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Para aquecer o mercado

O ano de 2014 representou o início de uma virada no setor energético do Brasil. No dia 31 de outubro aconteceu o primeiro Leilão de Energia de Reserva (LER) voltado exclusivamente para a venda de energia solar fotovoltaica, realizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Com potencial sustentável, inesgotável e com menor índice de perda de energia na transmissão, a fotovoltaica pode ser uma solução para a crise energética, já que apresenta muitas vantagens econômicas para os consumidores. “Atualmente, as termelétricas atuam com o valor de R$ 800/ Wh e a energia elétrica fotovoltaica, além de ser mais barata, possui uma complementariedade com demais fontes renováveis de energia”, explica Rodrigo Lopes Sauaia, diretor-executivo da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar).

Na ocasião, foram oferecidos inéditos 1.048 MWh de capacidade de energia fotovoltaica e oito empresas arremataram 31 projetos para a indústria, que deverão estar em pleno funcionamento e gerando energia até meados de 2017.

De acordo com a Aneel, os investimentos feitos pelas empresas no LER serão da ordem de R$ 4 bilhões, sendo R$ 2,6 aplicados no Nordeste, onde será realizada a maior parte dos projetos (18), 14 deles apenas na Bahia, contemplando 400 MW – em média, uma usina que produz 30 MW é capaz de atender a uma cidade com cerca de 50 mil habitantes. O restante das plantas se dividiu entre São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Pernambuco e Rio Grande do Norte .

A energia fotovoltaica representa apenas 0,01% de tudo que é gerado atualmente no Brasil. As previsões da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) são de que apenas com a Geração Distribuída (que ocorre através dos consumidores) este número atinja o índice de 8,7% até 2050, o equivalente a 118 MW. O Bndes, um agente importante neste cenário, acredita que serão investidos R$ 6,6 bilhões no setor até 2018 – segundo dados divulgados no relatório Perspectivas do Investimento 2015-2018. Tanto a criação da Resolução Normativa nº 482/2012 da Aneel que regulamentou a micro e minigeração distribuídas, quanto o LER representam não apenas avanços do país nesta alternativa energética, mas também um leque de oportunidades para empresas ligadas direta e indiretamente ao setor, como as fabricantes de módulos fotovoltaicos e instaladoras dos sistemas, componentes que são, em maior parte, feitos em alumínio.

Alumínio

Luis Carlos Loureiro Filho, coordenador do Comitê de Mercado de Máquinas e Equipamentos da Abal, afirma que há possibilidade de o consumo do material pelo setor de energia solar ultrapassar 50 mil toneladas nos próximos dois anos, para atender aos projetos contratatos decorrentes desse primeiro leilão para esse tipo de energia.

O metal está na moldura que une as células e na estrutura utilizada para a fixação do sistema nos telhados. De acordo com Marcelus Araújo, presidente da Dya Energia Solar Tecnometal, o alumínio representa 15% do preço dos componentes do módulo fotovoltaico, que pode levar entre 2 kg e 3 kg do material, de acordo com o seu tamanho.

Seu uso está diretamente ligado com a garantia de 25 anos de vida útil, certificada pelos fabricantes e concretizada pela proteção das células com vidro, durabilidade, resistência à corrosão e intempéries que o alumínio possui. “O alumínio tem valor percebido pela sua leveza e boa condutibilidade térmica. Essas características tornam o metal mais competitivo para aplicações em equipamentos de armazenamento”, avalia Heber Otomar, gerente de desenvolvimento de mercado da Votorantim Metais-CBA.

Para Kevin Widlic, membro do Comitê de Sustentabilidade e Comunicação da Aluminum Association, o setor poderá ajudar no crescimento da indústria do alumínio por “exigir grandes volumes [do metal leve], gerar boa produtividade e inflar os processos de fabricação e anodização”. Apesar de as expectativas estarem altas, ainda é cedo para prever o real impacto que a evolução desta energia terá na indústria, mas os números brasileiros apontam para um futuro bastante próspero.

