NavyChair

Das batalhas às vitrines

Empresa que criou cadeiras resistentes à guerras, hoje decora vitrines pelo mundo, ao lado de designers que descobriram o alumínio

O empresário Wilton Carlyle Dinges nunca foi soldado mas, em 1944, durante a Segunda Guerra Mundial, recebeu uma missão da Marinha norte-americana: criar uma cadeira leve e resistente para ser parte dos navios oficiais em batalha, sabendo que as peças deveriam suportar a maresia e até torpedos lançados contra a frota.

Dinges, que havia acabado de fundar a Emeco (Electrical Machine and Equipment Company), em Hanover, na Pensilvânia, topou o desafio e não deixou a desejar. Junto com experts da Alcoa, produziu uma cadeira que se tornou referência mundial.

“Ela é ergonômica na forma do assento, muito resistente e, sem exagero, eterna. Há exemplares em Caracas que estão em lugares públicos há sessenta anos e se encontram em ótimo estado”, conta o designer venezuelano Bernardo Mazzei, da Bauxic, empresa especializada em móveis de alumínio. A informação faz eco às expectativas da marca: a peça, com seus três quilos, deve durar pelo menos 150 anos.

A criação foi chamada de 1006 (ten-o-six) ou, como é conhecida popularmente, Navy Chair. Seguindo a linha industrial, a fábrica passou a produzir modelos para serem utilizados em prisões, hospitais e escritórios governamentais – curiosamente, até hoje, parte dos filmes que retratam ambientes do governo utilizam os modelos da Emeco.

O final da Guerra Fria acarretou em queda na venda dos produtos e, apenas em 1998, quando a empresa foi comprada por Gregg Buchbinder, a marca voltou a prosperar. O novo CEO teve a ideia de direcionar o foco da Emeco para designers e arquitetos, buscando novas áreas de negócio – e a decisão foi certeira. Contando com a parceria de profissionais renomados, a empresa começou a se estabelecer como referência em design simples e arrojado.

SEGREDO DO SUCESSO
Tão famoso quanto a Navy Chair é o próprio processo de fabricação adotado e mantido pela fábrica desde sua fundação. São 77 passos para criar as cadeiras, todos envolvendo o trabalho manual dos funcionários. Além disso, os produtos são produzidos com 80% de alumínio reciclado – sendo que as próprias aparas industriais são aproveitadas. Com credibilidade estabelecida, garantia de qualidade e parceria com designers renomados, a Emeco concretizou seu sucesso.

Impulsionando o reposicionamento da marca, o designer francês Philippe Starck foi o primeiro profissional a fazer um desenho para a Emeco, em 1999, e destaca a importância de criar algo duradouro em um mundo onde tudo é descartável: “É uma cadeira que não pertence a ninguém. Você a utiliza até que chegue a vez de outra pessoa. Uma boa cadeira jamais deve ser reciclada e isso mostra grande consideração pela natureza e a humanidade”.

Outro grande parceiro da Emeco é Jean Nouvel, conterrâneo de Starck. “Meu trabalho é minimalista. E a parceria com a marca é como trabalhar em um campo de trigo: eles
semearam a cultura e eu apenas fiz a colheita”, conta. Norman Foster, Konstantin Grcic, Frank Ghery estão entre os mais de dez profissionais que desenvolveram trabalhos em conjunto com a Emeco.

Atualmente, a marca possui cerca de 45 modelos de cadeiras – há também banquetas e mesas – sendo que é possível comprar a Navy Chair de alumínio escovado por US$ 490, enquanto o modelo mais caro (a Kong-A) chega a custar US$ 1.600.

Benedixt, a empresa de design que representa a Emeco no Brasil desde 2009, disponibiliza os modelos importados, como a Navy Chair. Aqui, porém, a peça custa ao consumidor R$ 3.400, enquanto outros produtos da linha podem chegar a R$ 10 mil – e mesmo com os preços mais altos do que fora do país, a demanda é grande.

Buchbinder diz que a produção de mobiliário barato vindo da China impede o crescimento do mercado mundial, valorizando a briga por preço em detrimento do design, por isso considera essencial a presença clara em um nicho de mercado como estratégia de sobrevivência do negócio, que produz um produto de alta qualidade no qual as clientes investem.

TRADIÇÃO E ESTILO
O sucesso da empresa norte-americana se deve, também, ao alumínio, e quem está no comando reconhece o seu valor. “Há duas razões para este ser o melhor material para fabricar cadeiras. A primeira é que, uma vez que é produzido, dura para sempre e, a segunda, é que utilizando alumínio reciclado podemos ter consciência ambiental ao criar uma cadeira com durabilidade”, define Gregg Buchbinder.

