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Energia eólica é oportunidade de bons negócios para o alumínio

Bons ventos têm trazido oportunidades para à região nordeste do país – literalmente. A matriz eólica vem crescendo significativamente no Brasil, tanto que o país subiu cinco posições e é hoje o décimo no ranking mundial de capacidade instalada, elaborado pelo Global Wind Energy Council (GWEC).

Somente no ano passado foram inaugurados mais de cem parques eólicos, principalmente nos estados da Bahia, Rio Grande do Norte e Ceará, totalizando hoje 360 usinas. “Ao adicionar, em 2015, 2,75 GW de nova capacidade eólica, um recorde brasileiro, o país garantiu também a 4ª colocação no ranking de nova capacidade eólica mundial”, afirma Elbia Melo, presidente executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica).

Segundo dados da entidade, em 2014 a capacidade instalada no Brasil era de 4,8 GW. Hoje o número praticamente dobrou e é de 9 GW, representando 5% a 6% da matriz energética. Com representatividade de 2% em nível mundial, a fonte eólica brasileira está na mira dos investidores. “Nos últimos cinco anos, o número de usinas de geração eólica no Brasil quadruplicou”, afirma o ministro de Minas e Energia, Carlos Eduardo de Souza Braga. A estimativa é de que a geração chegue a 24 GW até 2024.

Deste volume, espera-se que 21 GW sejam gerados na região nordeste, que tem ventos adequados para a energia eólica e, devido às secas sazonais, tem a geração hidrelétrica comprometida. Como é o caso da Bahia, com geração da ordem de 1,218 GW: se não fosse pela energia eólica estaria desde novembro em sistema de racionamento.

Larissa Rodrigues, da campanha de Clima e Energia do Greenpeace, avalia a meta como tímida. “Pela previsão do governo precisaríamos contratar apenas outros 6,4 GW pelos próximos seis anos e isso é muito baixo frente ao ritmo de contratação atual. Seria possível contratar pelo menos o dobro disso e chegar a 2024 com pelo menos 30 GW”, afirma. É importante lembrar que a energia dos ventos traz outras contribuições importantes. Segundo ela, a produção energética mundial da fonte eólica, que hoje é de 27 TWh/ano, favorece significativamente o meio ambiente. “Isso representa uma redução de 3,4 milhões de toneladas de emissões de CO2 avalia Larissa.

ALUMÍNIO

O mercado brasileiro tornou-se tão interessante que tem atraído empresas de dentro e fora do país. Recentemente, empresas líderes do mercado eólico como Vestas, Gamesa e Acciona abriram fábricas no Brasil. E essas oportunidades também sopram a favor do alumínio. Com aplicações estratégicas dentro da estrutura da turbina, as propriedades do metal trazem benefícios importantes.

As turbinas horizontais de grande porte são compostas por: torre, para que o sistema fique no alto onde estão os ventos mais fortes; nacele, estrutura que abriga o gerador que transforma a energia mecânica em elétrica; e as pás, que são impulsionadas pelo vento. “O alumínio é mais leve, melhora a resistência contra a corrosão e permite a redução de custos”, resume Verónica Díaz López, do departamento de comunicação da Gamesa, gigante espanhola fabricante de turbinas, que tem investido pesado. “O Brasil é um dos mercados prioritários da Gamesa, somos o segundo fabricante aqui”, afirma Verónica. Somente nos primeiros nove meses de 2015, a empresa instalou doze parques eólicos, com 369 turbinas, contabilizando 738 MW.

A Vestas, empresa dinamarquesa e uma das maiores fabricantes de aerogeradores do mundo, segue o mesmo caminho. Já instalou 713 MW de capacidade e tem 376 MW em projetos que estão em andamento, além do aporte de R$ 100 milhões para a instalação de uma unidade fabril. “Assinamos acordos de abastecimento para produzir lâminas e geradores localmente. E recentemente inauguramos uma fábrica de cubo e nacele em Aquiraz, no Ceará, que já começou a produção”, destaca Irene Rodriguez Alvarez, responsável pela comunicação da Vestas.