“Este é um mercado que está crescendo muito em função dos recentes leilões. Vai haver uma demanda extremamente grande que, ainda, não está acontecendo em sua plenitude”, pondera Marcus França, gerente de desenvolvimento de mercado da Sapa. A empresa de extrusão de alumínio possui expertise no segmento devido a trabalhos feitos na América do Norte e Europa.

Responsável por fornecer alumínio em forma de perfil extrudado e kits para a montagem da moldura, França garante que a Sapa está trabalhando hoje para atender a grande demanda que virá nos próximos anos.

Soluções

Há três anos no ramo de energia fotovoltaica, a Minasol atualmente fabrica 400 paineis por dia e consome, anualmente, 422 mil metros de perfil de alumínio, de acordo com Abdias Pontes, diretor comercial da empresa. Ele afirma que a projeção para 2015 é aumentar em oito vezes a produção atual.

Também atenta nos próximos anos está a Belmetal, que oferece a fachada Offset Wall, com painel fotovoltaico. O sistema é um frame completo em perfis de alumínio e confere isolamento termoacústico, estanqueidade e controle de ventilação.

Impulsionada pela crescente das tarifas energéticas, a empresa decidiu apostar na solução fotovoltaica. “O volume pode chegar de 10 a 12 kg/m² de alumínio em uma fachada convencional”, conta Ari Nonatto, gerente de engenharia e produtos da marca.

De acordo com Loureiro, da Abal, o alumínio terá presença marcante neste mercado, conforme ele se desenvolver no Brasil. Recentemente, o Bndes estabeleceu a exigência de que as empresas do setor fotovoltaico no país deverão ter conteúdo nacional entre os componentes comercializados para conseguir financiamentos.

“O caminho natural é começar pelo alumínio”, afirma Loureiro, e completa: “Se amanhã for necessário atender a demanda de 50 mil toneladas para o setor, isto irá acontecer sem dificuldades”.

Em uma breve avaliação do mercado, ele prevê: “Se hoje, embalagens e transportes são os melhores setores para o alumínio no Brasil, na próxima década pode ser que o crescimento da energia solar seja responsável pelo próximo ‘boom’ da nossa indústria”.

Enquanto europeus e chineses lideram os índices do setor fotovoltaico, as empresas brasileiras buscam referências e parcerias no exterior, já se preparando para o crescimento do mercado.

“Temos muito a fazer, mas é importante reconhecer que, enfim, a energia fotovoltaica começa a ganhar espaço na matriz elétrica brasileira”, afirma Catia Stoyan, gerente geral da SS Solar, que tem parceria com a norte-americana Solar World.

Os números ainda inexpressivos não intimidam as empresas nacionais, que confiam no futuro próximo. Como adianta Rodrigo Sauaia, da Absolar: “A situação é desafiadora, mas pode trazer muitos benefícios econômicos, como dinamizar economias locais que geram sua própria enegia”.

Incentivo

Atualmente, o mercado brasileiro importa mais do que produz módulos – e a intenção é que os próximos projetos desenvolvidos invistam na nacionalização dos componentes.

“A fabricação mundial que, antes, se concentrava em países desenvolvidos, foi transferida para a Ásia, o que significa queda de preço. E houve um grande ganho de escala, as fábricas pequenas cresceram porque a demanda aumentou, e com isso você tem ganho de produção e economia”, avalia Sauaia, da Absolar, que aponta uma queda de 80% no preço da energia solar fotovoltaica, em dez anos.

Um dos primeiros sinais da mudança para o mercado brasileiro é a inauguração da primeira fábrica de painéis solares fotovoltaicos do Brasil, nascida de um investimento da BYD, um grupo chinês que irá aportar R$ 150 milhões para a instalação de uma planta em Campinas, em São Paulo. A meta da nova empresa é produzir 400 MW de painéis solares por ano e chegar ao investimento de R$ 1 bilhão até 2017.