Bernardo Mazzei, da Bauxic, ressalta as qualidades do alumínio para a confecção de móveis. “É extremamente versátil, como a madeira, e oferece combinações maravilhosas e incomuns com outros materiais. É muito interessante e pouco explorado”.

Reforçando a ideia de Mazzei, o responsável pela área comercial da Neocomponente, empresa especializada em projetos de móveis de alumínio, Marcello Carletti, afirma: “Além da leveza, as empresas estão despertando para as possibilidades de forma e acabamento do material, que em muitos casos já pode substituir a madeira”. E é graças à constante busca por inovação dos profissionais do mercado de design que existe tamanha variedade de cadeiras especiais sendo desenvolvidas.

Embora não seja tão popular, em termos de planejamento de ambientes, a cadeira tem, historicamente, um papel de peso entre as mobílias. “Ela talvez seja um termômetro bastante ilustrativo para analisar uma cultura ou época determinada na história”, avalia Mazzei, que lembra como a peça tem espaço simbólico de grande valor na sociedade – por exemplo, “juízes sentam-se em cadeiras rebuscadas, pesadas, que demonstram o poder, extensão de sua autoridade”.

A peça deixou de ser apenas mais um item que compõe o mobiliário – seu papel é agora fundamental em um espaço planejado, como explica Sérgio Fahrer, designer brasileiro que se dedica ao trabalho com alumínio: “Sem dúvida, a cadeira evoluiu muito e o alumínio causa curiosidade ao olhar do observador”, afirma o Fahrer, que diz ver um aumento significativo da presença do alumínio entre as peças feitas por demais designers brasileiros.

MERCADO BRASILEIRO
Mesmo que Gregg Buchbinder diga que a competição por preço restringe o mercado de design nos Estados Unidos, a situação no Brasil se mostra com outras nuances. Alcy Godoy, diretora da Benedixt, avalia a recepção do produto no Brasil como muito positiva, pois o nome da Emeco abre caminhos por si só. “Há muitos clientes à procura de um material resistente e com design atemporal”.

Ela ainda afirma que o alumínio garante a satisfação dos consumidores: aqueles que buscam as cadeiras da Emeco, em geral estão familiarizados com a história da empresa e desejam a união de qualidade e design. Um dos atrativos da marca, conta, é o fato de sempre serem lançados novos modelos com assinatura de designers de renome.

“Empresas que despertaram para a necessidade de criar e adaptar os desenhos estrangeiros já colhem frutos deste trabalho, sendo as formadoras de opinião nesse segmento”, analisa Carletti, da Neocomponente. Para ele, a abertura do espaço para este nicho na decoração mostra que o mercado está se transformando aos poucos. E aponta a tendência: “Está na adaptação do design europeu, especialmente o italiano”, diz.

Da mesma forma, Mazzei analisa o momento atual como muito favorável não só para aceitar o alumínio como parte importante no design, mas para criar novos projetos. “É um período muito interessante, porque existem artistas e artesãos que estão explorando todas estas possibilidades, fazendo acabamento à mão, o que é algo muito importante, mas combinando novos materiais e novas tecnologias de produção”.

Para Alcy, da Benedixt, o alumínio pode ser o grande responsável pelo crescimento do setor. “Acredito que é um mercado que ainda tem muito a crescer, pois esse é um metal durável e também sustentável, já que é facilmente reciclado.”

ESTRATÉGIA DE PRODUÇÃO
Conheça o processo “77 passos” de fabricação das cadeiras da Emeco, criado há 70 anos, para atender à demanda da Marinha dos EUA

FORMAÇÃO, SOLDAGEM E MOAGEM
A fabricação se inicia com um processo para conseguir curvas suaves e forma fluida no alumínio. As peças, então, são montadas com centenas de polegadas soldadas à mão e os artesãos moem as soldas para dar a aparência de peça individual, enquanto polidores especialmente treinados dão o acabamento final

ACABAMENTO À MÃO
Os demais passos envolvem a escovação à mão de cada centímetro da cadeira, assim como o polimento. “São quatro horas para fazer uma cadeira escovada e mais oito horas para 96% do de alumínio é finalizado como uma peça da Emeco”, conta Buchbinder, que reitera a importância do trabalho manual

TRATAMENTO TÉRMICO
São três etapas para fortalecer o metal, com um processo patenteado de tratamento térmico. Para garantir a resistência da cadeira, é feito um banho de sal a 515ºC, que eleva a têmpera à condição T4, seguido do enquadramento para eliminar a oscilação do material. Por fim, a peça passa a noite em um forno, atingindo a têmpera T6

ANODIZAÇÃO
O processo eletrolítico transforma a superfície da cadeira de alumínio em óxido de alumínio, acabamento que garante resistência. Segundo a marca, o óxido de alumínio se assemelha à dureza de um diamante

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