Em 1986, a Alcan Alumínio do Brasil, atualmente Novelis, instalou o primeiro laminador a quente na unidade industrial de Pindamonhangaba (SP) para a produção de chapas especiais. Ali era dado um passo importante, o primeiro para que o Brasil começasse a produzir e comercializar, em 1989, por meio da Latasa, em Pouso Alegre (MG), uma das embalagens mais sustentáveis do mundo: a lata de alumínio para bebidas.
A novidade mexeu com o mercado e as vantagens atraíram fabricantes de bebidas e consumidores finais. A latinha também trouxe, pela primeira vez, o conceito real de economia circular, além de um novo ramo industrial com geração de emprego e renda.
Pioneira
A Skol lançou a primeira cerveja em lata de alumínio no mercado nacional. Em novembro de 1989, a marca propagava a embalagem como grande novidade para o verão: era bem mais leve (17 g) do que a fabricada com folha de flandres (51 g) — material laminado estanhado composto por ferro e aço de baixo teor de carbono. Além disso, tal latinha não enferrujava, uma das principais reclamações dos consumidores.
Logo, uma corrida entre as cervejarias teve início. As então rivais Brahma e Antarctica queriam a novidade. O sucesso da cerveja no alumínio é o melhor exemplo de como esse tipo de embalagem veio para ficar. Hoje, a Skol oferta latas de tamanhos variados, como as de 269 ml termossensíveis, lançadas sob o mote “de a bebida estar no ponto certo para ser consumida”. As de 473 ml também são sucesso, de acordo com a Ambev, dona da marca, além da tradicional de 350 ml.
“A garrafa de vidro (600 ml) representava quase a totalidade do que era encontrado nos supermercados e bares brasileiros. Em pouco tempo, nossa indústria já anunciava o aumento do número de fábricas e produção para atender o consumidor”, relata Cátilo Cândido, presidente-executivo da Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alumínio (Abralatas).
Aceitação
Para se ter ideia da evolução do setor, as quatro fabricantes de latas de alumínio instaladas atualmente no País — Ardagh, Ball, CanPack Brasil e Crown Embalagens — comercializaram 26 bilhões de unidades no ano passado e têm boas perspectivas para 2019. Além disso, a média de consumo anual per capita é de 125 latas, segundo a Abralatas.
Uma vantagem que o alumínio oferece é a integridade da bebida: o maior adversário da conservação da boa cerveja é o raio ultravioleta. Portanto, as embalagens de vidro sofrem nesse aspecto, enquanto o metal nada de braçada.
Há também os novos padrões de compra da sociedade. A indústria busca atualizar-se de forma a atrair os olhos do público, levando em consideração beleza, design, conveniência e praticidade, adaptando a embalagem a cada momento de consumo.
“A modernização da lata, o aperfeiçoamento do processo industrial, o bom engajamento com toda cadeia produtiva e o saber ouvir clientes e consumidores foram pontos fundamental nessa conquista”, reforça o dirigente da Abralatas.
Com o tempo, também foram criados novos formatos, vernizes, tintas, texturas e funcionalidades. “Nos últimos 30 anos, as atualizações da lata a transformaram em uma embalagem sofisticada, adequada a cada situação de consumo e alinhada com o que há de mais moderno em tecnologia industrial”, complementa Cátilo Cândido.

