O consumo de alumínio no Brasil alcançou o quarto trimestre consecutivo de crescimento, acumulando uma alta superior a 12% nos primeiros nove meses de 2024. A informação foi destacada por Janaina Donas, presidente da Associação Brasileira do Alumínio (ABAL), na noite de 18 de dezembro, em entrevista ao jornal Times Brasil, da CNBC (Consumer News and Business Channel), um veículo por assinatura da NBCUniversal dedicado a notícias de negócios.
De acordo com a presidente da ABAL, o desempenho confirma as projeções feitas no final de 2023, indicando uma “virada” para o setor após anos de resultados moderados e até mesmo de recuo. Janaina explicou que a crise enfrentada durante a pandemia e o agravamento por conflitos internacionais, que impactaram negativamente indicadores econômicos, como as taxas de juros globais, foram superados, alcançando melhoria desses indicadores a partir de 2023. Com isso, decisões estratégicas tomadas em anos anteriores começaram a trazer resultados mais expressivos.
Entre os setores que impulsionaram esse crescimento destacam-se Eletricidade, Construção Civil, Embalagens, Bens de Consumo e Equipamentos de Transporte. O setor Elétrico, que até o ano passado ocupava a 4ª posição no ranking de consumo, agora está em 3º lugar entre os maiores consumidores de alumínio no Brasil.
A expectativa para o fechamento de 2024 é otimista, com possibilidade de um novo recorde histórico no consumo de produtos de alumínio no País. No entanto, Janaina ponderou que o desempenho do último trimestre será decisivo para confirmar se o crescimento será tão expressivo quanto o registrado nos períodos anteriores.
Autossuficiência e desafios
A presidente da ABAL também abordou a questão da autossuficiência do Brasil em relação ao alumínio.
A indústria brasileira de alumínio iniciou, em 2022, um processo de reversão da desindustrialização vivida na última década, com a retomada da produção de alumínio primário e a reativação de capacidades produtivas. Atualmente, o setor opera com um mix de alumínio primário e secundário, refletindo as tendências globais de crescimento do mercado.
“Quando se olha a tendência de crescimento do mercado de alumínio globalmente, existem organismos internacionais que estão projetando um aumento da ordem de 40% até 2030, e o Brasil tem um importante mercado consumidor. Ao observar a média per capita brasileira, de 7,4 kg por habitante, e comparar com o mercado internacional, que é de 22,4 kg por habitante, percebemos que temos um enorme potencial para crescer, principalmente considerando o mercado nacional”, declarou Janaina.
A presidente destacou, no entanto, que esse avanço dependerá de fatores como desempenho econômico e mudanças em marcos regulatórios que possam impactar mercados consumidores específicos.
Descarbonização
A sustentabilidade e a descarbonização são prioridades para o setor. Com investimentos contínuos ao longo dos anos, a indústria brasileira de alumínio se consolidou como uma referência global nessa área.
“Com a 4ª maior reserva de bauxita e a 3ª maior produção de alumina do mundo, o Brasil ocupa hoje a 8ª posição no ranking internacional de produção de alumínio. Grande parte do avanço na descarbonização do setor está vinculada ao uso de uma matriz elétrica limpa e aos investimentos de longa data em autogeração de energia”, apontou a executiva da ABAL .
Atualmente, o alumínio brasileiro possui uma intensidade carbônica 3,3 vezes menor que a média global, resultado desses investimentos contínuos em autogeração de energia, eletrificação de processos e circularidade. Cerca de 60% do alumínio consumido no País já é proveniente de material reciclado, consolidando o compromisso do setor com a sustentabilidade e conferindo ao Brasil um diferencial competitivo no mercado internacional.
Mercado dos EUA
A possível imposição de novas tarifas sobre produtos brasileiros, anunciada por Donald Trump, presidente eleito dos Estados Unidos (EUA), preocupa a indústria brasileira de alumínio, especialmente em razão das medidas protecionistas adotadas durante sua primeira gestão, como a Seção 232 da Lei de Expansão do Comércio dos Estados Unidos.
Essa política impôs sobretaxas ao alumínio brasileiro, criando barreiras para o setor no mercado norte-americano. Apesar da troca de governo nos EUA nos últimos anos, Janaina explicou que essas medidas não foram revogadas, evidenciando uma continuidade na política protecionista.
Para Janaina Donas, o setor precisa acompanhar de perto os desdobramentos dessas declarações, buscando se reposicionar e ampliar sua presença no mercado internacional.
“Embora o Brasil tenha vantagens competitivas, como qualidade, reservas significativas e baixa intensidade carbônica, o aumento do protecionismo global exige estratégias para enfrentar disputas relacionadas à normalização, certificação e métodos de relato”, disse ela.
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