A 58ª Assembleia Permanente pela Eficiência Nacional (Aspen), com o tema Redução de Emissões de CO2 com a utilização de Alumínio em transporte, reuniu no dia 15 de agosto, em evento online, especialistas do ramo a fim de debater o potencial do alumínio como solução para um setor de transportes mais sustentável.
O evento contou com a participação da presidente-executiva da Associação Brasileira do Alumínio (ABAL), Janaina Donas, e representantes da cadeia de transporte e alumínio, como Raquel Montagnoli, gerente de Sustentabilidade da Companhia Brasileira de Alumínio (CBA); Juliano Pimentel, diretor de Tecnologia da Randoncorp; e Maurício Gazzi, gerente de Engenharia de Desenvolvimento de Produtos da Marcopolo. Foram abordados os desafios e as oportunidades na implementação de tecnologias e práticas inovadoras para um futuro com menos carbono.
No início do painel, Janaina Donas demonstrou a importância estratégica do alumínio na mudança para uma economia com baixas emissões de carbono em vários setores, com ênfase no de transportes por sua combinação de leveza, versatilidade, durabilidade, sofisticação e reciclabilidade.
A presidente da ABAL ressaltou o enorme potencial de crescimento do setor de transportes no consumo do alumínio, tanto no Brasil como no mundo. No Brasil, o setor já ocupa a 2ª posição, atrás apenas do segmento de embalagens, representando 18,5% do consumo total de produtos de alumínio no País. E, globalmente, o nicho de transportes destaca-se como o segmento de maior representatividade, com 26%.
“O setor de transportes é o que apresenta maior potencial de crescimento na demanda por alumínio, impulsionado por políticas públicas de redução de peso, eficiência energética e emissões de carbono. As projeções internacionais apontam para um crescimento da demanda global da ordem de 40% até 2050″, informou Janaina.
Além disso, o alumínio é crucial para o setor de mobilidade, principalmente devido à sua leveza em comparação ao aço. Essa característica permite aumentar a capacidade de carga e garante maior autonomia e eficiência energética aos veículos, resultando em menor consumo de combustível e redução de emissões. O alumínio também oferece alta resistência mecânica e à corrosão, proporcionando maior durabilidade, um fator cada vez mais relevante na busca de produtos com vida útil mais longa.
O Brasil possui ainda altas vantagens competitivas na cadeia do alumínio, como a 4ª maior reserva de bauxita do mundo, a 3ª maior produção de alumina e a 6ª posição no ranking global de produção de alumínio primário.
Ao final de sua apresentação, Janaina fez um chamou a atenção para a necessidade de fortalecer parcerias estratégicas entre instituições públicas e privadas do setor, além da colaboração entre empresas e fornecedores.
“É por meio da colaboração e entendendo a realidade e as necessidades de cada mercado que conseguiremos contribuir e alavancar ainda mais os benefícios da aplicação do alumínio no setor de transportes”, salientou.
Rumo à descarbonização
Raquel Montagnoli, gerente de Sustentabilidade da CBA, expandiu a discussão sobre o alumínio no setor de transportes. Ela acrescentou outras vantagens do material, como sua não condutividade, que facilita o uso de fluidos veiculares; alta absorção de impacto, aumentando a segurança dos passageiros em caso de acidentes; e facilidade de moldagem em diferentes geometrias. Ainda reforçou o compromisso da empresa com a descarbonização.
A gerente da CBA destacou o impacto significativo do alumínio na redução de emissões de CO2, afirmando que a substituição de 1 kg de aço por alumínio em um veículo pode reduzir as emissões de CO2 em até 45 kg durante sua vida útil.
Raquel reconheceu, no entanto, que a produção de alumínio representa 2% das emissões globais de CO2, com a refinaria e a eletrólise como etapas mais intensivas, mas destacou o diferencial da sua companhia nesse cenário.
“A CBA utiliza 100% de energia renovável em sua produção de alumínio, proveniente de 21 hidrelétricas e dois complexos eólicos próprios. Essa matriz energética limpa, combinada com o uso de biomassa em nossas caldeiras, nos leva ao melhor resultado de refinaria do mundo em emissões de gases de efeito estufa”, considera.
A empresa possui um plano claro para alcançar a neutralidade de carbono até 2050, com metas validadas pela Science Based Targets initiative (SBTi). Para atingir esse objetivo, investe, por exemplo, em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias, promove a reciclagem e a neutralização de emissões por meio da captura de carbono e da preservação de suas reservas florestais.
Leveza e economia
Juliano Pimentel, representante da Randoncorp, compartilhou a experiência da empresa na aplicação do alumínio para promover a sustentabilidade no setor de transportes. Ele mostrou o desafio de equilibrar o custo mais alto do alumínio com suas vantagens.
