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Setor do alumínio fatura R$ 135 bilhões e contribui com 5,6% do PIB industrial

Mesmo diante de um cenário desafiador em 2023, empresas permanecem confiantes no potencial de crescimento do mercado

Em 2023, a indústria brasileira do alumínio registrou faturamento de R$ 135 bilhões, segundo o 53º Anuário Estatístico da Associação Brasileira do Alumínio. O setor investiu R$ 5,6 bilhões, gerou mais de 511 mil empregos e viu suas exportações crescerem 21,6%, contribuindo com 5,6% do Produto Interno Bruto (PIB) industrial e registrando um superávit de US$ 2,7 bilhões.

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De acordo com Janaina Donas, presidente executiva da ABAL, apesar dos números acima, o ano de 2023 foi marcado por acomodações na conjuntura nacional e internacional e pelo encerramento de um ciclo de desempenho moderadamente ruim para a indústria brasileira de alumínio. Os conflitos geopolíticos intensificaram os efeitos da deterioração econômica iniciada durante a pandemia, resultando na elevação das taxas de juros em escala global.

“Mas a resiliência demonstrada pela indústria brasileira durante esses momentos desafiadores é evidência de uma das nossas maiores vantagens competitivas, que se soma à manutenção de uma série de ativos estratégicos e à consolidação de uma cadeia verticalizada, capaz de atender, com excelência e controle, da cadeia de custódia à demanda de mercados consumidores altamente exigentes”, declara Janaina.

Segundo a presidente da ABAL, o Brasil encontra-se em um momento particularmente favorável ao seu reposicionamento na cadeia global, por isso ela segue firme e comprometida com a visão de futuro que tem, cuja premissa é a construção de uma trajetória de recuperação bem-sucedida e sustentável.

Alumínio primário 

A produção de alumínio primário no Brasil cresceu 26% em 2023, segundo o anuário, ultrapassando a marca de 1 milhão de t e impulsionando o País para a 8ª posição no ranking mundial. Walmer Rocha, diretor de Operações da Alumar, uma das maiores produtoras de alumínio primário no Brasil, explica que esse resultado expressivo foi alcançado mesmo diante de desafios, como a guerra na Ucrânia, a instabilidade econômica global, a crise energética na Europa e os altos custos de energia e transporte no Brasil. 

Rocha destaca, no entanto, a variação no consumo de alumínio entre os setores no País. Enquanto os segmentos Elétrico e de Construção Civil experimentaram aumento na demanda, o de Embalagens, por exemplo, registrou queda. Apesar disso, a indústria demonstrou resiliência e capacidade de adaptação, com perspectivas de crescimento em segmentos específicos e foco contínuo em inovação e atuação responsável.

“A Alumar, por sua vez, anunciou investimentos de R$ 3 bilhões em melhorias e manutenção para otimizar sua eficiência operacional e atender a crescente demanda do mercado, buscando alcançar sua capacidade máxima de produção de 447 mil t métricas por ano. A empresa reforça seu compromisso com a geração de empregos e renda no Maranhão, contribuindo para o desenvolvimento socioeconômico da região”, pontua o diretor. 

Já a Albras, também uma das maiores produtoras de alumínio primário no País, concentrou seus esforços em 2023 na estabilidade dos processos industriais, na consolidação da produção e na venda de alumínio primário e ligas especiais. A companhia priorizou uma gestão sólida de segurança ambiental e o desenvolvimento contínuo de seus colaboradores, reafirmando seu compromisso com o fortalecimento do setor.

“Ao final do primeiro trimestre de 2024, observou-se uma melhora do cenário econômico, impactando principalmente o preço padrão do alumínio (LME – London Metal Exchange). O consumo global de alumínio primário, por exemplo, aumentou 5% em relação ao mesmo período do ano anterior, impulsionado por uma elevação de 8% na China. A Albras continuará a alimentar com excelência os mercados interno e externo com lingotes de alta pureza, o que faz desde 1985”, afirma Luiz Roberto Silva Júnior, CEO da Albras.

