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No final da década de 1980, durante três meses Deoclécio Pignataro viajou por países da Europa para estudar o mercado das latinhas de alumínio e o comportamento de diferentes consumidores. O olhar sobre os desenvolvidos alemães e tradicionais italianos fez com que ele tivesse uma certeza: assim que chegassem ao Brasil, as latas seriam um sucesso garantido.

Vinte e cinco anos depois, ele sorri: a aposta mais do que acertada foi além das expectativas e transformou-se em uma história “digna de aplausos”. “Antes da chegada das latas de alumínio para bebida no Brasil, o que havia eram as produzidas em três peças de aço”, lembra Pignataro, consultor do mercado, que foi o presidente da primeira fábrica de latas de alumínio no país, a Latasa (atual Rexam) e vice- -presidente para América Latina da Reynolds, empresa americana responsável por trazer o produto para o país.

Arnaldo Costa, da Stolle Machinery, líder no fornecimento de máquinas e equipamentos para fabricação de latas metálicas, também deu os primeiros passos junto com a indústria à época e revela que as latinhas, no princípio, eram tratadas como produtos premium, principalmente devido ao preço. Mas, com o aumento da demanda e produção, o custo caiu e as latas se tornaram um item acessível. “Logo o consumidor entendeu a lata e as crianças, principalmente, se identificaram muito”, afirma Costa. De acordo com o empresário, havia nas escolas uma tabela de trocas entre latinhas e itens para uso. As crianças faziam mutirões para recolher latinhas e com isso criou-se um hábito: “era um produto que não virava lixo”, conta.

Igualmente, a Akzo Nobel, fornecedora de vernizes e tintas para o segmento, caminhou junto nessa trajetória de inovação. “A empresa participou da história da lata mundialmente e vivenciou toda a evolução no Brasil investindo para trazer tecnologia ao país”, conta Francisco Vital, diretor da unidade de Metal Coating da empresa. “Um dos principais marcos foi o início da produção nacional do verniz interno entre 1997 e 98, o que ajudou a impulsionar a cadeia produtiva e a tornar a lata mais competitiva”, lembra.

Evolução

Ivan Pinto, que também integrou o time da antiga Latasa, atualmente é sócio-proprietário da consultoria industrial HAR&MA. Ele reforça a importância do custo-benefício dos produtos e compara os ganhos ao longo dos anos: “temos hoje três grandes multinacionais, com produção por todo o país, que agregaram tecnologia de ponta e incentivaram a economia local com a instalação de empresas de engenharia, produtores de sofisticados equipamentos, desenvolvimento de uma mão de obra altamente qualificada”, enumera.

Em 1990 foram produzidos 440 milhões de latas de alumínio no Brasil, número que em sete anos passou para 6 bilhões. Segundo dados de 2014, da Associação Brasileira de Latas de Alta Reciclabilidade (Abralatas), a capacidade instalada no país é de 28 bilhões (sendo quase 25 bilhões em vendas). Nesse crescimento, a participação no mercado de cerveja é a conquista mais emblemática. “Nos últimos dez anos, o share passou de 30,4% para 45,8%, graças principalmente aos formatos especiais que se adequam a diferentes ocasiões de consumo”, afirma Renault Castro, presidente executivo da Abralatas.

Com a vantagem da flexibilidade de acabamentos e formatos, os players conseguem atender diferentes consumidores. “Números do Sicobe indicam um crescimento de 14.3% na fabricação de cerveja em lata em 2014, um número bem superior ao aumento registrado em toda a produção de bebida no Brasil, que foi de 4.2%”, endossa Nicanor Rocha, gerente comercial de latas da Novelis, fornecedora de chapas de alumínio para o mercado da América Latina.

Reciclagem

Referência internacional absoluta pelos índices de reciclagem acima de 95% há uma década, um dos segredos desta eficiência está no preparo da equipe que trabalhou na instalação da primeira indústria do setor. “Antes mesmo de montarmos a fábrica aqui, já trabalhávamos em uma estrutura para reciclagem. Não era grande, mas estava nos lugares importantes”, lembra Costa, da Stolle.

O programa de reciclagem da lata de alumínio é hoje uma experiência de sucesso com grande influência social, econômica e ambiental. Em 2012, somente a etapa de coleta de sucata (compra de latas usadas) injetou cerca de R$ 630 milhões na economia nacional, gerando emprego e renda para milhares de pessoas. “O Brasil é líder há 12 anos consecutivo na reciclagem de latinha de alumínio pós-consumo, com o índice de 97,9%. Foram 267,1 mil toneladas de sucata de latas recicladas, o que corresponde a 19,8 bilhões de unidades, ou 54,1 milhões por dia ou 2,3 milhões por hora”, diz Rocha, da Novelis.

Esse resultado é fruto da conjugação de vários aspectos. No Brasil, instalou-se a cultura das cooperativas de catadores, que atualmente têm o trabalho valorizado perante a sociedade. Tecnologias de triagem e inovações no mercado pretendem otimizar os processos de reciclagem e tornar o país ainda mais eficiente na logística reversa.

A questão da sustentabilidade tem sido a principal bandeira na luta setorial. “O setor teve uma conquista muito importante no final do ano passado, fruto de uma reinvindicação de mais de dez anos: a tributação baseada no valor da embalagem das bebidas, que leva em conta o impacto ambiental”, informa Castro, da Abralatas.

Segundo ele, a expectativa agora recai sobre o desenvolvimento do Programa de Rotulagem Ambiental, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (Abnt), em que as embalagens apresentarão informações referentes ao impacto ambiental, o que deve refletir diretamente nas vendas. “É muito importante para as latas de alumínio, pois possibilitará ainda mais que o consumidor faça uma escolha consciente sobre o caráter do produto que ele está adquirindo”, diz

Futuro

E ainda há muito por vir, aposta Pignataro: “As latinhas hoje crescem 4,9% ao ano, em meio à crise, e não vão crescer menos do que isso no futuro. A minha perspectiva é de que estaremos produzindo mais de 45 bilhões daqui a 25 anos”.

Grandes eventos como os Jogos Olímpicos contribuem para o aumento da demanda, assim como a Lei Seca, que leva o consumo de cerveja para dentro de casa, onde a lata tem presença consolidada. “Clientes, como Rexam e Latapack-Ball, investem muito: tintas que brilham no escuro, máquinas que imprimem com relevo”, diz Costa, da Stolle. A empresa em breve colocará em operação uma novidade para o setor industrial de fabricação de latinhas: uma máquina de aplicação de selante, chamada Vortex, criada no Brasil. “Possui altas velocidades, podendo processar 700 latas por minuto, o que promete otimizar ainda mais a produção de latas e tampas”, explica.

Francisco Vital, da Akzo Nobel, aponta que a importância e a valorização da lata permeiam por todo o setor: “Os funcionários têm muito orgulho de pertencer a esta cadeia. A lata é uma paixão, tem tudo a ver com o propósito da empresa, que acredita na sustentabilidade”, declara. Boa parte desse sucesso no país se deve ao alumínio, que deu à lata as propriedades, preço e facilidades que garantiram as possibilidades de disseminação e criatividade. “A gente tem de reconhecer que sem ele não existiria esse sucesso da lata de duas peças”, afirma Arnaldo Costa, da Stolle. Sem dúvida, há muito para comemorar.

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