“A Randoncorp tem se dedicado a otimizar o uso do alumínio em seus produtos, motivada pela crescente demanda por veículos mais leves e eficientes. Essa busca é crucial para nós, pois veículos mais leves aumentam a rentabilidade dos transportadores, tornando o País mais competitivo. O alumínio, em conjunto com outros materiais não ferrosos e poliméricos, tem um papel fundamental nesse processo.”
A empresa vem aumentando gradualmente a utilização do alumínio em diversos produtos, como furgões, graneleiros e tanques. Essa evolução resultou em reduções significativas de peso, com ganhos de até 720 kg em graneleiros e mais de 2 t em tanques.
A leveza do alumínio se traduz em economia de combustível e redução de emissões de CO2. Pimentel apresentou dados que mostram que a redução de 1 t no peso de um caminhão pode gerar uma economia de 2% no consumo de diesel.
“O uso do alumínio está diretamente ligado à maturidade do mercado de transporte, ganhando cada vez mais espaço na indústria e no setor de transportes a cada ano. O alumínio contribui para a redução da emissão de CO2 na logística. Para se ter uma ideia, a mesma capacidade de frete utilizada para transportar um tanque de aço pode ser usada para transportar dois ou três tanques de alumínio, otimizando o transporte de matérias-primas e diminuindo o impacto ambiental”, afirmou.
Eficiente e sustentável
A Marcopolo vem empregando o alumínio na fabricação de veículos cada vez mais leves, eficientes e sustentáveis. Em sua apresentação, Maurício Gazzi admitiu que existe um certo “preconceito” em relação ao uso do alumínio, já que o mercado o considera mais frágil ou menos durável que o aço. Contudo, ele demonstrou que a Marcopolo supera esses desafios por meio de engenharia avançada e aplicação inteligente do material.
Segundo Gazzi, a empresa tem feito grandes avanços nessa substituição, os quais vão além da troca do aço pelo alumínio. Na sua nova geração de ônibus, o Marcopolo G8, a organização também reduziu o uso de alguns componentes, como, por exemplo, a fibra de vidro, que antes era utilizada em acabamentos externos no teto dos ônibus. Com a substituição pelo alumínio, houve diminuição da espessura de 5 para 1,1 mm em peças de grandes dimensões, resultando em uma redução significativa de massa.
“Além da redução de peso, o alumínio oferece vantagens em termos de capacidade, proteção anticorrosiva e menor consumo de combustível. A Marcopolo trabalhou em parceria com a CBA com o intuito de desenvolver também uma liga de alumínio específica para suas necessidades, garantindo as melhores propriedades mecânicas e químicas para proteção contra corrosão. Com o aumento de 63% no uso de alumínio na geração 8 (de 393 para 625 kg), a empresa, juntamente com outras soluções tecnológicas, conseguiu diminuir o consumo de combustível em quase 3%, além de outros benefícios”, mostrou.
A redução de peso e a maior eficiência dos ônibus Marcopolo se traduzem em benefícios tanto para o meio ambiente como para os clientes. A empresa estima uma queda anual de mais de 1 t de CO2 por veículo. Além disso, a cada 200 kg de peso reduzidos, a capacidade de transporte de passageiros aumenta em, aproximadamente, duas pessoas.
“Com o alumínio, você realmente obtém uma solução mais leve que resulta em menor consumo de combustível. Olhando para o futuro, com a crescente importância da economia circular, o alumínio se destaca por ser facilmente reciclável”, considerou o gerente de Engenharia da Marcopolo.
Desafios e incentivos
De acordo com Janaina Donas, o governo está desenvolvendo instrumentos de financiamento e incentivo para impulsionar a indústria automotiva. Um exemplo é o programa Mover, que oferece incentivos para pesquisa, desenvolvimento e inovação. Além disso, a reforma tributária em andamento estabeleceu um imposto seletivo para veículos mais poluentes, o que também pode ser visto como um estímulo para a produção e adoção de veículos mais sustentáveis.
A questão dos veículos leves está relacionada ao preço, à demanda e à maturidade do mercado consumidor brasileiro. Carros elétricos ainda são caros, sendo inacessíveis para a maioria da população. Então, o desafio é aumentar a percepção de valor em um mercado em que o preço é um fator crucial.
Apesar dos desafios, a tendência é de crescimento, conforme o mercado evolui e amadurece. A tecnologia e o conhecimento existem no Brasil, e os investimentos necessários são conhecidos pela indústria.
“Em um país com restrições orçamentárias como o nosso, a criação de incentivos é um desafio, mas a indústria do alumínio, representada pela ABAL, busca trabalhar com o conceito de ‘material estratégico’ para impulsionar o setor e superar essas limitações”, destacou a presidente-executiva da ABAL.
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