Green circular economy concept. Arrow infinity symbol with grass on concrete wall.

Economia circular: alumínio é aliado

A humanidade tem consumido mais recursos naturais do que a Terra é capaz de gerar. Como algo precisa ser feito, as alternativas à produção linear são um caminho

Os recursos naturais não são mais suficientes à Terra desde 1970, de acordo com a Global Footprint Network. Essa organização internacional de pesquisa faz cálculos de pegada ecológica para determinar anualmente o Dia de Sobrecarga da Terra — quando a humanidade esgota todos os recursos que o planeta é capaz de produzir naturalmente em um ano. Em 2018, o marco chegou mais cedo, em 1º de agosto. Ou seja, estamos agora usando uma espécie de ‘cheque especial’ inexistente: precisaríamos de 1,7 planeta para suprir a demanda de materiais e insumos que consumimos.

Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) e do Banco Mundial estimam que a população terrestre, que hoje está na faixa de 7 bilhões, será de 9,8 bilhões em 2050, gerando 3,5 bilhões de t lixo no planeta — um aumento de mais de 2 bilhões de t em 34 anos. A Índia vai passar a China como país mais populoso do mundo num prazo de sete anos e a população da Nigéria deverá ser maior que a dos Estados Unidos, tornando-se a 3ª nação mais populosa do mundo em 35 anos.

Com a Terra cada vez mais populosa, recursos escassos e volumes maiores de lixo, a conta não fecha. Diante disso, o que fazer? Repensar o modelo linear de extração, fabricação, consumo e descarte, como defende a Fundação Ellen MacArthur. Desde 2010, ela trabalha com a missão de acelerar a transição rumo à economia circular e se tornou, ao longo dos anos, uma das líderes globais de pensamento, inserindo esse conceito na agenda de tomadores de decisão em empresas, governos e na academia.

O modelo, segundo a fundação, contribui para a saúde geral do sistema nos grandes e pequenos negócios. Entretanto, não se trata de uma transição que apenas reduz os impactos da economia linear: significa uma mudança sistêmica de longo prazo, geradora de oportunidades econômicas nos negócios, além de proporcionar benefícios ambientais e sociais.

“A produção é cada vez mais ampliada, mas não se pensa no pós-consumo”, aponta Fernanda Daltro, gerente de Campanhas da ONU Meio Ambiente no Brasil. “A escolha por materiais no desenvolvimento de embalagens, por exemplo, não é pensada nesse sentido.”

Um reconhecido case de sucesso
Na contramão dessa linearidade, a indústria de latas de alumínio aprendeu a remunerar toda a cadeia há mais de trinta anos, como pontua Renault Castro, presidente-executivo da Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alumínio (Abralatas).  Das 286,6 mil t produzidas em 2016, 97,7% foram recicladas. E esse processo é rápido, leva pouco mais de um mês entre consumo, descarte e reciclagem.

“Os fabricantes souberam utilizar as características da embalagem para atender as oportunidades de consumo. A lata ganhou diversos tamanhos, formatos e usa a possibilidade de impressão em todo o corpo da embalagem para valorizar marcas e campanhas, possibilitando uma cara nova para cada evento pelo País”, afirma o executivo.

97,7% das latas produzidas no Brasil são recicladas: processo leva pouco mais de um mês entre consumo, descarte e reciclagem

 

Castro cita exemplos, como na Copa do Mundo, que teve latas destacando o evento. Há, ainda, os diferentes tipos de impressão, com tintas que brilham no escuro ou que mudam de cor de acordo com a temperatura. “As possibilidades são múltiplas e é isso o que nos diferencia da concorrência até hoje”, aponta.

Além das diversas possibilidades de design com o alumínio, Carlos Morais, diretor de Reciclagem da Novelis, destaca o valor gerado em toda a cadeia. “A latinha tem uma vantagem competitiva muito expressiva. O catador, um dos grandes pilares do processo, fica com, aproximadamente, 80% do valor da lata e isso só é possível porque o setor garante a oferta”, afirma.

