O Brasil é o único País do mundo com todas as refinarias de alumina certificadas pela Aluminium Stewardship Initiative (ASI). Em 2017, a organização global criou um programa independente com critérios e padrões, com foco em aspectos ambientais e sociais voltados para a produção, uso e reciclagem do alumínio.
A certificação tem dois padrões:
Performance: abrange questões ambientais, sociais e de governança para uma variedade de tópicos, incluindo gases de efeito estufa (GEE), biodiversidade, gerenciamento de resíduos de bauxita, administração de materiais, direitos humanos, saúde e segurança e fornecimento responsável;
Cadeia de Custódia (CoC): aplica-se ao fluxo de alumínio por meio da cadeia de valor, da bauxita até os usuários no downstream (produtos transformados).
Como o programa reconhece e fomenta de forma colaborativa os esforços da cadeia de suprimentos, a ASI já certificou empresas como a Audi, Nespresso e SIG, membros na categoria Usuários Industriais. É uma maneira de garantir a sustentabilidade do alumínio de ponta a ponta, da produção ao consumo.
Audi: meta é ser 100% neutra no balanço de carbono até 2020
Em 2018, a empresa automobilística alemã conquistou a primeira certificação no padrão Performance para a fabricação da estrutura da bateria do Audi e-tron nas operações de três regiões: Gyor (Hungria), Neckarsulm (Alemanha) e Bruxelas (Bélgica). Em 2019, foi reconhecida como usuário de alumínio certificado, quando o fornecedor Hydro recebeu a certificação de Cadeia de Custódia (Coc).
As certificações ASI dentro da companhia estão diretamente ligadas à produção de veículos elétricos.
“Nossa visão é se tornar 100% neutra no balanço de carbono até 2050. Parte dessa meta está relacionada ao desenvolvimento de veículos elétricos, que começou globalmente com a chegada do e-tron SUV, modelo que será lançado no Brasil até maio deste ano”, explica Gerold Pillekamp, gerente-sênior de Gerenciamento de Produto da Audi do Brasil.
Pillekamp comenta que a Audi trabalha agora com os fornecedores para expandir as ações sustentáveis para toda a cadeia de suprimentos.
“Acreditamos que essa é uma forma clara de mostrar que a Audi está comprometida com o desenvolvimento sustentável de suas atividades — desde a cadeia de produção até o produto final. Com ações desse tipo, os consumidores têm a confiança de que estão tomando uma decisão ambientalmente correta ao escolher a marca e os produtos”, enfatiza Pillekamp.
Nespresso: cápsulas apenas com alumínio sustentável
Em parceria com a Rio Tinto, mineradora que possui a certificação no padrão de CoC, a Nespresso firmou o propósito de utilizar alumínio sustentável em todas as cápsulas de café produzidas ainda neste ano. O padrão da ASI cria um mecanismo de controle de procedência para que usuários finais, como a fabricante de cápsulas de café, possam ter certeza de que o metal adquirido é fabricado por produtores certificados em cada estágio do processo.
“A iniciativa da certificação faz parte do nosso programa de sustentabilidade para 2020, o The Positive Cup, cujo objetivo é garantir que cada xícara de Nespresso gere impacto positivo para o meio ambiente e para a sociedade como um todo”, explica Claudia Leite, gerente de Valor Compartilhado e Comunicação Corporativa da Nespresso Brasil.
A empresa também assinou um memorando de entendimento para trabalhar em conjunto com os fabricantes de cápsulas e, assim, cumprir o objetivo para o ano.
“O uso de alumínio certificado pela ASI é um marco importante para a redução do impacto do metal no planeta e estamos comprometidos com essa causa”, ressalta a gerente.
SIG: foco no fornecimento responsável
Com atuação no setor de embalagens cartonadas, a SIG obteve certificação no padrão Performance, em 2018, para o princípio de gerenciamento de materiais no setor corporativo. Todos os locais de produção da empresa na Europa conquistaram o selo no padrão CoC no ano seguinte.
Em janeiro de 2020, as fábricas em Rayong (Tailândia) e Suzhou (China) já iniciaram as auditorias para obter a certificação CoC. No Brasil, a empresa informou que deve começar o programa ASI ainda este ano.
“O compromisso da SIG com o fornecimento responsável é central para os valores da empresa e apoia a nossa estratégia de sustentabilidade, colocando mais na sociedade e no meio ambiente do que a empresa retira”, afirma Isabela De Marchi, coordenadora de Sustentabilidade da SIG.
Na visão da coordenadora, adquirir materiais de fornecedores que tenham sido certificados seguindo rigorosos padrões éticos, ambientais e sociais é uma das melhores formas de a empresa demonstrar esse compromisso. Além disso, a certificação é um passo importante em direção à meta de obter 100% dos principais materiais de fontes certificadas.
Para os clientes, a certificação traz a confiança de que a folha de alumínio nas embalagens suporta uma cadeia de valor responsável.
Brasil é exemplo
Fiona Solomon, CEO da ASI, parabeniza o Brasil pelas refinarias de alumina certificadas.
“Acreditamos que a certificação é importante para demonstrar e apoiar as melhorias contínuas nas questões de sustentabilidade da cadeia de valor. Como temos um planeta com muitas necessidades, precisamos garantir que todos façam o possível para minimizar o impacto e maximizar os benefícios”, reforça.
A CEO ressalta a importância de todos os envolvidos divulgarem a certificação, a fim de que o consumidor opte por produtos sustentáveis. Por isso, além de contar com um site extenso, a ASI também trabalha em conjunto com a Associação Brasileira do Alumínio (ABAL) em traduções para o português de alguns materiais relevantes.
Vale ressaltar o esforço da Alcoa, Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) e Hydro, empresas que figuram entre os membros da ASI como produtoras e transformadoras de alumínio. Juntas, somam seis certificações em suas operações no País, tanto no padrão Performance como no CoC (conforme mostramos em reportagem recente).
Com as duas plantas — mineração de bauxita em Juruti (PA) e de refino de alumina em São Luís (MA) — certificadas no padrão Performance desde o ano passado, a Alcoa está em processo para aquisição do selo no padrão CoC.
“O mecanismo da certificação ASI tem múltiplos interessados. A indústria está na base dessa pirâmide e tem o objetivo de mostrar que o alumínio segue um padrão de produção e respeita a governança e os aspectos sociais e de meio ambiente”, ressalta Fábio Abdala, gerente de Sustentabilidade da Alcoa Brasil.
Em 2019, a CBA foi à primeira empresa brasileira e da América do Sul a receber a certificação nos dois padrões em toda a cadeia produtiva.
“A sustentabilidade é o ponto de partida que orienta e estrutura nossas ações e projetos. Desse modo, a certificação ASI é um qualificador que chancela nossos compromissos de negócio, ao atestar os esforços para aprimorar nossa gestão, processos e produtos construídos sob os mais elevados padrões sustentáveis globais”, diz Leandro Faria, gerente de Sustentabilidade da CBA.
Dentro do grupo Hydro, a Mineração Paragominas e a Alunorte, ambas no Pará, receberam o selo nos dois padrões da ASI.
“Esse selo significa que nós, como área de negócios, ajudamos a companhia a disponibilizar aos clientes produtos certificados dentro dos mais exigentes padrões internacionais da indústria do alumínio. Tudo isso desde o início da cadeia de valor que opera na Amazônia Legal, o que, por si só, já é um desafio a mais”, comenta Carlos Neves, diretor de Operações da empresa.