Para Catia Stoyan, da SS Solar, um dos fatores mais importantes para fomentar o uso desta energia no país é o incentivo governamental. “Eles ajudariam a criar a demanda necessária para acelerar o mercado e atrair indústrias, criando assim um ciclo virtuoso de desenvolvimento”, acredita.

Potencial

A European Photovoltaic Industry Association (Epia) estima que o mercado brasileiro possa chegar à adição anual de 500 MW antes de 2019 e o fato de muitos desenvolvedores euro europeus e mundiais terem participado dos leilões planejando investir no país vem a corroborar ainda mais com o cenário.

“Em países como o Brasil, a utilização da energia solar é viável até longe dos centros de produção energética. A utilização de painéis fotovoltaicos ajuda a diminuir a procura energética e, consequentemente, a perda de energia que ocorreria na transmissão”, afirma Ari Nonatto, da Belmetal. Em muitos locais, para mais de 50% das distribuidoras é mais barato gerar energia no próprio telhado do que consumir da distribuidora.

Alguns projetos já instalados no país mostram o potencial que a energia solar possui e quanto benefício pode gerar para a sociedade. Como a instalação feita pela Dya Solar para a Petrobrás, em uma monoboia de aquisição de dados, na Transpetro de Santa Catarina.

Como se tratam de “sistemas flutuantes”, as monoboias foram projetadas para operar por até 25 anos sem necessidade de reparos em terra. Por isso, a importância do sistema híbrido, composto por dois painéis solares de 800 W cada e duas turbinas eólicas de 400 W cada. Há também um estudo da Universidade Federal de Santa Catarina (Ufsc) que pretende instalar módulos fotovoltaicos no Aeroporto Internacional Hercílio Luz, em Florianópolis. Bastaria a cobrança de 25 centavos por passageiro que passasse pelo aeroporto, durante um ano, para cobrir os custos do investimento da usina solar. A estimativa é que aeroporto custe R$ 276 milhões e as instalações solares para uma capacidade energética de 1,2 MW, R$ 15 milhões – ou seja, apenas 5% do custo total da obra.

E mais: a iniciativa do Instituto Ideal, Telhados Solares, pretende aumentar a geração de energia fotovoltaica no país com a ajuda dos consumidores.

Futuro

“O anúncio de mais dois leilões exclusivos para este ano reforça a expectativa de que o Brasil finalmente conseguirá inserir a energia solar na sua matriz energética de forma significativa”, espera Marcelus Araújo, da Dya Energia Solar. Os leilões acontecerão em agosto e novembro. Recentemente, o Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) anunciou a isenção do Icms sobre a energia gerada através de Micro e Minigeração Distribuída, um marco histórico para o setor da energia solar no Brasil.

Mas até o momento apenas São Paulo, Goiás, Minas Gerais e Pernambuco aderiram ao convênio. Rodrigo Sauaia, da Absolar, se mostra confiante com os passos que o Brasil tem dado e define: “O que nós temos de energia solar fotovoltaica representa 0,01% do total de nossa capacidade atualmente. Sim, estamos atrasados, mas o Brasil está começando agora uma nova fase”.

Mais alumínio

Um dos principais elementos do sistema fotovoltaico é a célula solar, responsável pela geração de energia através dos raios solares. Feita de silício, ela recebe laminações (vidro) e tratamentos químicos e estruturais para formar o módulo solar de alta durabilidade. No momento da sua purificação são inseridos diversos elementos, entre eles um pó à base de alumínio altamente reativo.

Através da atomização do gás, o pó é transformado na pasta de hidreto de alumínio. A Aluminum Association afirma que o crescimento global da indústria fotovoltaica levará a um aumento da demanda por grandes quantidades de pó de alumínio de alta qualidade. Atualmente, o item é importado e a detentora do maior volume de exportação da célula é a empresa chinesa Trina que exportou mais de 1 GW em módulos, no terceiro trimestre de 2014.

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