A indústria brasileira tem sofrido com os efeitos da crise sanitária, como aponta o levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Das empresas ouvidas, 68% estão com dificuldades para comprar matéria-prima e 56% das que utilizam insumos importados encontram objeções. Nesse cenário, parte dos consumidores de alumínio acusa a falta do metal.
Milton Rego, presidente-executivo da Associação Brasileira do Alumínio (ABAL), esclarece que a produção de alumínio primário não foi interrompida em 2020. A previsão, inclusive, é de leve alta na fabricação em comparação a 2019, quando o volume registrado foi de 650 mil t. Em relação ao consumo de produtos transformados, houve redução de 4% na demanda deste ano, contra 1.500 t no ano passado. No entanto, a expectativa é de crescimento de 10,2% para 2021.
Logo no início da pandemia do novo coronavírus no Brasil, a ABAL apresentou às autoridades um documento que identificava os produtos e serviços com alumínio cuja produção e funcionamento eram indispensáveis naquele momento. O objetivo foi garantir segurança jurídica e abastecimento à população. Na ocasião, a cadeia produtiva foi considerada atividade essencial e as operações seguiram a todo vapor, obedecendo os protocolos de segurança.
De acordo com o dirigente da ABAL, as empresas adotaram postura conservadora diante das previsões iniciais negativas para o Produto Interno Bruto (PIB), crescente número de mortes por conta da Covid-19 e restrições sanitárias.
“Em um ambiente difícil e imprevisível, as companhias optaram pela continuidade dos negócios, desfazendo-se dos estoques e priorizando a geração de caixa”, ressalta Milton.
No segundo trimestre, o auxílio emergencial pago pelo governo federal para os trabalhadores informais estimulou a retomada do consumo.
“Aumentou principalmente o consumo de material para a autoconstrução. As construtoras e incorporadoras também retomaram as atividades. Na área de utilidades domésticas, houve aumento da compra de panelas, bicicletas e computadores porque as pessoas estavam mais tempo dentro de casa”, recorda o presidente-executivo.
Já no final do terceiro trimestre, os níveis de consumo voltaram a se aproximar do registrado no início de 2020, porém, o setor operava sem os estoques. Como os produtos de alumínio são fruto de cadeias de abastecimento longas, compostas por três ou quatro fornecedores em sequência, foi necessária nova configuração das linhas para atendimento da demanda.
“O resultado é que houve desabastecimento do alumínio na ponta. Espero que isso se resolva rapidamente, porque a cadeia produtiva está aumentando a produção para recompor os estoques”, reforça Milton.
O dirigente da ABAL acrescenta que a questão afeta principalmente as empresas de menor porte, que não possuem programa de compras — as demais não pararam de consumir o metal durante a pandemia.
As restrições comerciais impostas pelo governo norte-americano acabaram por colaborar com o aumento da oferta. O volume de produtos semimanufaturados de alumínio que seria destinado para os Estados Unidos tem sido consumido internamente.
“Neste momento, o mercado doméstico está adquirindo tudo que seria exportado. Todo mundo está comprando mais do que o normal”, reforça.
Estratégia da CBA
No início da pandemia, para evitar o corte na produção e nos empregos, a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) usou a alternativa de exportar alumínio primário. Para isso, aumentou a produção e o quadro de funcionários para evitar a transmissão da Covid-19 em meio à introdução de rigorosos protocolos de segurança. No entanto, a empresa reduziu a fabricação de produtos transformados para os segmentos de Transportes e Construção Civil, um dos mais impactados pela crise sanitária.
“A CBA manteve os compromissos firmados, os pedidos spot e o cumprimento às entregas de produtos, conforme prazos previstos em contrato, seguindo o planejamento de produção”, acrescenta Luciano Alves, diretor financeiro da empresa.
Com a forte retomada dos mercados a partir de julho, a companhia está voltando às suas capacidades, com os turnos de produção que haviam sido reduzidos.
Mesmo com o cenário desafiador, a CBA conservou a estratégia de investimentos com foco no longo prazo. Inaugurou recentemente o novo poço de tarugos, que permitirá aumentar a capacidade em 50%. Além disso, em parceria com clientes e especificadores da cadeia, tem desenvolvido projetos de cocriação e coengenharia, e estudos com os ecossistemas de inovação para aumento de segurança, desempenho, sustentabilidade e novos modelos de negócio.
Mineração de bauxita
No primeiro elo da cadeia produtiva do alumínio, as operações também seguiram durante a pandemia. Segundo Guido Germani, diretor-presidente da Mineração Rio do Norte (MRN), em nenhum momento houve interrupção da produção.
“A companhia criou protocolos especiais de saúde para a Covid-19 e, diante disso, manteve a produção dentro do planejamento do ano. Com isso, os estoques ficaram nos níveis adequados e garantimos a qualidade da bauxita dentro das especificações dos clientes”, afirma o executivo.