Luciano Alves, CEO da Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), destaca ainda avanços importantes no Brasil, como a implementação de medidas para elevar a taxação sobre o alumínio importado, a aprovação da reforma tributária e a evolução nas discussões sobre o mercado regulado de carbono. De acordo com o CEO, esses fatores podem contribuir para um mercado mais justo e competitivo no futuro.

Bauxita e alumina 

No ano passado, a produção brasileira de bauxita alcançou 34,47 milhões de t, mantendo o País na 4ª posição global, com um leve aumento de 0,8% em relação a 2022. No entanto, a produção de alumina, na qual o Brasil ocupa o 3º lugar mundial, registrou uma queda de 3,9%, totalizando 10,44 milhões de t, segundo o anuário da ABAL.

Gisele Salvador, diretora-financeira da Alcoa Brasil, prevê o fim de um ciclo de baixo desempenho para a indústria brasileira de produção de bauxita e alumina em 2023. Para isso, a Alcoa tem apostado na reinvenção e na eficiência operacional para se adaptar às demandas do mercado. A empresa também investe em inovação e atuação responsável, buscando eficiência energética, descarbonização, economia circular e gestão consciente de resíduos para otimizar a produção e oferecer produtos mais sustentáveis.

“As perspectivas para 2024 são positivas, tanto para o setor como para a Alcoa. A empresa aposta no reaquecimento econômico, no fortalecimento da indústria e na evolução da taxa de investimentos no mercado doméstico. Além disso, a Alcoa acredita na essencialidade do alumínio para a transição energética, um setor com grande potencial de crescimento no Brasil”, afirma Gisele.

Anderson Baranov, CEO da Hydro no Brasil, afirma que a empresa pretende mitigar os desafios desses mercados por meio da busca de excelência operacional, renegociação dos custos de matéria-prima, gestão rigorosa da volatilidade de curto prazo e execução contínua de programas de melhoria.

Destaques 

De acordo com o anuário, no ano anterior, o consumo doméstico de produtos transformados de alumínio no Brasil caiu 2,7% em relação a 2022, totalizando 1,48 milhão de t. Porém, alguns setores apresentaram crescimento, contrariando a tendência geral. O setor da Construção, por exemplo, registrou aumento de 6,6% no consumo, atingindo 159,8 mil t. E o setor Elétrico também representou um crescimento positivo de 4% no consumo de produtos transformados.

Uma das empresas que colaboraram para o crescimento desses setores foi a AMG Brasil, conseguindo resultados positivos no mercado de anteligas de alumínio, atendendo os principais clientes do segmento. Além disso, Fabiano Costa, CEO da companhia, conta que o crescimento das vendas no mercado brasileiro foi 4,2% superior, se comparado a 2022. E esse aumento se deu principalmente pelo maior volume de venda de vergalhões, tipo de produto cujo segmento esteve mais aquecido. 

“Com o mercado em baixa, trabalhamos em diversas frentes para alavancar oportunidades no mercado do alumínio e garantir a satisfação dos clientes. Em determinado momento foi necessário que a empresa ajustasse a sua estrutura produtiva de forma a garantir a sustentabilidade dos negócios e a eficiência das operações. Mas a expectativa é que 2024 seja mais positivo, visto que conseguimos manter os principais contratos de clientes, além de termos concluído diversas vendas no mercado externo para atendimento no decorrer do ano. Podemos destacar que hoje estamos com grande parte da capacidade de produção dedicada ao atendimento dos pedidos já confirmados. Além disso, estamos avaliando um incremento de produção para os próximos meses a fim de atender essa demanda”, informa Costa.

No setor Elétrico, Felipe Guerini, gerente-comercial da Termomecanica, destaca especialmente o segmento de Cabos, que até o final deste ano deve ter crescimento estimado em 10% no consumo total de alumínio para a linha de transmissão de energia, o que também refletirá positivamente no consumo de alumínio destinado à distribuição de energia, importantes para o cenário brasileiro atual e que pautam os investimentos atuais e futuros.

