O segmento de alumínio no Brasil demonstra sinais de forte expansão. Dados da Associação Brasileira do Alumínio (ABAL) revelam um crescimento significativo no consumo de produtos de alumínio em 2024, atingindo a marca recorde de 1,8 milhão de toneladas, um crescimento de 13,5% em relação a 2023.
A construção civil liderou o crescimento nesse período, com alta de 21,9%. A eletricidade também se destacou, com aumento de 20,7%, enquanto máquinas e equipamentos apresentaram alta de 17,8%. O setor de transportes expandiu 15,6%, bens de consumo registraram 9,5%, e embalagens, uma elevação de 8,4%.
“O crescimento do índice de consumo doméstico de alumínio no País, por quatro trimestres consecutivos, confirma o viés de retomada do setor. Fechamos um 2024 positivo após dois anos de um ciclo de queda moderada para a nossa indústria”, revela Janaina Donas, presidente-executiva da ABAL.
Com um 2024 positivo, todos os olhos agora se voltam para 2025, um ano que se desenha ainda mais otimista para o mercado brasileiro de alumínio.
Investimentos
Em 2025, a indústria brasileira do alumínio celebra a conclusão de um ciclo de investimentos de R$ 30 bilhões, iniciado em 2022. Os recursos foram direcionados para expansão de minas, retomada da produção de alumínio primário, novas plantas, tecnologias de reciclagem e inovação em processos produtivos, com foco em sustentabilidade.
A presidente-executiva da ABAL anunciou a previsão de um novo ciclo de investimentos para o período de 2026 a 2030, com foco em aumento da produção, descarbonização, transição energética e expansão de minas.
Oportunidade global
O ano de 2025 reserva também um marco significativo para o Brasil, com a realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30) em Belém, no Pará, de 10 a 21 de novembro. O evento global, que reunirá líderes, especialistas e representantes da sociedade civil, coloca o País no centro do debate climático e abre uma janela de oportunidades para o setor de alumínio.
A COP 30 representa uma chance única para o Brasil destacar seus esforços em sustentabilidade e impulsionar investimentos em tecnologias limpas e processos produtivos eficientes. O segmento de alumínio, com seu potencial de reciclagem infinita e aplicações em soluções sustentáveis, desempenhará um papel crucial na transição para uma economia de baixo carbono.
Desafios
Apesar do crescimento e das oportunidades, o setor enfrenta desafios. Segundo Janaina Donas, da ABAL, o consumo per capita de alumínio no Brasil, de 7,4 kg por habitante, ainda está abaixo da média global de 22,4 kg, indicando potencial de crescimento. A reforma tributária, embora prometa reduzir a carga tributária, ainda não resolve a disparidade em relação aos produtos importados.
A ABAL também manifestou preocupação com a nova tarifa de 25% sobre a importação de alumínio, a Seção 232, anunciada pelos Estados Unidos, que pode impactar o mercado global e as relações comerciais. Barreiras como o Mecanismo de Ajuste de Carbono na Fronteira (CBAM) da União Europeia também preocupam o setor.
Para avaliar o desempenho do setor no último ano e nos passar um panorama de como será esse mercado para 2025, o portal Revista Alumínio consultou empresas do alumínio que operam em território nacional. Descubra como as companhias brasileiras vivenciaram 2024 e as expectativas para este ano.
Alumínio primário
Para a Alcoa Brasil, a indústria de produção de alumínio tem mostrado força e resiliência, conquistando resultados significativos em 2024.
“Acreditamos no potencial de crescimento da indústria, que já está sendo impulsionada pela demanda global por materiais estratégicos para a transição energética e pela consolidação de uma cadeia produtiva verticalizada e sustentável no País. A Alcoa, por exemplo, está focada em produtos que atendam ao aumento do consumo de alumínio, tanto para carros elétricos como para transmissão de energia”, considera Gisele Salvador, diretora-financeira da Alcoa Brasil.
De acordo com Gisele, o destaque no excelente desempenho da empresa no setor de alumínio primário em 2024 deve-se, em grande parte, à forte demanda dos quatro principais grupos consumidores do metal: transportes, embalagens, construção civil e elétrico.
Para 2025, a Alcoa projeta um cenário ainda mais promissor, ocasionado pelo reaquecimento econômico, fortalecimento da indústria e aumento dos investimentos no mercado interno. A companhia planeja continuar investindo em eficiência energética, descarbonização e economia circular para otimizar a produção de alumínio primário e oferecer produtos cada vez mais sustentáveis.