Leve, prática e sustentável
Em virtude do menor peso, a lata de alumínio também é aliada na logística de distribuição pelo País, colaborando para a diminuição de custos e também da poluição. Tamanho sucesso com armazenamento, distribuição, redução de perdas e maior proteção ao sabor da bebida, se reflete na crescente participação da latinha no mercado nacional de cerveja, que já envasa mais de 50% do que é produzido por aqui. O movimento também tem impactado as cervejarias artesanais.
Luciana Pellegrino, diretora-executiva da Associação Brasileira de Embalagem (Abre), destaca que a lata de alumínio oferece portabilidade, com o reflexo positivo para o setor de bebidas no Brasil. “Com esse ganho expressivo, a indústria pôde crescer e trabalhar na diversificação, chegando mais próximo do consumidor. A lata de alumínio trouxe uma diferenciação na experiência de consumo”, reforça a diretora.
Cátilo, da Abralatas, ressalta ainda que soma-se a isso a adequação ao perfil cada vez mais exigente do consumidor moderno, preocupado com o impacto sustentável das escolhas e capaz de avaliar e decidir o “custo ambiental” do produto.
“Quando passou a ser fabricada no Brasil, a lata trouxe consigo campanhas inéditas de reaproveitamento da embalagem. Esse movimento auxiliou na educação ambiental do consumidor brasileiro.”
Ganhos com a reciclagem
Ao longo dos anos, a reciclagem também se mostrou uma das grandes vantagens da lata de alumínio, a partir do menor impacto ambiental relativo a todas as embalagens para bebidas. Outros diferenciais:
- Menor gasto de energia por litro envasado;
- Menor uso de água na produção da embalagem;
- Diminuição de risco para o catador de materiais recicláveis;
- Formato inovador — permite eficiência no armazenamento e no transporte.
O último levantamento realizado pela Abralatas e a Associação Brasileira do Alumínio (ABAL) mostra que, apenas na etapa de coleta da latinha, R$ 1,2 bilhão foi injetado diretamente na economia brasileira em 2017. Além disso, o índice de reaproveitamento dos recipientes colocados no mercado é superior a 90% desde 2004. Os números de 2017 indicam que 296 mil t das latas comercializadas foram recicladas naquele ano — um total de 97,3%.

Eunice Lima, diretora de Comunicação e Relações Governamentais da Novelis América do Sul, conta que a empresa tem participação ativa nesse setor, ao reciclar mais de 60% das latinhas coletadas, contribuindo para que o Brasil se mantenha como líder mundial neste quesito.
Atualmente, a empresa tem a capacidade instalada de 580 mil t/ano de laminados de alumínio (chapas) e 390 mil t/ano de reciclagem de alumínio na fábrica de Pindamonhangaba (SP).
Com foco na expansão, a Novelis anunciou o investimento de R$ 650 milhões para o aumento da capacidade de laminação e reciclagem de alumínio no Brasil. O crescimento beneficiará os setores de latas de bebidas e especialidades, com o aumento da capacidade de produção de chapas em 100 mil t/ano e de reciclagem em 60 mil t/ano.
Evolução da fabricação no Brasil
- Após quatro anos do início da produção nacional de lata de alumínio em 1989, já se vendia mais de 1 bilhão de unidades por ano;
- 1996: a americana Crown Cork Embalagens, atualmente Crown Embalagens, passou a ser a segunda fabricante a operar no Brasil, em Cabreúva (SP);
- No mesmo ano, o setor alcançou a marca de 6 bilhões de unidades comercializadas;
- A American National Can também se instalou no País, em Extrema (MG);
- 1997: a fábrica da Latapack-Ball Embalagens, uma joint venture com a Ball Corporation, iniciou operações em Jacareí (SP);
- Nesse período, a Latasa já possuía quatro unidades fabris distribuídas em Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo;
- 2000: a inglesa Rexam adquiriu a American National Can e criou a Rexam do Brasil;
- 2003: nasce a Abralatas, quando o mercado já ultrapassava a marca de 10 bilhões de unidades vendidas anualmente;
- 2016: a americana Ball adquire a Rexam e se torna a maior fabricante de latinhas do Brasil;
- Nesse mesmo ano, a irlandesa Ardagh e a polonesa CanPack chegam ao mercado nacional, completando o quadro atual de produtores nacionais com a Crown Embalagens.
- 2019: o Brasil tem 22 unidades fabris de latinhas distribuídas em todas as regiões

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