“Desde 2021, a Termomecanica investe em sua linha de vergalhões de alumínio, fornecidos para fabricantes de condutores elétricos no segmento de Cabos, setor que possui expectativas futuras positivas para atender os investimentos já feitos em transmissão/distribuição e os que ainda serão efetivados nos próximos anos. Para satisfazer às expectativas do setor, a empresa concentra-se em estar próxima aos clientes, oferecer produtos de qualidade e investir na capacitação de sua equipe para fornecer suporte especializado ao mercado”, afirma Guerini.

Fabio Mazziero, gerente-comercial da Elfer, afirma que a empresa se manteve fiel ao seu planejamento estratégico no setor de transformados, o que resultou em crescimento em 2023, mesmo em um ritmo mais moderado. E está otimista com as oportunidades para 2024, prevendo crescimento em setores como Transporte, Construção Civil, Bens de Consumo, Energia, Máquinas e Equipamentos.

“Para nos fortalecer no mercado, ajustamos bem o nosso leme, seguimos firmes com nosso compromisso de produtividade e de ser a melhor solução para nossos clientes, mantemos os investimentos em capacitação, novos equipamentos e processos, usando a tecnologia como meio de elevar nossa eficiência. Temos vários aplicativos, desenvolvidos internamente, que estão nos ajudando a alcançar resultados superiores”, comemora Mazziero.

Promissores 

O segmento de Bens de Consumo foi responsável por 137 mil t, com uma leve redução de 1,7%. Segundo o anuário, laminados e extrudados são os produtos de alumínio mais utilizados nesse segmento.

Mas, apesar dos desafios enfrentados pelo segmento de Extrusão de alumínio em 2023, Erivam Boff, diretor-comercial da Prolind, aponta diversas oportunidades de crescimento nessa área, como a redução de peso em implementos rodoviários, a necessidade de maior conteúdo nacional em máquinas e equipamentos, a expansão do setor de energia solar e novas tecnologias de acabamento superficial. Além disso, o aquecimento da indústria da Construção Civil, que representa 51% do consumo de perfis de alumínio, continuará impulsionando o setor em 2024.

A Prolind, segundo Boff, tem se dedicado a fortalecer esses mercados, com investimentos recentes, como a implementação do segundo forno para fusão de alumínio em sua Unidade de Refusão. Esse forno, equipado com tecnologia de ponta, utiliza material pós-consumo de clientes, contribuindo para uma oferta mais eficiente de alumínio em formato de tarugos para o setor de Extrusão. Além de reduzir a pegada de carbono do setor, a Prolind gerou empregos nos últimos dois anos na região do Vale do Paraíba, onde suas unidades industriais estão localizadas.

“Temos visão de mais longo prazo, mas acreditamos que o mercado vai se mostrar mais forte a partir de 2025 e anos seguintes, com maior participação no segmento de Implementos Rodoviários e Veículos Leves e Pesados, que tendem, obrigatoriamente, a ter redução de peso para melhor eficiência energética. Também é provável a ampliação do uso da energia solar, que requer grandes estruturas de alumínio para ser implementadas. Acreditamos sempre que o alumínio terá cada vez mais um papel principal na transição energética e na reciclagem de seu pós-consumo”, avalia o diretor da Prolind.

De acordo com o anuário da ABAL, o setor de Embalagens lidera o consumo de alumínio, utilizando 561 mil t em 2023, o que representa 38% do total. Apesar disso, houve redução de 8,6% no consumo desse setor em relação ao levantamento anterior. 

Guerini, da Termomecanica, atribui a retração do setor de Embalagens principalmente ao cenário de reacomodação do mercado, com inflação ainda alta e incertezas econômicas globais. 