Chapas de alumínio
Em 2024, a Novelis manteve uma trajetória de crescimento sustentável, superando desafios relacionados a fatores climáticos que impactaram a sazonalidade das vendas. A adoção de uma gestão estratégica, aliada ao fortalecimento de parcerias com clientes e fornecedores, permitiu maior estabilidade operacional e comercial ao longo do ano.

“Entre as principais iniciativas implementadas, destacam-se a ampliação da capacidade produtiva e o aprimoramento de práticas sustentáveis, garantindo maior eficiência e qualidade no atendimento às demandas do mercado. Essas medidas reforçam o compromisso da empresa com a inovação, a competitividade e a sustentabilidade”, afirma Gabriel Sekine, gerente de Marketing e Desenvolvimento de Produto.
O mercado de latas de alumínio para bebidas foi o principal destaque para a Novelis no último ano, consolidando o Brasil como o terceiro maior mercado global. A crescente variedade de bebidas em lata, como “RTDs” (do inglês ready to drink, drinques prontos para consumo), refrigerantes zero e cervejas sem álcool, impulsionou a procura pelo produto. Consequentemente, a produção da Novelis acompanhou o ritmo de demanda do mercado.
Para 2025, a Novelis projeta um panorama positivo para o setor de alumínio, impulsionado pela necessidade de soluções sustentáveis e expansão de sua capacidade de laminação para 750 mil t/ano. A empresa tem como objetivo atender ao crescimento do mercado de chapas de alumínio não só para o setor de latas de bebidas, mas também para outros nichos industriais, como transporte, automotivo e construção civil.
Cabos de alumínio
A Alubar, empresa de produção de cabos elétricos de alumínio na América Latina, encerrou 2024 com resultados expressivos, promovidos pela crescente demanda nos setores de transmissão e distribuição de energia no Brasil. Maurício Corona Machado, diretor-comercial da companhia, afirma que os investimentos realizados nos últimos anos prepararam a Alubar para satisfazer a esse quadro favorável, com destaque para a participação nos leilões da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que geraram pedidos de mais de 300 mil t de cabos elétricos até 2027.

O setor de transmissão está em plena expansão, com o País investindo em novas linhas para transportar a energia renovável produzida nos parques eólicos e solares. No setor de distribuição, o ano de 2024 foi crucial para a renovação e ampliação de contratos importantes com as principais concessionárias brasileiras. A Alubar prevê que 2025 seja um ano ainda melhor.
“Graças aos leilões anteriores e aos contratos de distribuição, 2025 demonstra ser um ano extremamente promissor para a Alubar, com grande parte da nossa produção já alocada. Apesar desse cenário, asseguramos que o mercado e, em especial, nossos parceiros terão disponibilidade de condutores para projetos de curto prazo”, afirma Machado.
Além do sucesso no mercado nacional, a Alubar vem expandindo sua atuação para o Canadá e os Estados Unidos desde 2023, onde produz vergalhões de alumínio. Agora, iniciou a produção de condutores de alumínio em sua planta no Missouri, Estados Unidos.
Da bauxita aos transformados
Em virtude de sua cadeia produtiva integrada e investimentos estratégicos, a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) encerrou 2024 com resultados positivos. Luciano Alves, CEO da empresa, evidencia a autossuficiência na produção de bauxita, alumina e energia renovável como diferencial competitivo, blindando a companhia das oscilações globais de preços. Além disso, a atualização da estratégia de longo prazo, com foco em crescimento e modernização em todas as etapas produtivas, reforçou a posição da CBA no mercado.

“Como exemplos de entregas essenciais para o crescimento e perenidade do negócio, finalizamos dois dos investimentos anunciados no IPO (Oferta Pública Inicial, em português). Um deles é a disposição de resíduos a seco na barragem do Palmital, em Alumínio (SP), que prevê ampliar a parte sólida dos materiais ali depositados, tornando o conteúdo ainda mais seco e, portanto, o reservatório mais seguro. O outro é a tecnologia ReAl, uma inovação patenteada pela CBA que permite separar o alumínio do plástico em embalagens multimateriais, trazendo uma solução para o setor e uma nova perspectiva para a cadeia de reciclagem. A planta tem capacidade para reciclar 1,3 bilhão de embalagens por ano. São iniciativas que nos mantêm focados no aumento de nossa produção e na oferta de um alumínio de baixo carbono, com impactos positivos para o meio ambiente e a sociedade”, aponta Alves.