Dentre os produtos da companhia, o metal tem papel fundamental. “Uma das principais vantagens do alumínio é que é capaz de proporcionar uma força razoável com baixo peso, por isso é usado em vários lugares na turbina, como condutores de alta tensão, que são feitos de ligas de alumínio.
Além disso, algumas das estruturas internas da torre são em alumínio”, enumera Irene. Segundo o gerente de marketing para energia eólica da Sapa Group no mercado europeu, Arjan Bouvy, os impactos da presença do alumínio no projeto são as funcionalidades integradas de menor manutenção e custo, devido à maleabilidade do material, já que aceita formas complexas.

“Quando comparado ao aço, que precisa ser cortado, perfurado, soldado e modelado para obter o mesmo nível de funcionalidade, o alumínio resulta em economia. Pois significa menos peças e, portanto, menos etapas de produção, o que reduz o custo. Isso oferece a possibilidade de integrar diferentes funcionalidades a um perfil ou componente com relativamente pouco ou nenhum custo adicional”, esclarece. Por isso, o metal tem ganhado espaço no segmento – Bouvy sinaliza que o volume de alumínio em uma turbina pode chegar a cerca de 1,5 t a 2 t – sendo usado principalmente para reduzir o custo total da obra, substituindo outros materiais, como aço e fibra de vidro.

Além disso, as características do alumínio agregam outras vantagens, como a resistência à corrosão, que novamente reduz custos devido à economia com galvanização do aço ou sistemas de pintura. Bouvy ainda destaca mais um fator interessante. “O alumínio oferece uma excelente condutividade térmica. O cobre ainda é o melhor material condutivo, cerca de 40% a 45% melhor. No entanto, alumínio é o material de escolha se você quiser economizar pelo menos 50% em peso e custo e tiver espaço para um pouco mais de material no seu design”, resume. Ele aponta que em locais sujeitos a intempéries e tempestades, como em aplicações offshore, o alumínio oferece uma proteção extra às estruturas ao criar uma gaiola natural de Faraday, dissipando a descarga elétrica dos raios.

A Sapa Group fornece, para o mercado europeu e EUA, calhas de chuva entre a nacele e o eixo, dissipadores de calor para o arrefecimento dos inversores de energia dentro da turbina, assim como perfis internos da coluna, como escadas e suportes. “As ligas mais utilizadas para essas aplicações são as 6063 e 6060 e os principais usos são em peças estruturais para a cobertura e piso dentro da nacele e as plataformas de manutenção no topo dela”, destaca Bouvy.  A empresa também almeja explorar o potencial do metal nesse setor e, futuramente, fornecer para o mercado brasileiro. Hoje, o maior projeto de desenvolvimento em curso concentra-se na conversão de plataformas de trabalho na torre, que são feitas em aço para o alumínio extrudado.

O segmento também é importante para a Novelis e, com a aprovação dos novos parques eólicos, deve se tornar ainda mais. A empresa conta que dobrou a oferta de material: “O plano do governo de aumentar a participação de energia limpa, eólica e solar corrobora esta nossa visão de crescimento”, diz Claudio Leite, gerente comercial de especialidades da Novelis. Ele aponta que a empresa está envolvida em estudos para aumentar a participação do alumínio nesse segmento. “Atualmente, fornecemos chapas lisa e xadrez na liga 5053 com espessuras de até 5mm, que estão presentes nas plataformas, que são 100% em alumínio e que ficam internamente na torre que suporta as pás”, diz.

Com tantas oportunidades para o crescimento da participação do alumínio, a Votorantim Metais – CBA também tem demonstrado mais interesse nesse mercado. “A empresa já possui expertise técnica para atender o mercado de fabricação das estruturas dos parques geradores e vem trabalhando com o objetivo de ampliar o volume de fornecimento de alumínio para outros componentes da turbina”, afirma Heber Pires Otomar, gerente corporativo de desenvolvimento de mercado da empresa. Inclusive, no ano passado, a Votorantim Energia, também integrante da holding, anunciou R$ 1,13 bilhão para a construção de parques eólicos no Piauí.

A Alcoa também prospecta o setor. “Estão em desenvolvimento pesquisas para o uso do alumínio na construção de lâminas, substituindo os materiais existentes, como fibra de vidro, madeira, espuma de PVC e resina epóxi”, sinaliza Nathalie Tessier, diretora de extrusão e negócios downstream da Alcoa América Latina. Outro mercado que pode se beneficiar desse crescimento é o de fios e cabos de alumínio. A General Cable tem estudado esta aplicação nas turbinas. “O uso de cabos de alumínio está ligado ao custo/benefício dentro dos projetos eólicos”, afirma Roberto Seta, diretor comercial da multinacional. Ele conta que a empresa atua no setor há mais de dez anos, oferecendo cabos isolados de média tensão com condutor de alumínio. “Existem também alguns cabos isolados de baixa tensão em alumínio, que servem de para-raios nas pás do aerogerador e também nas descidas das torres”, explica.

