Neste período de incertezas em que se vive atualmente no Brasil, as lideranças das maiores empresas da cadeia produtiva do alumínio mostraram a visão que têm sobre o futuro do setor em um webinar promovido pela Associação Brasileira do Alumínio (ABAL), o ABAL Insights — Mercado do alumínio no Brasil e no mundo. Uma das convicções apresentadas é que a sustentabilidade será ainda mais importante no mundo pós-pandemia — abrindo portas para o alumínio. Outra visão é que, apesar das dificuldades, há ainda a possibilidade de produtos brasileiros ocuparem o espaço que hoje é dos importados no segmento de transformados.
Para Otavio Carvalheira, presidente da Alcoa Brasil e atual presidente do Conselho Diretor da ABAL, a sustentabilidade é uma das tendências evidentes que podem se tornar uma oportunidade.
“Temos a condição, como cadeia integrada, de mostrar para a sociedade que o alumínio — por ser um metal leve, resistente, sustentável, produzido de forma eficiente do ponto de vista da emissão de carbono — pode ganhar ainda mais protagonismo como parte da solução em várias frentes pós-Covid-19”, afirma.
Segundo o executivo, sobre o aspecto social, a pandemia tem trazido para as empresas uma experiência singular de interação com os stakeholders.
“Ao mesmo tempo que damos uma contribuição, recebemos o reconhecimento. Vemos o valor que nossas empresas trazem para as comunidades”, diz ele.
Além disso, do ponto de vista econômico, Carvalheira avalia que a indústria do alumínio poderá ter chances de crescimento a partir da retomada da economia.
“O País ainda tem um potencial enorme para o aumento da demanda do alumínio e a cadeia produtiva tem condições de ajudar neste sentido.”
Ricardo Carvalho, diretor-presidente da Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) e conselheiro da ABAL, faz coro com Carvalheira.
“Se o mundo já vinha dando mais importância para a sustentabilidade, não tenho dúvida de que a causa será fundamental no pós-pandemia. As diferenças sociais, o impacto ao meio ambiente e as questões de precariedade em saúde estão sendo ampliadas e mais bem vistas agora. Toda empresa de sucesso no futuro terá de caminhar respeitando e contribuindo com a sociedade”, alega.
Desafios à frente
O diretor-presidente da CBA, no entanto, ressalta que a retomada após a crise sanitária e econômica não será fácil para o setor do alumínio. Para ele, as empresas brasileiras têm adotado medidas para mitigar o impacto da pandemia e garantir a competitividade no médio e longo prazos, tais como a redução de custos (sem abrir mão dos investimentos considerados essenciais), reestruturações e novas formas de trabalho, entre outras.
O executivo da CBA lembra ainda que desde o ano passado o mercado já enfrentava algumas incertezas, com a guerra comercial entre China e Estados Unidos e as consequentemente medidas de protecionismo, que apontavam para uma recessão mundial. Agora, a situação piorou.
“Os estoques de alumínio continuam crescendo porque a retração da demanda foi mais forte do que a produção e deve atingir níveis acima dos registrados na crise de 2008”, prevê.
Com isso, o preço do alumínio deve ser pressionado e a estimativa, segundo Ricardo Carvalho, é de que demore cerca de cinco anos para o nível de produto acumulado retornar ao patamar pré-Covid-19.
No mercado interno, o comportamento da sociedade deve mudar no pós-pandemia, com novas exigências e dinâmicas, avalia Carlos Neves, Chief Operating Officer da Hydro.
“É um momento de muita incerteza e volatilidade. O mercado está ansioso para saber o que vai acontecer. Os grandes planos não vão poder esperar pela perfeição e terão de ser muito mais ágeis e bastante exequíveis”, acrescenta Neves.
Visão global
Francisco Pires, presidente da Novelis na América do Sul e também conselheiro da ABAL, considera que China e a Coreia do Sul têm conseguido passar pela crise de maneira mais controlada.
“A China já começa a retomar o segmento automotivo. A Novelis bateu recorde de vendas em abril. Na Coreia do Sul, por exemplo, o segmento de eletroeletrônico está aquecido por causa do aumento de pessoas em home office”, diz.
Segundo Pires, na Europa o segmento automotivo foi muito mais impactado, mas já inicia o retorno. Nos Estados Unidos, a pandemia chegou mais tarde, mas com efeito devastador.
“Temos 17 fábricas no País. Ficamos praticamente um mês e meio parados. Além do efeito da construção civil, que também foi forte”. O executivo acrescenta que o único segmento com demanda aquecida é o de chapas para latas, fato associado ao maior consumo da sociedade pelo aumento da permanência em casa.
“As lições que podemos tirar é que a retomada não deve ser em ‘V’ [abrupta]. Temos de esperar uma retomada em ‘U’ [parcial]. A própria queda na renda disponível vai afetar muito o consumo”.
Ainda segundo o dirigente da Novelis na América do Sul, existem oportunidades de exportação, porém com limitações, já que a tendência é de regionalização da cadeia de suprimentos.
“O que nos resta é a substituição da importação. Vejo com bons olhos a oportunidade de ocupar o espaço perdido na indústria de transformados de alumínio para os importados. Com a desvalorização da moeda e nossa capacidade ociosa, esse é um mercado que precisamos assumir rapidamente”, conclui.
Energia
Nossa reportagem procurou a Alubar para ouvir suas projeções. A empresa fornece cabos e fios de alumínio para o setor de energia elétrica. Para o diretor-executivo Maurício Gouvêa, alguns segmentos precisarão se acostumar com a nova relação de consumo e aguardar um retorno lento e gradual.
“Eu não consigo enxergar setores que possam fazer uma retomada rápida, com uma demanda reprimida que possa levá-los a um crescimento importante no curto prazo”, reforça Gouvêa.
Mesmo assim, o diretor-executivo explica que, na Alubar, não houve grandes prejuízos.
“Nós mantivemos a produção e o volume. O setor elétrico, no qual a empresa está inserida, não registrou esse impacto. Eu entendo que, no futuro, os projetos vão continuar acontecendo da maneira como estavam planejados antes da crise, prevendo a gradual recuperação da economia, sem diferenças no que já estava programado.”
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