Na visão do CEO, o mercado brasileiro de alumínio apresentou demanda consistente em 2024, ultrapassando os níveis registrados em 2023 e superando as expectativas do setor. E a CBA, com seu portfólio diversificado, aproveitou as oportunidades em diversos segmentos, com destaque para transportes, com maior procura de lingote-liga; construção civil, reflexo da demanda de tarugos; embalagens, relacionado às folhas de alumínio; e eletrificação, com maior busca por vergalhões para a fabricação de cabos. O volume total de alumínio da empresa cresceu 10%, atingindo 503 mil t, e a receita líquida consolidada alcançou R$ 8,2 bilhões. O segmento de reciclagem também apresentou crescimento expressivo de 21%.
Para 2025, a CBA permanece bem posicionada, com foco na execução do plano de investimentos de R$ 2,3 bilhões. Os projetos incluem a modernização gradual da tecnologia das Salas Fornos, a instalação de novos equipamentos para aumentar a produção de folhas finas e extrafinas, a ampliação da capacidade de captação e processamento de sucata visando a aumentar o volume de material reciclado na produção e demais iniciativas para ampliação da capacidade, produtividade e melhoria da eficiência operacional.
Da produção à reciclagem
Equilibrando o crescimento da empresa com o avanço na descarbonização de suas operações, a Norsk Hydro Brasil encerrou 2024 com resultados sólidos, de acordo com Anderson Baranov, CEO da Hydro Brasil. O executivo afirma que o principal desafio do ano foi lidar com as flutuações do mercado de alumínio, impactado por tensões geopolíticas e incertezas econômicas.

Para enfrentar esse cenário, a Hydro implementou estratégias de curto e longo prazo, com foco na produção de alumínio de baixo carbono e na meta de reduzir suas emissões de CO2 em 30% até 2030. Um dos pilares dessa estratégia foi o investimento em energias renováveis de R$ 8,8 bilhões desde 2022, com a inauguração de duas usinas solares: Mendubim (RN) e Boa Sorte (MG). A Usina de Mendubim, em parceria com a Equinor e Scatec, fornecerá 60% de sua capacidade para a Alunorte, enquanto a Usina de Boa Sorte, em colaboração com a Atlas Renewable Energy, destinará 12% de sua energia para a Albras, maior produtora de alumínio primário do Brasil.
Em 2025, a Hydro pretende continuar contribuindo para o desenvolvimento do segmento de alumínio e para o progresso da região amazônica, além de seguir crescendo de forma sustentável, em compromisso com a comunidade e o meio ambiente.
“Será um ano de desafios e oportunidades, uma vez que ocorrerá, em Belém (PA), a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30). Trata-se de oportunidade única para avançarmos nas discussões sobre sustentabilidade no contexto do Brasil e da Amazônia e para atrairmos novos investimentos, além de consolidar a Hydro como protagonista global nessas conversas”, afirma Baranov.
Ligas de alumínio
A AMG Brasil enfrentou um 2024 desafiador, marcado pela inflação e acirrada competitividade no mercado global de alumínio. Segundo Fabiano Costa, CEO da empresa, a busca por redução de custos e a otimização de processos foram cruciais para manter a competitividade. Apesar das dificuldades, setores como construção civil, eletrificação, produção de ar-condicionado e estruturas para ônibus e caminhões elétricos impulsionaram a demanda, permitindo à AMG conquistar novos contratos no Brasil.

No mercado externo, por sua vez, a empresa expandiu suas exportações em 39%, mas sofreu com a redução de margens devido à concorrência global. A AMG também investiu em processos que utilizam materiais recicláveis, alinhando-se às práticas de sustentabilidade e ESG. A diversificação de produtos, que atende a diversos segmentos da fundição, foi um dos pilares do sucesso da companhia em 2024.
“A AMG possui diversas soluções em termos de ligas de alumínio para os diferentes tipos de fundições do mercado. Em todos os segmentos, podemos destacar a importância dos refinadores de grãos de alumínio (Titânio-Boro-Aluminio, conhecido como TiBAl, principal produto da AMG), essencial nas fundições de alumínio para garantir o refino dos grãos na liga do cliente. Esse produto está presente em quase todos os segmentos em que atuamos e foi responsável pelo bom resultado da empresa em 2024”, considera Costa.
