No último dia 2 de abril, Donald Trump, presidente dos Estados Unidos (EUA), anunciou a implementação de tarifas recíprocas contra países que tributam produtos norte-americanos, com variações conforme cada país. O Brasil será taxado em 10%, mas, dessa vez, o alumínio ficará isento.
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No entanto, a Associação Brasileira do Alumínio (ABAL) ressaltou que, apesar de os Estados Unidos não terem anunciado novas medidas para o alumínio, o metal já está sujeito a uma sobretaxa de 25% desde março deste ano. Segundo a entidade, essa tributação continua representando uma ameaça para o setor, com impactos negativos.
Embora ainda seja cedo para mensurar os efeitos diretos das tarifas nas exportações brasileiras, a ABAL alerta para os potenciais impactos indiretos e estruturais a médio e longo prazo. Entre os riscos destacam-se:
- Desvio de comércio: o Brasil pode se tornar mais suscetível a desvios de comércio, com outros países buscando suprir a demanda americana com alumínio brasileiro;
- Desestruturação da cadeia de reciclagem: a medida pode prejudicar a cadeia de reciclagem de alumínio no Brasil, um dos principais diferenciais competitivos do nosso país.
Impacto nas exportações e na economia
Mesmo com a participação do Brasil nas importações americanas de alumínio sendo inferior a 1%, os EUA são um parceiro comercial estratégico para o País. Em 2024, 16,8% das exportações brasileiras de alumínio foram para lá, totalizando US$ 267 milhões e 72.400 t, das quais 54.200 estão sujeitas à nova tarifa da Seção 232 de março. Desse volume, 76% corresponderam a chapas e folhas de alumínio.
Para a ABAL, a política tarifária americana reflete uma tendência global de protecionismo industrial e desindustrialização. A entidade questiona se essas medidas realmente beneficiarão a economia americana, pois podem elevar os custos para indústrias-chave, como automotiva, aeroespacial e de embalagens. Além disso, a retomada da produção interna de alumínio nos EUA demandaria tempo e grande consumo de energia.
Perspectivas e posicionamento da ABAL
Outro ponto de preocupação é que as tarifas não incidem sobre a sucata de alumínio, sugerindo uma estratégia americana de suprimento por meio da importação dessa matéria-prima. Isso poderia transformar o Brasil em um fornecedor de sucata em vez de um produtor de alto valor agregado, comprometendo investimentos na autossuficiência do setor nacional.
O Brasil possui vantagens estruturais importantes, como grandes reservas de bauxita, alta capacidade de produção de alumina e investimentos em energia limpa. Além disso, o País destaca-se na reciclagem, com 60% do alumínio consumido vindo de material reciclado, uma taxa muito superior à dos EUA e à da média global.
A ABAL reforça a necessidade de uma visão sistêmica para a defesa da indústria nacional, garantindo condições justas de competição e evitando distorções que comprometam a competitividade do setor brasileiro. A instituição segue em diálogo com autoridades para recalibrar a política tarifária e proteger a cadeia produtiva do alumínio no Brasil.
Foto: Divulgação ABAL