MICROGERAÇÃO

Todos esses benefícios também são explorados nas turbinas horizontais ou verticais, sistemas eólicos de pequeno porte para instalação em locais urbanos, pois potencializam o aproveitamento de ventos fracos e irregulares – capazes de abastecer uma residência com consumo médio de 300 kWh/mês, de acordo com a velocidade do vento. “O alumínio é o material que compõe toda a estrutura da turbina. O alternador, o swivell [elemento de giro], o acoplamento na torre em quase todos os modelos e o mecanismo de controle de posição das pás são feitos em alumínio”, explica Luiz Cezar Pereira, engenheiro e diretor executivo da Enersud, fabricante nacional de turbinas de microgeração.

Pereira indica que o consumo de alumínio no setor será naturalmente puxado pelo crescimento do uso de turbinas. “É até difícil imaginar o aumento da aplicação do alumínio quando a turbina é feita quase integralmente por esse metal”, avalia o engenheiro. No caso dos pequenos aerogeradores se usa cerca de 35kg de alumínio por turbina. Mas no futuro uma outra aplicação pode elevar esse número. “No caso das turbinas de eixo vertical, os elementos de posicionamento das pás poderão ser feitos com o metal”, afirma.

Eduardo Konze, sócio e diretor de marketing da Energia Pura, importadora e comercializadora de turbinas de pequeno porte, reforça a vantagem do metal: “O alumínio tem altíssima qualidade e resistência a qualquer condição climática”. E aponta que o aumento do volume de produção é um caminho natural: “Percebemos influência na demanda da energia elétrica. Cada vez mais pessoas querem produzir sua própria eletricidade renovável e independente”, diz.

INVESTIMENTO

O custo inicial do sistema de micro-geração ainda é um vilão. Pereira aponta que a geração de energia para consumo próprio depende dos custos de produção que, por sua vez, dependem de escala de venda. “Temos um círculo vicioso onde não se vende mais, pois o preço é alto e o preço é alto porque se vende pouco. A tendência é esse obstáculo ir se reduzindo”, avalia. Mas um projeto de lei em discussão no Senado pode mudar o cenário. O PL 371/2015, do senador Ciro Nogueira (PP -PI), pretende liberar o uso do FGTS para a compra e instalação de equipamentos de geração elétrica residenciais.

Várias instituições têm realizado estudos com o intuito de baratear ainda mais a energia. A Sandia National Laboratories, por exemplo, está promovendo uma pesquisa sobre turbinas offshore com pás gigantes. “As turbinas maiores oferecem potencial para reduzir custos, mas isso não é fácil e exige uma engenharia cuidadosa para torná-las uma realidade”, afirma Todd Griffith, pesquisador responsável pelo projeto americano. Ele explica que a quantidade de energia extraída a partir do vento por uma turbina depende do tamanho de suas pás. “Ao dobrar o comprimento você recebe quatro vezes a potência”, diz.

Para a presidente da ABEEólica, o custo é um fator que vem estimulando o crescimento do segmento, graças justamente à evolução tecnológica dos equipamentos. “A fonte eólica é atualmente a segunda fonte mais competitiva, perdendo apenas para as grandes hidrelétricas”, afirma Elbia. Ministro de Minas e Energia, Braga também avalia positivamente: “Trata-se de energia a preço competitivo, em patamar que atrai os investidores, e que viabiliza a expansão da matriz energética brasileira”.

Na contramão das demissões em diversos setores da economia, esses empreendimentos devem gerar até 2019 cerca de 270 mil novos postos de trabalho. E as oportunidades surgem em um contexto de necessidade, pois o mapa eólico brasileiro coincide com o mapa da pobreza, já que a maior parte dos parques de geração está no Nordeste. Além dos empregos diretos e da arrecadação local, ainda existe um outro grupo beneficiado: as famílias que arrendam suas terras para as usinas e recebem por vinte anos um aluguel pela concessão desse espaço. A ABEEólica estima que, até o momento, cerca de quatro mil famílias já foram beneficiadas. Que os bons ventos, de fato, tragam o desenvolvimento.

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