Segundo Morais, a possibilidade de redução do tamanho da lata também é um fator que contribui, inclusive, para a redução na emissão de gás carbônico, o CO2, durante o transporte do material, já que embalagem mais leve significa menos consumo de combustível e facilita o manuseio no varejo.

“O Brasil, no ranking mundial de reciclagem, é o mais importante exemplo de aproveitamento do alumínio, com um conceito de recuperação e reutilização extremamente estratégico para a sustentabilidade e economia”, acrescenta Antônio Carlos Assis, diretor de Novos Negócios, Marketing e Distribuição da Recicla BR.

Dados da The Aluminum Association mostram que as emissões de gases de efeito estufa somadas ao transporte e refrigeração de latas de alumínio são de 7% a 21% menores do que as embalagens de plástico, e de 35% a 49% menores do que as de vidro, dependendo do tamanho das garrafas e dos tipos de refrigerador em que a bebida é refrigerada. Já as emissões de gases do efeito estufa associadas a uma lata de 350 ml são 45% inferiores às de uma garrafa de vidro de 350 ml e 49% inferiores às de uma garrafa de plástico de 590 ml — quando entregues e refrigeradas em pequenos mercados e lojas de conveniência.

Algumas embalagens de alumínio, no entanto, ainda não atendem completamente a economia circular, segundo a Associação Brasileira do Alumínio (ABAL), por mais que existam ações de reutilização do material, como as folhas de alumínio para embalagens semirrígidas (as quentinhas, como são conhecidas) e os compostos laminados multimateriais — que podem ser alumínio com plásticos, ou ainda acrescentar o papelão (caixinhas longa-vida). De toda forma, em 2017, o consumo de alumínio transformado no Brasil ficou em 1,263 milhão de t e o índice de sucata recuperada foi de 54%.

Mais sustentabilidade envolvendo o alumínio
No setor automotivo, cuja demanda de alumínio deve aumentar nos próximos anos com o uso de materiais mais leves, o Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG) vai inaugurar, em novembro, uma cadeia sistêmica de reciclagem automotiva pioneira na América Latina.

De acordo com o Cefet-MG, o setor automotivo pode ser a segunda maior fonte de alumínio reciclado no Brasil

De acordo com Thiago Marândolo, pesquisador na linha de eficiência energética no programa de mestrado de engenharia da instituição, o projeto segue a direção de economia circular, mas com as particularidades de um carro. Os pesquisadores desenvolveram métodos para reaproveitamento de itens como aço, plástico, cobre e alumínio, em parceria com a Agência Japonesa de Cooperação Internacional (Jica), que dissemina suas técnicas utilizadas desde 2005.

“No Brasil, já recebemos doações de carros da Fiat e da PUC-MG. Estamos em busca de parcerias com empresas ligadas à cadeia produtiva de todos os materiais recicláveis no carro”, afirma.

Segundo Marândolo, se essa cadeia já tivesse em atividade no Brasil, seria a segunda maior fonte de alumínio reciclado, tendo em vista que a aplicação do metal, hoje, varia de 30 a 150 kg, em partes como carroceria, rodas, bloco e pistões. O projeto, coordenado pelo professor Daniel Enrique Castro, prevê a obtenção de valores expressivos, bem próximos da quantidade total de alumínio reciclado hoje via latas de bebidas: R$ 950 milhões.

Canivete Pioneer Nespresso Dharkan: produzido a partir da reciclagem de 24 cápsulas de alumínio para café

No varejo, a Nespresso, que mantém um programa de reciclagem totalmente sustentável por meio de uma estratégia de coleta, firmou, recentemente, uma parceria com a Victorinox e lançou o canivete de bolso Pioneer Nespresso Dharkan. Na cor azul-escuro, a edição limitada é produzida com 24 cápsulas recicladas de café e segue a tendência upcycling — que consiste em dar, de maneira criativa, um novo propósito para um material que seria descartado, com qualidade igual ou melhor que a fabricação original. O compromisso global da empresa é assegurar a reciclagem a 100% de seus clientes até 2020 e, assim, zerar suas emissões, como divulgamos na edição passada de Alumínio.

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