A Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) deu um passo significativo rumo à sustentabilidade ambiental com o lançamento, em abril, do seu novo sistema de tratamento de resíduos. Em visita guiada pela refinaria da empresa, localizada em Alumínio (SP), a repórter Juliana Klein, do portal Revista Alumínio, teve a oportunidade de explorar as inovações implementadas e conversar com Alexandre Vianna, diretor de Negócios Primários da CBA, sobre as realizações do projeto.
O investimento massivo de cerca de R$ 500 milhões foi direcionado para a substituição do antigo processo úmido pelo novo sistema de tratamento a seco. Esse sistema inovador é operado por três filtros-prensa, os quais desempenham um papel crucial na concentração dos resíduos resultantes da produção de alumina. Esses materiais, antes direcionados diretamente para a barragem da CBA de Palmital, passam agora por uma etapa de filtragem, tornando a barragem mais seca e segura.
Novo processo
Durante a visita, Alexandre Vianna explicou detalhadamente o funcionamento do processo. Ele descreveu como a refinaria da CBA extrai o óxido de alumínio da bauxita, transformando-o em um produto intermediário. Esse óxido, por sua vez, é utilizado na eletrólise para produzir alumínio líquido. No entanto, ele chamou a atenção para o fato de que metade da bauxita não se converte em óxido de alumínio, sendo descartada como resíduo de bauxita.
Segundo Vianna, no processo convencional, o resíduo é enviado diretamente para a barragem de Palmital, onde fica armazenado desde o início da operação da fábrica, há quase setenta anos. A barragem tem capacidade para quase 30 milhões de t, e assim tem sido a prática ao longo de todos esses anos.
Já o novo projeto consiste em utilizar a tecnologia do filtro-prensa para tratar o resíduo da refinaria antes de enviá-lo para a barragem. Ou seja, em vez de ser depositado diretamente na barragem, o resíduo passa por uma planta de filtragem, onde sua concentração de sólidos aumenta de 45% para 75%. Esses 75% de sólidos são depositados em uma pilha próxima ao filtro para, então, uma infraestrutura de caminhões, tratores e carregadeiras transportá-los gradualmente para a barragem.
“O que fizemos foi adaptar a estrutura da nossa barragem para acomodar o empilhamento desse resíduo. Com essa configuração, eliminamos a necessidade imediata de construir um local para isso e transformamos nossa própria barragem em uma espécie de aterro”, explica Vianna.
O primeiro movimento realizado para a viabilidade desse projeto foi a retirada gradual da água da barragem. Esse processo já dura mais de seis anos, durante os quais a água vem sendo sacada e reaproveitada, resultando na redução gradual da quantidade de água na barragem, que já diminuiu 81%. Essa medida não apenas aumenta a segurança da estrutura, mas também contribui para a redução de riscos, visto que, quanto menor a quantidade de líquido na barragem, mais segura ela se torna.
Vantagens
As vantagens desse projeto são múltiplas. Em primeiro lugar, ele viabiliza a circularidade do resíduo, anteriormente inviável devido à sua alta umidade. Com a concentração de sólidos em 75%, torna-se possível destinar esse resíduo para a indústria cimenteira, na qual se transforma em um insumo para a produção de cimento. Isso resolve um problema de destinação de resíduos e ainda contribui para o compromisso da empresa com a agenda ESG até 2030, visando a alcançar a meta de resíduo zero.
A segunda vantagem apontada pelo diretor de Negócios Primários da CBA é que a implementação desse sistema permite que a barragem continue em funcionamento por duas décadas adicionais, evitando a necessidade imediata da construção de uma nova estrutura. Antes, a previsão era de apenas mais três ou quatro anos de operação.
É importante ressaltar que o projeto fecha o circuito da água, promovendo a economia de insumos. Isso porque a água residual ainda contém soda, um insumo que é utilizado na refinaria. Então ela é tratada e reintegrada ao processo.
Investimentos
O investimento total de R$ 500 milhões já está em fase avançada, com R$ 420 milhões já aplicados nas estruturas robustas dos filtros-prensa, instalações, tubulações, compressores etc.
Os R$ 80 milhões restantes serão direcionados para as adequações finais na barragem ao longo dos próximos vinte anos, para ela virar gradativamente um aterro. Ao término desse período, a barragem será descomissionada, ou seja, será feito o seu reflorestamento, transformando-a em um bosque, encerrando assim seu ciclo de vida.
Projeto-piloto
Iniciado há quase dez anos com equipamentos importados da empresa italiana Diemme, o projeto-piloto passou por ajustes operacionais relevantes, resultando também em descobertas surpreendentes.
Além de seu papel principal de tratar os resíduos, o filtro-prensa mostrou-se capaz de realizar a limpeza da água residual. Essa descoberta contribuiu para a redução significativa do nível de água na barragem de Palmital em 81%.
Durante a visita guiada, Vianna destacou que os filtros-prensa em operação são capazes de processar até 110 t de resíduos por hora, garantindo eficiência operacional sem a necessidade de expansões futuras. São dois filtros em funcionamento contínuo e um utilizado como backup.
“Já temos todos os estudos e certificações para utilizar os resíduos na indústria cimenteira. A única aplicação que tem impacto hoje para fechar a nossa circularidade é nessa área. Então, o que vai acontecer daqui em diante é a geração desse resíduo sem água. A partir daí, começaremos a fechar nossos contratos com as empresas para começar a enviar isso como matéria-prima para as cimenteiras. É só isso que falta”, comemora o diretor de Negócios Primários da CBA.
Fotos: Divulgação CBA