Nesse sentido, a Novelis, uma das maiores produtoras de laminados do mundo, é uma das empresas que buscam alternativas para compensar essa ligeira queda, realizando maior prospecção no segmento de especialidades, incremento das exportações e gestão eficiente de custos. Em 2023, por exemplo, a empresa inaugurou seu primeiro Centro de Soluções ao Cliente (CSC) na América do Sul, um polo de inovação para o desenvolvimento de novas soluções para a indústria de embalagens. O objetivo é atender, de maneira personalizada, as demandas de clientes e parceiros, como fabricantes de latas de bebidas, na busca de produtos mais sustentáveis.

“O segundo semestre é visto com otimismo, considerando que o País tem apresentado índices econômicos mais favoráveis. E as festas de fim de ano, que se aproximam, colaboram com o aquecimento do setor de latas e embalagens. Adicionalmente, a Novelis segue no processo de expansão de sua capacidade de laminação para 750 mil t/ano, suportando o crescimento da demanda por chapas de alumínio na América do Sul, tanto para o mercado de latas para bebidas como para o atendimento do mercado de chapas para outros usos industriais, como os segmentos de Transporte, Automotivo, Construção Civil, entre outros”, considera Daniele Albagli, vice-presidente comercial da Novelis.

Sustentabilidade 

Já em relação à reciclagem de alumínio no Brasil, o anuário apontou um marco significativo de 850 mil t no ano passado. A intensidade carbônica do alumínio brasileiro é 3,3 vezes menor que a média global, evidenciando o compromisso da indústria com a sustentabilidade.

A Novelis, que também é uma das maiores recicladoras do mundo, contribui significativamente para o compromisso com a sustentabilidade do setor. No Brasil, a empresa possui um dos maiores complexos integrados de reciclagem e laminação de alumínio do mundo em Pindamonhangaba (SP), além de quinze centros de coleta próprios espalhados pelo País e uma fábrica de folhas de alumínio em Santo André (SP). Esse modelo é considerado pioneiro no Brasil e foi criado para ampliar a coleta de latas, que, posteriormente, serão enviadas à fábrica de Pindamonhangaba, onde será realizada a reciclagem.

“Também contribuímos com a circularidade das latas de bebidas. Dessa forma, há menor necessidade de matéria-prima primária, propiciando uma série de consequências positivas em termos de sustentabilidade. Estamos aumentando cada vez mais o conteúdo reciclado em nossas chapas, que hoje já passa de 80%, e seguiremos estudando novas formas e soluções para continuar nesse caminho. É importante ressaltar que cada tonelada de alumínio reciclado reduz em 95% a emissão de CO2 e em 95% o consumo de energia, quando comparado à produção do alumínio a partir do minério”, pontua Daniele Albagli.

Baranov, da Hydro, enfatiza que uma das maiores contribuições da empresa para o mercado é o seu roteiro de descarbonização em toda a cadeia de valor. A Hydro se concentra no cumprimento de metas ambiciosas, moldando o mercado para o alumínio de baixo carbono de forma colaborativa e estabelecendo parcerias com clientes e universidades.

“Nesse sentido, um dos marcos relevantes foi a mudança da matriz energética na Alunorte nos primeiros meses de 2024, representando uma redução significativa de CO2 no refino de alumina”, demonstra.

A CBA também tem trabalhado para ampliar a conscientização e presença do uso do alumínio sustentável na cadeia de produção. Um exemplo é o Alennium, selo criado pela CBA para atestar a sustentabilidade de seu alumínio, que é produzido com baixa emissão de carbono a partir de energia elétrica 100% renovável e rastreável.

“Os perfis de alumínio da marca Primora já estampam o selo. Em 2023, a chancela também começou a ser utilizada por clientes de diferentes segmentos, como Alimentos, Embalagens, Construção e Bens de Consumo. Esse movimento contribui para o atingimento dos targets de sustentabilidade da nossa e de outras indústrias”, destaca o CEO Luciano Alves.

Crédito da imagem de abertura: Divulgação ABAL

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