O primeiro projeto oriundo da aliança estratégica firmada entre a Associação Brasileira do Alumínio (ABAL) e a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) segue a pleno vapor, mesmo com os desafios impostos pela pandemia da Covid-19.
O inédito projeto de pesquisa, desenvolvimento e inovação, que tem como objetivo produzir um sistema para estudo comparativo de juntas de alumínio em estruturas de veículos em geral e implementos de transporte, estava previsto para ser finalizado até abril de 2021. Mas, em função das restrições decorrentes do período de quarentena, o prazo foi postergado para outubro do mesmo ano.
Modelo de gestão
Não só o projeto de pesquisa e desenvolvimento em formato colaborativo, mas também o modelo de gestão e condução vem chamando atenção do mercado – idealizado para simplificar a participação das empresas e proporcionar a máxima produtividade nos trabalhos em conjunto.
Por exemplo: para simplificar as questões jurídicas foi firmado um contrato entre a ABAL e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). Já as empresas participantes do projeto assinaram um termo de adesão.

Na fase inicial do projeto, ABAL e IPT organizaram reuniões individualizadas com cada uma das 14 empresas participantes dos segmentos do alumínio, automotivo e de transportes. Isso permitiu entender e esclarecer pontos sensíveis, como a questão do compartilhamento de dados.
“A parceria para a realização desse projeto mostrou um nível de maturidade muito bom no setor do alumínio. Houve pleno respeito à compliance e o nível de profissionalismo superou nossas expectativas, que já eram elevadas”, afirma Heber Otomar, consultor técnico de Desenvolvimento de Mercado e Inovação da Companhia Brasileira de Alumínio (CBA).
Para dar andamento no projeto em si, foram criados dois grupos de trabalho — um comitê técnico e outro de gestão — e cada empresa participante indicou um representante para cada um deles.
“A criação dos dois grupos foi uma solução interessante e bastante eficiente para a condução do projeto. O grupo técnico pode focar na execução do projeto, enquanto o comitê gestor tem uma visão mais estratégica, fazendo o acompanhamento de cronograma e avaliação de resultados, por exemplo”, avalia Guilherme Superbia, gerente de Excelência Comercial e Marketing da Novelis Brasil.
Também são realizados workshops regulares (em versão on-line durante a pandemia) com as equipes técnicas das empresas participantes. O foco dos encontros é a apresentação de temas de interesse comum das companhias.
“Apesar do impacto da Covid-19 no início dos trabalhos técnicos, os workshops realizados com o uso das plataformas virtuais contribuíram para promover a integração das equipes, além de fortalecer e nivelar os conhecimentos técnicos. Eles também criam um ambiente propício para geração de novas oportunidades de inovação”, analisa Alfredo Imagawa Júnior, coordenador de Aplicação e Desenvolvimento da Hydro Soluções em Extrudados
Até o momento, foram realizados três workshops:
- Uniões mecânicas e por fusão; e a produção de componentes metálicos por manufatura aditiva.
- Linha IV do Rota 2030: “Ferramentarias Brasileiras Mais Competitivas”.
- Adesivos estruturais e caracterização do comportamento mecânico.
Pavimentando o caminho para o futuro
A experiência proporcionada pelo projeto tem o potencial de mudar o cenário de pouca colaboração na área de pesquisa e desenvolvimento no Brasil. O sucesso do modelo de gestão e condução já transformou o projeto liderado pela ABAL em uma referência para o mercado em geral, inclusive para o Programa Rota 2030, do governo federal.
“O Rota 2030 tem características propícias para o trabalho colaborativo. E eu propus que os próximos editais do programa seguissem o modelo de contratação do projeto ABAL/Embrapii”, afirma Ana Paola Villalva Braga, chefe do Laboratório de Metalurgia do IPT do Estado de São Paulo e gerente do projeto — que também faz parte da coordenação da Linha 4 do programa Rota 2030.
A experiência também está mudando o olhar das empresas e já as incentiva a participar de outros projetos semelhantes. A CBA, Novelis e Fiat Chrysler Automobiles (FCA) assinaram um acordo de cooperação tecnológica para o desenvolvimento do projeto ‘Otimização de Ligas de Alta Resistência de Alumínio para o Setor Automotivo’.
Otomar, da CBA, destaca que, além dos benefícios em melhoria de processos, celeridade e redução de custo de produção, o projeto abriu um leque de oportunidades para novas parcerias com outros players do setor.
Já Superbia, da Novelis, ressalta que a experiência adquirida anteriormente foi fundamental para acelerar a tomada de decisão quanto ao novo projeto. Além disso, muita coisa acabou sendo replicada a partir da iniciativa da ABAL, como o modelo de gestão.
Competição com cooperação
O formato de consórcio, que reúne várias empresas — algumas delas concorrentes diretas, outras de diferentes partes da cadeia produtiva — para atender uma demanda comum, é bastante comum em mercados mais desenvolvidos, como os da América do Norte e Europa.
Embora apresente uma série de vantagens, como diluição de custos, redução no tempo de desenvolvimento e aproximação e compartilhamento de conhecimento entre diferentes elos da cadeia, o formato ainda é raro no Brasil.
“O princípio do projeto é a ‘coopetição’, estratégia em que as empresas competem e colaboram em prol de um objetivo comum. Em outras palavras, é uma relação que oferece ganhos para todos os participantes”, explica Kaísa Couto, diretora da Área Técnica da ABAL.
No caso do projeto da ABAL, o objetivo em comum é esclarecer o mercado a respeito dos processos de união entre produtos de alumínio e desses com produtos de aço — ajudando, em âmbito maior, a ampliar a utilização do metal na indústria automobilística. O estudo com os resultados e conclusões será aberto a todo o público
Segundo Ana Paola, do IPT, o mercado em geral ainda não tem uma visão muito clara sobre as técnicas de união do alumínio. Há certas percepções equivocadas — como, por exemplo, de que o metal não pode ser soldado ou que os processos de adesivagem oferecem pouca resistência e confiabilidade.
Os parâmetros e simulações existentes atualmente consideram materiais produzidos fora do Brasil. Agora, com esse projeto, os participantes terão resultados próprios, com parâmetros precisos e uma ampla gama de dados.
“É um feito que nenhuma empresa alcançaria sozinha”, ressalta Otomar, da CBA.
As empresas envolvidas diretamente no consórcio terão acesso ao sistema desenvolvido para a realização do estudo. Dessa forma, passarão a contar com uma importante ferramenta para encontrar as soluções mais eficientes, facilitando a tomada de decisão em projetos futuros.
A origem do projeto
A aliança com a Embrapii é um desdobramento da Rota Estratégica da Cadeia Brasileira do Alumínio 2030, iniciativa que contempla uma série de ações para a promoção da competitividade da indústria do alumínio no Brasil.
Idealizado pela ABAL, o formato de consórcio foi inicialmente discutido e trabalhado com suas empresas associadas da cadeia produtiva do alumínio. Posteriormente, evoluiu com a participação dos setores automotivo e de transporte, incluindo uma fabricante, sistemistas e startups.
As 14 empresas participantes do projeto são: Aethra, Arconic, CBA, Esab, Fiat Chrysler Automóveis (FCA), FSW Brasil, Hydro, Iochpe Maxion, Lord, Metalsa, Novelis, Prolind, Randon e ReciclaBR. O IPT foi a unidade da Embrapii designada para a execução do projeto.
“A receptividade das empresas aos convites foi muito acima do esperado, o que revela uma demanda reprimida desse tipo de iniciativa”, conclui Kaísa Couto, diretora da ABAL.