivamente. Nessa altura, os sócios japoneses que estavam negociando com a Vale tinham muito interesse no negócio, devido ao potencial hidrelétrico do país, já que o custo de energia no país asiático era muito alto e inviabilizava a produção de alumínio.”

Depois da sociedade formada, houve muitas dificuldades políticas e financeiras. Foi iniciada a instalação da Albras e Alunorte, mas, em 1981, o preço do alumínio sofreu queda por causa da redução da produção bélica na União Soviética – seu enorme estoque do metal foi vendido no mercado internacional até 1988.

Isso causou uma crise no segmento do alumínio que durou sete anos. A Albras precisou reduzir a produção pela metade e a Alunorte seguiu em ritmo lento, pois não tinha para onde mandar o excesso de produção. Isso, somado à crise brasileira dos anos 1980, levou à paralisação da instalação de sua fábrica em 1986. “Um projeto grande como esse dependia de financiamento externo”, ressalta Siqueira.

Em 1988, surgiu uma novidade tecnológica importante para o setor. Até então, era comum no mercado a produção de alumina Floury, semelhante à farinha, fina e compacta, e que competia com a do tipo Sandy, de granulometria mais grossa, para a produção do alumínio. No entanto, o processo causava muitas emissões de fluoreto, elemento prejudicial à saúde e ao meio ambiente.

Houve pressão do governo americano e os produtores passaram a utilizar um lavador a seco chamado dry scrubber, que reduziu as emissões, mas que só funcionava com alumina Sandy, o que inviabilizou a Floury. Seus produtores precisavam converter a produção para Sandy, o que era muito dispendioso.

À direita, Victório celebra com engenheiros canadenses o início da operação da Alunorte. “Era a coroação, em julho de 1995, da longa batalha iniciada em 1980”, lembra

Victório conta que, felizmente, o grupo industrial Alusuisse desenvolveu um método que propiciava a conversão de Floury para Sandy sem a perda de capacidade e, logo, com baixo custo.

“Foi a salvação para os produtores de Floury e propiciou grande aumento de capacidade para quem já produzia Sandy. Isso foi fundamental para a recuperação da viabilidade econômica da Alunorte.”

Retomada da Alunorte
Em 1990, durante o governo de Fernando Collor, Wilson Brumer, presidente da Vale, transformou a área de alumínio da companhia em uma empresa denominada Aluvale, dando liberdade para a busca de sócios privados.

“Ele desatou o nó. Tanto a MRN, como a CBA, adquiriram ações da Alunorte e o projeto assumiu um ritmo frenético. Em 1995, teve a produção reiniciada e logo a refinaria demonstrou a excelência de seu projeto, chegando a produzir até 30% acima da capacidade nominal e mostrando ótimo desempenho energético e no controle ambiental.”

Tudo isso atraiu a multinacional norueguesa Hydro, que entrou como sócia, em 2000, com uma participação de 25%. Em seguida, a Vale, com apoio da Hydro, desenvolveu um arrojado programa de expansões que elevou a capacidade de produção da Alunorte de 1,1 milhão t/ano iniciais para mais de 6 milhões t/ano em 2009, tornando-a a maior produtora de alumina do mundo.

“Em 2010, a Alunorte, que um dia foi o ‘patinho feio’ da área de alumínio da Vale, passou a ser vista como uma joia valiosa. As ações da Vale foram vendidas para a Hydro, hoje sócia-majoritária”, destaca Siqueira.

 

De pé, à esquerda, com diretores da Alunorte na inauguração da empresa, em 1995

Aposentadoria, livro e consultoria
Em 2006, Siqueira se aposentou na Vale, mas a empresa quis que ele prestasse serviços como consultor. O profissional continuou dando apoio estratégico na área de produção de alumina e assistência à diretoria de Operação da fábrica da Alunorte, mesmo após ser vendida para Hydro, onde permaneceu por mais três anos.

Nesse meio tempo, o engenheiro também publicou o livro Alunorte – Uma história de sucesso, com apoio de Romeu Teixeira, ex-presidente da Albras, Alunorte e da própria Hydro.

Desde 2013, Siqueira tem atuado como consultor independente nas áreas de alumínio e não ferrosos. O segmento segue — e permanecerá — em seu DNA, mas agora dividindo espaço com os eventuais passeios pela orla da “princesinha do mar”, como tão bem classificou o compositor Alberto Ribeiro em Copacabana, clássico da bossa nova.

Em 2003, atuando no desenvolvimento da mina de Paragominas na companhia de geólogos da Vale

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