Para 2025, a expectativa é de crescimento na produção e melhora nas vendas no cenário global. A empresa pretende expandir sua presença no mercado global, oferecendo produtos de alta qualidade e firmando parcerias de longo prazo. A AMG ainda destaca a importância de incentivar o consumo per capita de alumínio no Brasil, visando à redução de emissões de carbono e ao aproveitamento do potencial de reciclagem do material.
Bobinas de alumínio
A Elfer encerrou 2024 com resultados expressivos, impulsionados pelo crescimento em seus segmentos estratégicos, como os setores de defesa, construção civil e automotivo. Fábio Mazziero, gerente-comercial da empresa, ressalta a capacidade da Elfer de compreender as necessidades do mercado e atuar como parceiro estratégico de seus clientes.
“Em um mercado em constante mudança, saber que é possível contar com seu fornecedor é muito importante, e a credibilidade e confiabilidade da Elfer se destacam”, afirma Mazziero.
A empresa vislumbra um 2025 promissor, apesar de desafios como a mudança de governo nos Estados Unidos e a previsão de novas altas da Selic no Brasil. Para estimular ainda mais seu crescimento, a Elfer tem investido na expansão de sua área comercial e na melhoria de seus processos e tecnologias, com o intuito de aumentar a flexibilidade no atendimento e a produtividade.
Peças e perfis de alumínio
A Prolind superou um ano de 2024 desafiador, com foco na otimização de processos internos e na adaptação a um novo modelo de gestão corporativa. Segundo Bruno Eduardo Barros de Araújo, gerente-comercial da empresa, o tracionamento da refusão e a expansão do segundo forno demandaram recursos significativos, enquanto a mudança na estrutura interna exigiu reinvenção de diversos setores.

“Olhando para fora, tivemos um ano pungente; a produção no geral cresceu 12,1%, com setores como o de eletricidade e construção civil puxando esse crescimento. Isso fez com que tivéssemos que atuar de forma coordenada e disciplinada para aproveitar essas oportunidades. Com a alteração para o modelo de gestão corporativo, não devemos mais nos referir aos negócios como Unidades, e sim como Negócio de Refusão, Negócio de Peças”, explica Araújo.
Para a Prolind, os setores de transportes e transformação foram os que apresentaram melhor desempenho em 2024. A procura por perfis de alumínio impulsionou tanto a extrusão como a refusão, enquanto o negócio de peças da empresa conquistou projetos estratégicos nos mercados automotivo e agrícola.
Para 2025, a Prolind prevê um cenário de incertezas, influenciado por questões políticas e econômicas internas e externas. A empresa adota uma postura cautelosa, monitorando os mercados para identificar oportunidades e mitigar riscos.
Construção
Em 2024, o mercado imobiliário brasileiro apresentou crescimento robusto, impactando positivamente a indústria de alumínio, especialmente no setor da construção civil. Dionysio Klavdianos, vice-presidente de Inovação da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), destaca que o alumínio consolida-se como o material preferencial para esquadrias, tanto em projetos de alto padrão como em moradias populares, impulsionando as vendas do setor.
“Apesar do alto custo da commodity, que pressiona a gestão de custos do construtor, o alumínio possui características técnicas e de desempenho únicas que o tornam vencedor na equação custo-benefício em relação ao aço e ao PVC; por isso ele sempre será muito utilizado na construção. A indústria de alumínio também investe em pesquisa e desenvolvimento e a coloca em dia com as inovações e a evolução tecnológica do setor”, afirma o vice-presidente.
A CBIC reconhece o papel crucial do alumínio na construção, especialmente em relação à sustentabilidade. Embora a indústria seja intensiva em energia e extração de matéria-prima, a entidade mostra os esforços do segmento na adoção de medidas preventivas para minimizar seu impacto ambiental.
Klavdianos ressalta ainda a importância da indústria do alumínio na cadeia de suprimentos da construção civil, impactando diretamente a eficiência e a economia dos projetos. A entidade enfatiza, contudo, a necessidade de constante inovação para garantir a competitividade do material, sobretudo no contexto da meta do governo federal de construir três milhões de residências.
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