ARGUMENTO

Projeto piloto de certificação de pegada de carbono abre caminho para que a indústria brasileira ganhe competitividade frente aos mercados mais exigentes

Embora o Brasil conte com uma matriz energética limpa e amplo acesso a recursos naturais, suas empresas ainda não possuem um certificado que ateste que elas são realmente “ecoamigáveis”, por emitirem menos gases do efeito estufa (GEE) – mesmo com o mercado cada vez mais exigente quanto à reputação ambiental de seus fornecedores.

Ciente disso, a Carbon Trust, organização britânica com expertise em sistemas de economia de baixa emissão de gás carbono, viu a oportunidade e decidiu apostar em um projeto no país. Com investimentos da companhia inglesa Prosperity Fund e apoio do Ministério de Desenvolvimento Indústria e Comércio (MDIC) e da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) foi lançado o Sistema de Medição e Certificação da Pegada de Carbono de Produtos que, ao longo de dois anos, desenvolveu um piloto com empresas de seis setores: alumínio, tecidos, vidro, aço, cimento e químico, totalizando 9 categorias de produtos e 16 categorias de subprodutos.

Das vinte empresas participantes, quinze foram aprovadas, sendo que todas na categoria alumínio conquistaram o certificado – o que só comprovou, mais uma vez, que o metal é referência quando o assunto é sustentabilidade. “O valor da pegada de carbono é um passo à frente para então futuramente se tornar um requisito legal para todas as empresas”, aponta Letícia Hanser, analista ambiental da General Cable, que conquistou a certificação analisando a pegada dos cabos de alumínio fabricados pela companhia.

VANTAGENS

O pioneirismo do projeto abre caminho para um importante e necessário movimento do mercado em prol de uma economia mais verde e justa, permitindo que as empresas otimizem suas práticas produtivas, ganhando competitividade tanto no mercado nacional, frente a produtos importados, quanto no âmbito internacional ao buscarem clientes em mercados tradicionalmente mais exigentes em sustentabilidade de produtos — transformando o gerenciamento dos impactos ambientais em vantagem comercial.

Roberto Seta, diretor comercial da General Cable ressalta esses benefícios: “A certificação irá favorecer tanto a competitividade entre concorrentes no Brasil quanto em países afora. Se algum empresário brasileiro optar por uma indústria de cabos chinesa, por exemplo, podemos agora provar que, além de usufruir de uma matriz energética mais limpa, a confecção dos cabos emite CO2 de acordo com os limites”. A Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), outra participante, no caso, para a produção de folhas de alumínio, também observa as vantagens e já faz planos: “A nossa perspectiva agora é avançar nos demais produtos da companhia, pois nos trará benefícios no mercado externo”, sinaliza Ana Cláudia Lima, gerente de meio ambiente da empresa.

Viviane Ortlibas, gerente de projetos da Recicla BR, que teve como produto atestado o alumínio reciclado, reforça a importância de que a medição seja uma preocupação, independentemente de qualquer requisito legal. “Por que não oferecer vantagem competitiva às empresas que optarem por uma energia mais limpa, por exemplo? A sociedade precisa se conscientizar de que os recursos naturais são limitados e todos são responsáveis”, diz.

Rogerio Almeida, vice-presidente de Operações da Novelis, que participou do processo com seus produtos laminados, acredita que o certificado traga um novo padrão de qualidade para a indústria brasileira. “O pioneirismo é um fator que impulsiona as empresas, uma vez que elas podem se diferenciar da concorrência demonstrando sua capacidade de apresentar soluções frente às tendências.” Ele diz que o certificado é um complemento e um reconhecimento, pois a companhia vem ampliando a sua gestão ambiental nos últimos anos. “Para a Novelis, isso já é uma realidade desde 2011, quando começamos a desenvolver a nossa cadeia produtiva visando a economia circular.No ano de 2015, as emissões de gases das operações da empresa tiveram
queda em todas as categorias, quando comparadas a 2014”.

PROCESSO

Ao longo do projeto, as empresas passaram por três etapas até a avaliação final. Guy Ladvocat, gerente de certificação da ABNT, explica que devido a diversidade de instituições que estavam sendo avaliadas, a ABNT redigiu regras específicas para cada produto. “Um exemplo são as empresas no setor do alumínio, pois mesmo que as quatro participantes trabalhassem com o metal, por conta da divergência de produtos as regras oficiais foram estabelecidas individualmente”, aponta. A empresa poderia escolher as próprias ferramentas de cálculo da pegada de carbono, desde que em conformidade com os Requisitos de Medição do Sistema e das Regras de Categoria de Produto do artigo em questão. Como resultado concebeu-se uma metodologia para a medição de pegada que possibilitará que outras empresas atestem seus produtos.

Viviane da Recicla BR, reconhece o valor do certificado e almeja a criação de um “selo ambiental”: “Com essas informações será possível criar valores de referência para a economia brasileira. A partir daí, poderemos estipular parâmetros comparativos sobre como as empresas estão se comportando na emissão de carbono. O que poderá então resultar na criação de algum selo para os produtos”.

Apesar do sucesso desse projeto, as empresas ainda têm muito trabalho pela frente. As demandas do mercado atual fazem com que questões de sustentabilidade não possam ser deixadas para depois. O mundo está comprometido em implementar uma economia de baixo carbono a longo prazo, e esses são os primeiros passos brasileiros para se adequar às melhores práticas internacionais.

 

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