O cenário atual do mercado mundial de alumínio diante dos desafios impostos pela pandemia foi tema de webinar realizado aos membros da Associação Brasileira do Alumínio (ABAL), no dia 04 de maio. Na ocasião, Laís Santos, responsável pelas perspectivas do setor na Consultoria CRU International, apresentou os principais dados sobre demanda, oferta, balanço e preço no London Metal Exchange (LME).
Segundo a especialista, a demanda de alumínio tem sido prejudicada de três formas:
- O lockdown adotado em diversos países interrompeu operações no setor de semiacabados (como extrudados e folhas) e a demanda por alumínio primário chegou perto de zero na China, Espanha e Itália;
- Por conta da demanda mais fraca, os consumidores de produtos semiacabados (como a indústria automotiva) também foram forçados a parar ou reduzir a produção, cancelando os pedidos que tinham realizado junto aos fornecedores;
- O impacto da pandemia permeia a economia e uma possível recessão geral pode reduzir ainda mais o consumo de alumínio.
A CRU International projeta uma queda de 9% na demanda global de alumínio em 2020; apenas o setor de embalagens deve crescer 1%, puxado principalmente pelo segmento de latas. Veja as projeções abaixo:
- Transportes: – 17%
- Construção Civil: -9%
- Industrial (cabos elétricos, bens de consumo e máquinas e equipamentos): -6%
- Folha: -4%
- Embalagens: 1%
A especialista explica que o mercado de Transportes, que representa 23% da demanda de alumínio mundial, é o que está sofrendo mais — e já enfrentava dificuldades antes da pandemia. No entanto, já é possível observar algumas montadoras na China retomando as operações, mas com utilização de alumínio bem abaixo do normal. “Isso deve acontecer em outros países do mundo”, avalia.
Em comparação com a crise de 2009, Laís conta que antes daquela recessão, o mercado de alumínio crescia cerca de 5% por trimestre. Já no final de 2019, antes da pandemia, o crescimento era quase inexistente. Nesta mesma perspectiva, o papel da China mudou consideravelmente. Em 2009, o país representava 34% de todo o mercado de alumínio e, atualmente, a participação corresponde a 57%.
“Hoje o mercado é mais dependente da China. Na recessão anterior, o país asiático usou um pacote de estímulo que manteve a economia crescendo a 9%. Desta vez, o país foi o centro do surto do novo coronavírus, e o Produto Interno Bruto (PIB) encolheu 6,8% no primeiro trimestre de 2020”, ressalta Laís Santos, sinalizando uma recuperação mais lenta pós-pandemia.
Já a produção foi atingida em uma extensão muito menor e deve apresentar crescimento de 1% neste ano, puxado por América do Norte, Oriente Médio e China. As Américas Central e do Sul são as regiões com projeção de maiores quedas, de -19% quando somadas.
“Os smelters estão com boa rentabilidade. O preço LME caiu, mas os custos declinaram mais ainda – em parte por conta do preço do petróleo, que despencou. Mesmo que a demanda não esteja boa, não há motivo financeiro para fechar a produção”, avalia.
De acordo com os dados da CRU International, a média anual do preço LME deverá ser de 1.470 dólares/tonelada. Em relação aos saldos e estoques, há projeção de um superávit maciço de 5 milhões/tonelada em 2020, maior que em 2009. O setor deve passar de 100 dias de estoque, como aconteceu na crise de 2009.
A especialista alertou ainda que as projeções foram realizadas no meio da pandemia e que mudanças, com as indústrias paradas por mais tempo do que o esperado e uma possível segunda onda de infecções, podem alterar as impressões.