entrevista

“O alumínio é uma grande alternativa”

Antonio Megale, presidente da Anfavea, explica como o Rota 2030 pode impulsionar a aplicação do metal nos veículos

Em julho deste ano, o governo federal anunciou o Rota 2030, programa que estabelece as bases de uma política industrial para o setor automobilístico pelos próximos quinze anos. Para entender o que deve mudar, fomos conversar com Antonio Megale. Presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), ele tem acompanhado de perto as discussões.

A entrevista abaixo ele deu com exclusividade à Alumínio logo após a Anfavea rever a sua projeção de crescimento do consumo interno em 2018, de 11,7% para 13,7% — na comparação com 2017. “O mercado parece indiferente à volatilidade política”, destacou o dirigente. Sobre o Rota 2030, as notícias são boas para o nosso segmento. Confira:

É possível traçar um paralelo do Rota 2030 com o Inovar-Auto, programa que o antecedeu, apontando diferenciais e vantagens?
Antonio Megale — O Rota 2030 tem uma modificação grande em relação ao Inovar-Auto, que é trazer uma visão de longo prazo, de quinze anos, para o nosso setor. O Inovar-Auto, por outro lado, durou apenas cinco anos. Essa questão é muito importante, pois, para se planejar, nosso segmento depende muito de previsibilidade. Outro ponto de destaque é que o novo programa é bastante focado no estímulo à pesquisa e ao desenvolvimento. Entendemos que a indústria automobilística está passando por grandes transformações no mundo, e nós aqui no Brasil queremos participar desse momento. O incentivo à inovação, muito comum em outros países, agora é adotado pelo governo brasileiro. Isso é importante para o País e sociedade.

O Rota 2030 saiu, como medida provisória, após diversos adiamentos por parte do governo. Quando deve sair o texto final?
Sim, ele é uma medida provisória que precisa ser transformada em lei. Como o prazo é de até 120 dias, imaginamos que isso aconteça até 14 de novembro. Enquanto isso, uma comissão mista está analisando a medida provisória e as emendas que ela recebeu. Naturalmente, isso será votado em plenário.  

Para ganharem incentivos fiscais de até R$ 1,5 bilhão por ano, define o Rota 2030, as fabricantes de veículos deverão investir anualmente até R$ 5 bilhões em pesquisa e desenvolvimento e melhorar a eficiência energética dos veículos em 11% até 2022. Como as montadoras enxergam essas determinações?
Ele traz metas muito claras no ponto de vista da melhoria da eficiência energética e não só: há também determinações para a área de segurança. As montadoras terão de implementar equipamentos de segurança em seus veículos ou melhorar a performance de alguns que já têm bons índices. A pesquisa e desenvolvimento refletem bastante na indústria de motorização e, quando pensamos em motores novos, pensamos na aplicação do alumínio. Além disso, sabemos que, para melhorar os índices de consumo, não precisamos apenas de avanços no powertrain, mas no carro como um todo. E um dos fatores que auxiliam esse objetivo é a redução do peso total do veículo. Nessa questão, o alumínio é uma grande alternativa estudada cada vez mais pelas empresas.

Ainda sobre esses avanços e mudanças, fala-se muito sobre a eletrificação dos carros. Pelo fato de eles necessitarem ser leves para aumentar a autonomia das baterias, o setor de alumínio enxerga na eletrificação uma grande oportunidade. O programa traz incentivos para a consolidação dos veículos elétricos e híbridos no Brasil (alíquotas do IPI de 7% a 18%, contra os 25% atuais), mas especialistas dizem que foi aquém do necessário. Qual a sua opinião?
Essa questão de veículos híbridos e elétricos é complexa não apenas no Brasil, mas no mundo. A tecnologia ainda é relativamente cara e acaba não permitindo a sua presença em veículos mais baratos. Mas isso é questão de tempo. As tecnologias estão avançando e o Rota 2030 trouxe uma redução no Imposto de importação e na tabela de IPI para os elétricos, que antes pagavam a maior alíquota. Sobre os elétricos, além de abordar a eficiência energética, o Rota 2030 também fala sobre o peso: veículos mais leves poderão ter impostos mais baixos. Por isso, a preocupação com o peso é central e materiais mais leves e resistentes, como o alumínio, já estão presentes no desenvolvimento desses novos produtos que, cada vez mais, estarão em nossas ruas.

Quais os ganhos do Rota 2030 para a sociedade e para quem compra carros?
Essa questão é bastante importante, pois o programa não oferece incentivo algum para a comercialização dos veículos. O estímulo que o governo oferece, por perceber as necessidades de evolução tecnológica, é baseado em pesquisa e desenvolvimento. Para se ter ideia, com o Inovar-Auto, em cinco anos, melhoramos a eficiência energética média da frota nacional em 15,4%. Isso trouxe uma economia anual de R$ 7 bilhões em combustível. Para o Rota 2030, que é dividido em três fases, teremos outras metas. Na primeira fase, que engloba os próximos cinco anos, temos de melhorar a eficiência energética em 11%. Além disso, vamos implementar equipamentos de segurança. Então, o consumidor final vai ter veículos mais modernos, eficientes, conectados e econômicos.

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